Crítica | Men – Faces do Medo

Crítica | Men – Faces do Medo

É possível definir em apenas uma frase do que se trata “Men – Faces do Medo”, novo filme de Alex Garland, que seria: homem é uma desgraça.

Men – Faces do Medo” conta a história de Harper, interpretada por Jessie Buckley, uma mulher que sofre pelo sentimento de culpa pela morte do ex-marido. Logo na cena inicial a vemos em um quarto com luz vermelha e através da janela da varanda vemos o corpo do homem caindo. A cor já deixa claro para o espectador o julgamento em cima da protagonista.

Ela decide passar um tempo sozinha isolada em uma casa no interior da Inglaterra, contudo a sensação de culpabilidade não se cessa. Afinal de contas ela é uma mulher e constantemente as mulheres são julgadas pela sociedade por seus comportamentos. No entanto, o que ela passa a sentir durante seu isolamento é a constante ameaça da presença masculina.

Alex Garland quer extrair do espectador uma reação ao que vê na tela, assim em “Men – Faces do Medo” ele abusa de simbolismos, sendo alguns sutis e outros totalmente escancarados.

Um exemplo da sutileza é quando Harper chega à casa no interior e na residência tem uma árvore com frutos. Ela decide pegar uma fruta e Geoffrey, dono do local, faz uma piada de que seria proibido pegá-la, numa clara referência à história de Eva. O que não falta na obra de Garland são alusões aos dogmas do cristianismo, afinal de contas o sentimento de culpa é bastante explorado pela religião.

O cristianismo também aparece forte na trilha sonora de Ben Salisbury e Geoff Barrow, que explora bem corais que lembram cantos Gregorianos. Os músicos também usam de maneira inteligente o eco da voz de Harper, captado numa cena em que ela brinca com os ecos de sua própria voz dentro de um túnel. Essas músicas contribuem muito bem para a construção do tom da narrativa, onde o sentimento de culpa da protagonista é “exaltado” pelos cantos, e também para o clima de mistério e tensão da história.

Já em relação aos simbolismos claros, o diretor usa o artifício de escalar o ator Rory Kinnear para todos os papéis masculinos do longa, com exceção do ex-marido de Harper, interpretado por Paapa Essiedu. Dessa forma o cineasta deixa clara a ameaça masculina e que não importa que sejam pessoas diferentes, o sentimento será o mesmo para a protagonista. E para a protagonista o questionamento sobre essa “ameaça” é sempre o mesmo, qual seria a motivação.

Em 2022 ainda vivemos em uma sociedade machista em que a mulher é constantemente julgada, onde o patriarcado ainda exerce muita força e as mulheres seguem em luta pela igualdade. Então ao colocar todos os homens representados pelo mesmo ator, Alex Garland explora a natureza humana dos homens. Seriam todos eles iguais? De certa forma, sim.

Em “Men – Faces do Medo” o diretor Alex Garland constrói uma grande alegoria sobre o tema, explorando o sentimento de culpa de Harper. O cineasta confronta bem o público com seus simbolismos em busca de uma reflexão acerca do tema. O filme funciona muito bem principalmente graças a dois motivos.

O primeiro motivo é a parte técnica, onde a fotografia explora bem a claustrofobia de ambientes fechados, onde em muitos momentos temos uma câmera que observa a protagonista de longe, para dar ao espectador a sensação de estar espionando-a, ou de que ela está sendo observada por alguém (os homens). O uso das cores, especialmente o vermelho, ressalta os sentimentos de culpa, de julgamento e principalmente de ameaça e perigo.

O outro motivo são as atuações, tanto de Jessie Buckley quanto de Rory Kinnear. Buckley está muito bem, como sempre, e em “Men – Faces do Medo” ela tem uma performance mais física, onde seu corpo e expressões mudam constantemente de “tranquilidade” para medo e apreensão. Já Kinnear tem a tarefa de encarnar homens diferentes, mas que apresentam tipos de ameaça diferentes, que têm em comum o fato de serem masculinas.

Men – Faces do Medo” é um filme provocativo, que não entrega respostas fáceis e que espera alguma reação da audiência. Talvez o seu principal problema fique em torno da sua mensagem final um pouco conformista, mas ainda assim é uma reflexão importante sobre um tema que infelizmente ainda é bastante atual.


Uma frase: – Harper: “O que você está fazendo aqui?”

Uma cena: O passeio de Harper pela floresta quando ela encontra um túnel.

Uma curiosidade: O filme tem uma sequência de 17 minutos (quase 20% do total do tempo de duração) onde não acontece diálogos, exceto Harper murmurando suavemente a palavra com F (fuck) para si mesma em duas ocasiões distintas.


Men – Faces do Medo (Men)

Direção: Alex Garland
Roteiro: Alex Garland
Elenco: Jessie Buckley, Rory Kinnear, Paapa Essiedu, Gayle Rankin, Sarah Twomey e Sonoya Mizuno
Gênero: Drama, Fantasia, Terror
Ano: 2022
Duração: 100 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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