Crítica | Garra de Ferro
Baseado na história real da família Von Erich, Garra de Ferro é daqueles dramas esportivos que funcionam mesmo se você não tiver familiaridade com o esporte retratado. Aqui trata-se da luta livre.
Lembro-me de quando era um pequeno leitão e ficava fascinado com as lutas que assistia no canal Manchete. Quando descobri que as lutas (e as tretas) eram encenadas meio que as coisas perderam a graça para mim e deixei de ver.
Dizer que é encenado não significa que tudo é falso e tranquilo. Acompanhamos todo o empenho dos membros da família Von Erich para treinar, ganhar músculos e fazer movimentos acrobáticos e perigosos nos ringues. Qualquer erro pode significar dor e sofrimento intensos.
A verdade é que o sofrimento maior dos meninos Von Erich vinha da pressão e do pragmatismo do pai. O patriarca nunca conquistou o título dos pesos pesados e ele colocou nas costas dos filhos
a responsabilidade de chegar lá. A garra do título representa o golpe característico da família, mas também a forma como o pai exige o máximo deles.
A história se passa entre o final dos anos 1970 e começo dos anos 1980, algo que é esteticamente trabalhado com maestria. A fotografia com jeitão de cinema independente, os figurinos precisos e a trilha sonora equilibrada são grandes acertos. Tudo colabora para passar aquela sensação de anos 1980 que para muitos vai soar nostálgico.
A primeira parte de Garra de Ferro é mais leve, divertida e cheia de energia. Vemos os von Erich puxando
ferro até a falha, lutas bem coreografadas e principalmente sentimos a camaradagem dos irmãos. Os quatro sempre procuravam estar juntos e se divertiam bastante. A cena em que eles comem hambúrguer no carro representa bem esse vinculo.
Outra bela sequência é aquela em que o irmão mais novo mostra que o seu talento de verdade está na música. Vê-lo obrigado a entrar nos ringues chega a cortar o coração. Não que ele se recusasse abertamente. Ele não queria decepcionar os outros e tentava honrar o seu sobrenome. Só que claramente ele não possuía as habilidades necessárias para a luta livre.
Kevin, o mais velho, é o personagem principal. A atuação magistral de Zac Efron é essencial para tornar o filme uma experiência grandiosa e cheia de nuances. Ele é aquele irmão mais velho que serve de apoio para as frustrações dos outros irmãos e sabe de suas responsabilidades. Sempre conversando e tentando acalmar os ânimos dos outros quando as coisas ficam mais intensas. Só que às vezes o fardo pode ser impossível de se carregar.
E quanto a maldição que a narração em off menciona no início? Bem, nada mais era do que o resultado de toda essa pressão do pai que por anos transferiu a sua obsessão aos filhos. Infelizmente, a mãe era totalmente submissa e apenas assiste apática tudo se deteriorar.
O diretor Sean Durkin opta por não mostrar certos acontecimentos de maneira gráfica e investe em elipses eficientes. Uma elegante escolha que não diminui o impacto de nada.
Seria cruel deixar o publico sair da sala de cinema sem uma mensagem positiva de todo esse drama pesadíssimo. Ainda bem que Sean Durkin percebeu isso e construiu uma cena final emotiva que arranca lágrimas mas também um sorriso.
Uma frase: “[Nosso pai] disse que se fossemos os mais durões, os mais fortes, nada poderia nos machucar. Eu acreditei nele. Todos acreditamos.”
Uma cena: O personagem de Zac Efron correndo de um lado para o outro no ringue se impulsionando nas cordas.
Uma curiosidade: Para interpretar Kevin Von Erich o ator Zac Efron ganhou 15 quilos de massa magra.
Garra de Ferro (The Iron Claw)
Direção: Sean Durkin
Roteiro: Sean Durkin
Elenco: Zac Efron, Jeremy Allen White, Holt McCallany, Maura Tierney, Lily James, Stanley Simons, Harris Dickinson
Gênero: Drama / Biografia / Esporte
Ano: 2023
Duração: 132 minutos
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