A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Thor Coaxa!
Seja bem vindo à coluna A Nostalgia era Melhor Antigamente, na qual eu covardemente analiso histórias que foram escritas em outro contexto e aponto incongruências inaceitáveis em gibis sobre deuses nórdicos transformados em anfíbios anuros.
No episódio de hoje, aprenderemos que os sapos de Nova Iorque têm uma impressionante organização política, descobriremos que deuses nórdicos têm memória curta e veremos que Thor considera que todas as vidas são preciosas porém depende.
Thor Coaxa!
Argumento e arte: Walter Simonson
Publicado no Brasil em Superaventuras Marvel 102 e 103, Editora Abril
Nossa história começa com Thor, o deus do trovão, transformado em um sapo.
Ok, talvez um pouco de contextualização seja necessário: Loki, o deus da mentira, quer aproveitar o desaparecimento do soberano Odin e tomar para si o trono do reino de Asgard, mas para isso precisa afastar seu meio-irmão Thor da linha sucessória. A forma mais prática de fazer isso, obviamente, é transformá-lo em sapo.
Em outras palavras, apenas mais uma quarta-feira no mundo da política.
Pois muito bem, Thor é transformado em sapo dentro de um beco deserto na cidade de Nova Iorque e por algum motivo decide que a coisa mais inteligente a fazer é abandonar seu martelo Mjölnir e sua carruagem mágica puxada por bodes inteligentes e correr o risco de ser pisoteado enquanto atravessa a cidade em direção à mansão dos Vingadores.
O plano é muito simples: nosso herói pretende entrar na mansão, derrubar um pote de açúcar e usar o pó espalhado para escrever uma mensagem de socorro no chão.
Seu estratagema, no entanto, é interrompido pela chegada do garoto Franklin Richards e Jarvis, o mordomo dos Vingadores, que cioso das suas funções, audaciosamente decide enxotar o anuro a vassouradas, afinal “não há como garantir que não seja um inimigo disfarçado de sapo”.
Lamentavelmente, as poderosas vassouradas tornam ilegível a mensagem açucarada, e quando Franklin Richards aponta que havia algo escrito ali, Jarvis prontamente atribui isso à fértil imaginação da criança. Veja bem: para ele, o anfíbio ser um vilão disfarçado como parte de um plano diabólico contra os Vingadores é uma teoria perfeitamente factível, mas um sapo alfabetizado só pode ser loucura de uma mente infantil.
De volta à rua, Thor é simultaneamente atacado por um rato e acometido de uma crise de amnésia, pois demora um tempo considerável até se lembrar que é um deus nórdico e perceber que um gigantesco anfíbio superforte não está exatamente indefeso perante um mero roedor. A surra que se segue é presenciada por outro sapo, que atende pelo singelo nome de Pocinha.
Pocinha informa Thor que sapos e ratos estão em guerra e na sequência já manda um “jovem, você que fez dezoito anos, aliste-se”, mas o deus do trovão sente o cheiro do esparro e tira logo o rabo da reta, até porque sapo adulto não tem rabo.
A desculpa de Thor acaba não colando, porque o rato surrado retornou com reforços e a dupla de sapos precisa fugir para o reservatório do Central Park, onde acabam se deparando com mais problemas: Pocinha vê que os ratos estão atacando o rei da comunidade dos sapos, que por sinal têm uma notável organização política para meros anfíbios, e corre (pula) para defender seu soberano.
Graças à ajuda de Thor, os ratos são afugentados, mas tarde demais: o Rei Coaxador (sério) foi mortalmente ferido e, em seu leito de morte, usa seus últimos segundos de vida para constranger Thor a embarcar em uma guerra que não tem nada a ver com ele.
Como se não bastasse, mesmo sem saber nada sobre a competência, caráter ou convicções políticas de Thor, o Rei Coaxador (sério mesmo) oferece o reino e até a própria filha, caso o sapo que ele conheceu há poucos segundos prometa lutar contra os ratos.
Pocinha então leva Thor ao reservatório, onde estão a princesa e os demais habitantes do reino, que são então informados da morte do seu soberano. Ao saber que em seu último suspiro o rei pediu que seus súditos fizessem de tudo para convencer Thor a entrar na guerra, um dos sapos reage com desconfiança e, tal qual Jarvis, aponta que ele pode muito bem ser um inimigo disfarçado.
Nesse momento chegam notícias sobre os planos dos ratos, que, usando táticas de guerrilha, pretendem envenenar a água do reservatório do Central Park. Após ponderar que essa ação pode prejudicar não apenas os sapos, mas também os humanos, Thor decide entrar na guerra, afinal todas as vidas importam.
Segundos depois de dizer que todas as vidas são preciosas, Thor traça seu plano: ele vai matar alguns ratos e usá-los como isca para atrair jacarés que vivem no esgoto de Nova Iorque.
Enquanto isso, na superfície, um grupo de ratos carregando um saco de veneno que não me parece nem um pouco suficiente para envenenar um reservatório com 3.800.000 m³ de água é atacado de surpresa pelo exército de Pocinha, o sapo cujo nome é intimidador o suficiente para incutir terror no coração de seus inimigos.
Mas o ataque de Pocinha é apenas um subterfúgio, uma distração para que os ratos não percebam o verdadeiro perigo: os jacarés trazidos por Thor para devorá-los vivos.
Também não fica claro quais medidas Thor tomou para que os jacarés se contentassem em comer apenas os ratos e não partissem para cima dos sapos ou mesmo de seres humanos. Se bem que o risco não deve ser tão grande assim, não é como se o Central Park fosse um dos parques mais visitados do mundo, recebendo cerca de 42 milhões de pessoas por ano — sim, eu fui pesquisar, me deixe.
Finalizado o raticídio, Thor se despede dos amigos anfíbios e retorna ao beco onde se deu a sua transformação em sapo. Lá o deus do trovão reencontra Gnasher e Grinder, seus bodes mágicos falantes, que lhe sugerem tentar erguer o martelo para recuperar os poderes, coisa que ele não fez porque esqueceu.
Vou repetir para os mais desatentos: o deus do trovão ESQUECEU que o martelo que ele carrega todos os dias para cima e para baixo dá poderes a quem o segura.
Problema resolvido então, basta erguer o martelo e tudo voltará ao normal, ele recuperará a forma de deus do trovão e não precisará mais se preocupar em matar ratos ou ficar comendo mosca por aí. Tudo certo, não é?
Ok, chega de quadrinhos por hoje.
MAIS UM BELO TEXTO “DE LIONEL”
OU DE ALGUÉM QUE ELE KIBOU
VAI PROCURAR UM JEGUE VIÚVO, @ULTRABADERNISTA
(agradeço o prestígio, volte sempre)
É, talvez se ele tivesse virado Rathor antes não precisaria da ajuda dos jacarés pra derrotar o terrível exercito dos ratos.