Tudo que você precisa saber sobre os documentários que concorrem com o Brasil no Oscar 2020
Democracia em Vertigem, da cineasta brasileira Petra Costa, concorre com outras quatro produções na categoria Documentário no Oscar de 2020. E o que chama bastante atenção nessa disputa pela estatueta é a diversidade das nacionalidades dos filmes indicados nesta edição da premiação: Brasil, Estados Unidos, Macedônia, Síria e Reino Unido. Para te ajudar a entender as principais diferenças entre eles, selecionei algumas informações fundamentais:
Indústria Americana
É uma produção norteamericana da Netflix em parceria com a Higher Ground, produtora do casal Barack e Michelle Obama. O filme que se sustenta numa narrativa tradicional de documentário conta o que aconteceu quando uma empresa chinesa assumiu o controle de uma fábrica abandonada da General Motors.
No documentário – que acompanha os impactos do acontecimento na vida dos trabalhadores locais – são expostos os problemas da precarização da mão-de-obra e do conflito cultural entre o modelo de produção americana e chinesa. Além disso, o longa propõe uma reflexão realista sobre o futuro do trabalho no contexto da revolução 4.0.
Indústria Americana é dirigido por Steven Bognar e Julia Reichert. Já recebeu prêmio de melhor direção de documentário no Directors Guild of America e de melhor filme documentário pelo Los Angeles Film Critics Association e pelo Gotham Independent Film Award.
Honeyland
A produção da Macedônia está entre as favoritas do Oscar de Documentário por ter alcançado um feito histórico e inédito ao também ser indicada na categoria de Filme Internacional. O estilo documental do filme é aquele em que a câmera não interfere nos personagens e nos cenários. Apesar disso, a montagem da narrativa é tão real que parece ficção.
O longa acompanha a pacata vida de uma apicultora que mora nas montanhas áridas do interior da Macedônia do Norte. Hatidze Muratova se divide entre os cuidados com a mãe idosa, os animais de estimação e as abelhas para a produção do mel que é o único sustento da família. A tranquilidade da moradora e também do ecossistema do local é abalada pela presença de uma família nômade que monta acampamento na vizinhança.
Através do carisma e sensibilidade de uma personagem real, o filme levanta a discussão sobre a fragilidade do equilíbrio do ecossistema, a ganância da humanidade e a luta por sobrevivência. Dirigido por Ljubomir Stefanov e Tamara Kotevska, o documentário foi filmado durante três anos de idas e vindas ao vilarejo da apicultora Hatidze Muratova. Ao todo, os cineastas acumularam 400 horas de material para a produção.
No Festival de Sundance de 2019, recebeu três prêmios: documentário, fotografia e uma categoria especial, chamada “impacto por mudança”. Ganhou ainda como Melhor Filme de Não Ficção/Melhor Documentário no National Society of Film Critics Awards, no New York Film Critics Circle Awards e recebeu a premiação de 2019 do American Society of Cinematographers Documentary Award.
The Cave
Num hospital improvisado dentro de uma caverna subterrânea, médicas e médicos sírios tentam garantir a sobrevivência de vítimas dos intensos bombardeios realizados na cidade de Guta, na Síria. O documentário exibe uma face dolorosa e realista do conflito, expondo o dilema das equipes médicas isoladas e sem suprimentos. A protagonista da história é a jovem pediatra Amani Ballour, que assume a direção do hospital num país em que é inadmissível uma mulher em posição de poder.
As imagens da cidade destruída, dos ataques ao hospital, do desespero das famílias, a chegada incessante de feridos – entre eles, muitas crianças – fazem com que o documentário pareça uma transmissão ao vivo da guerra na Síria. A estética e a edição criam um constante estado de alerta no espectador. As cenas exibem personagens reais, sem narração ou entrevistas.
O diretor sírio Feras Fayyad, que já foi torturado pelo governo de Bashar al-Assad, deixa claro no documentário o seu intuito de conscientizar o mundo sobre os horrores da guerra e seu clamor por justiça. Durante as filmagens, três câmeras captaram cerca de 500 horas de material e, nesse período, quatro membros da equipe perderam a vida. O cineasta também se arriscou contrabandeando o material pela fronteira da Turquia, até chegar à Europa, onde foi realizada a pós-produção do longa com apoio do canal Nat Geo.
For Sama
Outra produção que aborda a guerra na Síria, desta vez, pelo olhar intimista da jovem jornalista Waad al Nateab, mãe de Sama, para quem ela dedica o documentário – que foi realizado em parceria com o Estados Unidos e com o Reino Unido. Nateab narra a ascensão do regime de Bashar al-Assad, em 2011, quando ela ainda estava na faculdade. Depois, o filme acompanha os acontecimentos de sua vida pessoal em meio ao contexto do conflito e do longo cerco à capital Aleppo nos idos de 2016 e 2017.
Pelo olhar de Waad al Nateab, o espectador tem a dimensão de como é a vida de pessoas comuns que tentam sobreviver em meio aos caos, à escassez e ao medo constante da morte. Um dos diferenciais é que filme se lança sobre a ousada perspectiva da maternidade no cenário de guerra. O documentário é uma grande carta de amor à Sama e também um sensível e atormentador pedido de socorro para todas as crianças que vivem os horrores e os traumas do conflito sírio.
O filme ganhou o BAFTA de Melhor Documentário e o Prêmio do Cinema Europeu. Além disso, faturou quatro importantes categorias do British Independent Film Award: Melhor Filme Britânico Independente, Melhor Diretor, Melhor Edição e Melhor Documentário.
Estou naquela correria final pra ver os últimos filmes que vão concorrer ao Oscar, excelente post. Vou focar em assistir Honeyland e For Sama que parecem serem os favoritos mesmo
Provavelmente, “For Sama” é o favorito a vencer logo mais, porém, se tivermos surpresa nessa categoria, acho que existem boas chances de “Democracia em Vertigem” vencer.