Crítica | Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial
Richard Linklater é um diretor que se destacou ao longo dos anos principalmente por investir em ideias que fogem do óbvio. A trilogia Before e Boyhood são exemplos de como tramas simples podem ser contadas com originalidade e sensibilidade. Ele também ficou marcado pelo uso da técnica da rotoscopia nos filmes O Homem Duplo e Waking Life e agora neste lançamento da Netflix Apollo 10 e Meio.
A rotoscopia é uma técnica de animação na qual os atores são filmados normalmente e na sequência o desenho é feito a partir dessa captura. O resultado é algo mais realista e fluido do que a animação 2D tradicional. Apollo 10 e Meio se beneficia dessa técnica para contar uma história que preza pela nostalgia.
Stan é um garoto vivendo nos Estados Unidos no final dos anos 1960, época em que a obsessão do país era vencer a corrida espacial. Eis que Stan recebe um inusitado convite da NASA para fazer parte da preparação que em breve iria colocar o homem na lua. Aparentemente, essa fantasia infantil seria a trama principal de Apollo 10 e Meio, mas uma narração em off nos chama para conhecer como era a vida de uma criança de classe média no Texas entre 1968 e 1969 e é aí que mora a beleza do filme.
A voz de Jack Black nos embala em uma experiência nostálgica sobre o que era crescer nesse contexto. Acompanhamos inúmeros momentos da vida de Stan e sua grande família, desde situações triviais como outras mais marcantes. E tendo como pano de fundo a chegada do homem a lua.
A primeira parte do filme é tão envolvente que não cheguei a sentir o tempo passar. Talvez funcione melhor para quem já esteja na casa dos 50 anos, mas quem cresceu nos 1980 pode também olhar com saudades certas coisas que são abordadas e embarcar com gosto na experiência.
Stan e seus irmãos tinham bastante coisas para fazer: andar de bicicleta pelas ruas do subúrbio, jogar baseball e futebol americano, colecionar figurinhas, passar o dia na praia ou na piscina inventando pulos ousados no trampolim, ir na casa dos avós e observar suas manias peculiares, ir até o parque de diversões que era tipo uma Disney sem grife (e sem tantos brinquedos), assistir filmes no cinema e, claro, ver televisão.
A importância da televisão para Stan e sua família é ressaltada em diversos momentos. Era uma forma de todos ficarem juntos e se divertirem. Às vezes havia uma disputa física para decidir qual canal assistir, afinal eles eram em 7 irmãos. Faz parte.
Vemos também toda a bagagem cultural que ele criou ao longo dos anos em termos de música, filmes e séries de TV. E dessa forma nos lembramos de coisas que nossos pais já comentaram de ter assistido na época deles.
Esses fragmentos do passado mostram tudo o que ajudou a moldar o caráter de Stan. Observar isso trouxe memórias saudosas da minha infância, mesmo sendo épocas diferentes. O tempo passa e às vezes ficamos imaginando se de fato aproveitamos o que nos foi oferecido. Será que Stan sabia que estava vivendo talvez uma das melhores épocas de sua vida?
Apollo 10 e Meio conseguiu mexer comigo nessa metade inicial. Com a narração de Jack Black e a rotoscopia, tudo fica mais imersivo, divertido e encantador. Ainda que esses recortes não formem um enredo com começo, meio e fim, acredito que passar mais tempo com essas experiências seria melhor do que investir na parte fantasiosa do filme. Infelizmente, a trama perde força na meia hora final, mas o que veio antes é mais do que suficiente para deixar os saudosistas de plantão satisfeitos.
Uma frase: “Acidentalmente construímos o modulo lunar muito pequeno. Mas não vamos deixar que isso nos atrase.”
Uma cena: O homem chegando a lua e Stan dormindo no sofá.
Uma curiosidade: Judith Love Cohen, a mãe de Jack Black, é uma engenheira que participou no desenvolvimento de um sistema que ajudou a Apollo 13 voltar a Terra
Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial (Apollo 10 1/2: A Space Age Adventure)
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater
Elenco: Milo Coy, Jack Black, Lee Eddy
Gênero: Animação, Aventura, Drama
Ano: 2022
Duração: 97 minutos
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