Resenha de Livro | Estranha Bahia
Publicada originalmente em 2016 e finalista do Prêmio Argos (2017), Estranha Bahia é uma coletânea de contos de terror, fantasia e ficção científica ambientados no estado baiano. Com inspiração nas Revistas Pulp, as histórias trazem abordagens e visões bastante variadas sobre a “Terra da Magia” e os gêneros das noveletas, que vão desde o suspense, terror, até a aventura e comédia. Trata-se de um obra indicada para aqueles que querem fugir dos clichês e estereótipos literários e culturais que a Bahia possui.
Organizada pelos editores Ricardo Santos (que também escreve o conto de abertura) e Alec Silva, a coletânea ganhou uma segunda edição com nova revisão geral e que teve todos os contos revistos pelos autores. A versão que li foi a digital disponível na Amazon, mas existe uma versão impressa (com capa de Nanuka Andrade) muito bonita e bem acabada e que deve entregar uma experiência ainda melhor de leitura.
Uma Bahia não tão estranha
A ideia da coletânea é excelente e a edição é bastante caprichada. Em termos de literatura, quando se pensa em ficção especulativa é comum ter em mente grandes obras anglófonas. Ver produções nacionais, contemporâneas, ganhando espaço no mundo literário é muito recompensador. Mais significativo ainda quando são produções de regiões que nem sempre ganham o devido destaque e espaço nacionalmente.
Falar de uma coletânea de contos é sempre uma tarefa complicada, uma vez que são histórias e visões diferentes, escritas por pessoas de variados repertórios. Gosto de pensar que é sempre muito enriquecedor poder conhecer diferentes autores e ler diferentes tipos de histórias. Para aqueles que amam se aventurar em livros assim, Estranha Bahia é uma ótima pedida.
As noveletas são todas muito bem escritas e possuem uma leitura muito fluida, inclusive uma que é escrita por um autor de Portugal. Algumas histórias funcionam melhor que outras no sentido de captar o estilo ‘baiano’ de ser e de apresentar nossos costumes, formas de falar e de se expressar sem aquela visão “turística” ou, pior, romantizada em novelas e produções do eixo sudestino.
Existem uns dois contos que poderiam se passar em qualquer lugar e apenas utilizam localidades baianas como ornamentação. Ainda que bem escritos e divertidos, não se atém ao que se espera numa produção com uma proposta de mostrar o que é que a Bahia tem além de vatapá e acarajé. De qualquer sorte, eles funcionam dentro de seus gêneros e valem a pena ainda que não estejam entre as melhores histórias.
Destaques
Como destaques eu trago as histórias escritas por Isabelle Neves (Canudos XXI) – que foge um pouco de se pensar a Bahia como sendo apenas Salvador – e, sem sombra de dúvidas, a melhor de todas que é a escrita por Cristiane Schwinden. É a penúltima da coletânea e se chama “Em Busca da Disgraça da Pedra Azul”. A autora, que é catarinense e mora na Bahia desde 2007, captou, como poucas, a nossa forma de falar e se expressar. De quebra criou uma daquelas jornadas do “escolhido” utilizando muito bem gírias e curiosidades de Salvador que só quem viveu na capital baiana consegue entender e captar.
Vale a pena?
Para todos aqueles que querem fugir dos clichês literários e que estão interessados em histórias nacionais mais contemporâneas, a coletânea Estranha Bahia é uma ótima pedida. E para todos os que gostam de livros de ficção especulativa (fantasia, ficção científica, suspense, terror) vale muito a pena conhecer não apenas histórias de outros lugares, mas também outros autores e, principalmente, visões diferenciadas sobre temas que, volta e meia, acabam caindo no lugar comum.
Estranha Bahia
Autores: Ricardo Santos, Isabelle Neves, Evelyn Postali, Tarcísio J. da Silva, Alexandre Cthulhu, Cristiane Schwinden e Rochett Tavares.
Edição: Ricardo Santos e Alec Silva
Ilustração: Nanuka Andrade.
ISBN: B01D4ZCMCQ
Ano: 2019 / Páginas: 196
Idioma: Português
Editora: EX! Editora