Crítica | Ficção Americana
O diretor e roteirista Cord Jefferson apresenta em “Ficção Americana” uma reflexão bastante instigante sobre o que se espera dos artistas negros. No filme ele apresenta o protagonista Monk, interpretado por Jeffrey Wright, que é um escritor e professor de literatura que sofre pressão do seu editor para que escreva um novo livro sobre negros. Isto é, as editoras esperam que um escritor negro escreva sobre temas clichês relacionados ao povo afro-americano. O personagem resolve escrever uma obra extremamente caricata como forma de protesto e de crítica a esse comportamento utilizando um pseudônimo. O que ele não esperava é que esse novo livro se tornasse um sucesso.
Através dessa premissa, Cord Jefferson faz um estudo de personagem fascinante em torno da figura de Monk. A convivência dele com a família é complicada, pois ele tem dificuldades em se relacionar com as pessoas. Por ser uma pessoa altamente intelectualizada, ele costuma julgar tudo de forma intransigente, demonstrando uma superioridade. Jeffrey Wright desenvolve o protagonista de maneira brilhante, mostrando o seu lado humano e sua multidimensionalidade. Após muitos trabalhos no cinema e na televisão como coadjuvante, em “ Ficção Americana” ele finalmente tem a chance de assumir o protagonismo, apresentando todo o seu talento e carisma como ator.
No desenrolar da trama o roteiro do próprio Cord Jefferson inclui outros temas, onde o mais interessante é a personagem Sintara Golden, interpretada por Issa Rae. Ela é uma escritora negra, assim como Monk. No entanto, ela lança um livro em que aborda os temas clichês que o protagonista abomina. Após o lançamento da obra que ele escreveu como piada, uma cena mostra a conversa dos dois sobre a diferença entre as publicações. Esse ponto é importante, pois o filme apresenta a reflexão não só de como os brancos enxergam e o que esperam de artistas negros, mas também a visão dos próprios escritores negros.
É difícil falar sobre “ Ficção Americana” sem entregar suas surpresas, então quando menos contar sobre a trama é melhor. O importante é citar que o longa-metragem de Cord Jefferson diverte com sua ironia e humor ácido, provocando reflexões muito boas no espectador. Tudo isso com grandes atuações e uma bela trilha sonora da compositora Laura Karpman, que mistura jazz com outros gêneros da música negra.
Uma frase: – Monk: “Quanto mais burro eu sou, mais rico eu fico.”
Uma cena: Quando Monk começa a escrever .
Uma curiosidade: Filme de estreia do diretor Cord Jefferson.
Ficção Americana (American Fiction)
Direção: Cord Jefferson
Roteiro: Cord Jefferson
Elenco: Jeffrey Wright, Tracee Ellis Ross, John Ortiz, Erika Alexander, Leslie Uggams, Adam Brody, Issa Rae e Sterling K. Brown
Gênero: Comédia, Drama
Ano: 2023
Duração: 117 minutos
gostei bastante desse filme também