Review | Black Mirror – 5ª temporada
Black Mirror – um dos produtos de maior sucesso da Netflix – chega a sua quinta temporada com uma evidente perda de fôlego. A criatividade e a capacidade de surpreender o público com narrativas questionadoras sobre o uso da tecnologia, que sempre foram a assinatura da série, desta vez, são exatamente os elementos que faltam aos três novos episódios. As histórias não empolgam como esperado e parecem reproduzir conceitos e recursos já apresentados em temporadas anteriores.
À exceção de “Striking Vipers”, os demais episódios – “Smithereens” e “Rachel, Jack and Ashley Too” – denunciam a dificuldade encontrada por Charlie Brooker, o escritor da série, em produzir roteiros que perpassam temáticas atuais e projetam problemas do futuro, com aquele amargor clássico das distopias ficcionais. O primeiro episódio é o único dessa nova leva que é capaz de provocar sentimentos conflitantes e explodir a cabeça do espectador, ainda assim, não no mesmo nível das produções passadas.
É lamentável que uma série com premissa tão instigante e inventiva agonize pelo excesso de temporadas. Ao tentar atender às necessidades do público consumidor, Black Mirror ironicamente esgota sua vivacidade, assim como acontece com a maior parte dos personagens das suas próprias histórias quando em contato com a tecnologia. Talvez o maior questionamento proposto por essa temporada seja este: que futuro será possível para um produto seriado ficcional que vive, basicamente, das pautas sociais do futuro?
Avaliação dos episódios
Dos três episódios, “Striking Vipers” se sobressai por alcançar um debate à altura da expressão “isso é muito Black Mirror”, cunhada por fãs brasileiros ao se referirem a situações completamente fora do comum e/ou aterrorizantes para a realidade humana. A história, que teve cenas filmadas em São Paulo, aborda questionamentos prováveis de serem experimentados por usuários de videogames de realidade virtual, como o exercício do desejo, da sexualidade e do envolvimento amoroso num ambiente completamente diferente e protegido do mundo real.
O segundo episódio intitulado “Smithereens” é mais centrado na ação e na tensão provocada pela atuação dos personagens. O roteiro discute – até por meio de metáforas – temas como empatia, culpa, depressão e a decadência das relações sociais reais pelo excesso de “conectividade” com as redes de relacionamento virtual – tema que não é novo. Na história, um motorista de aplicativo de transporte sequestra o estagiário de uma grande e famosa rede social. O mistério da narrativa envolve as motivações do criminoso e sua tentativa de se comunicar diretamente com o bilionário criador do site.
Já o último episódio da temporada, “Rachel, Jack and Ashley Too”, é o mais fraco dos três. Infelizmente, é o único dirigido por mulher e com protagonistas femininas. Uma delas é a cantora Miley Cyrus, cuja história parece autobiográfica e propõe debates ultrapassados sobre os conhecidos abusos do showbiz. A trama segue a vida de uma estrela adolescente da música pop, Ashley O, que é controlada e manipulada por sua empresária. O lançamento de uma boneca robótica inteligente da celebridade vira febre entre as fãs e acaba por mudar a rotina de uma garota tímida e traumatizada pela morte da mãe. A partir desse encontro, o desenrolar da narrativa ultrapassa os limites da suspensão de descrença e se transforma em uma aventura juvenil típica dos filmes de “Sessão da Tarde”.
Ramon vendo Bianca escrever essa crítica trilhada no amargor
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Concordo que os episódios são menos impactantes que os melhores da série, entretanto, tenho que discordar de algumas coisas. Não achei o segundo episódio fraco e, para mim, é o melhor dessa 5º temporada por justamente mostrar que nosso mundo atual já é muito black mirror.
O episódio 3 eu achei bem divertido e que bom que tenha terminado com o astral lá em cima com direito a punk festivo, gostei mesmo.
O primeiro episódio a ideia é muito boa mas acho que ele se estende um pouco, dava pra cortar uns 15 minutos sem problemas.