Crítica | A Mula (The Mule)
Clint Eastwood não é o ator mais versátil, mas sabe cativar o público como poucos. O veterano de muitas guerras voltou a interpretar em mais um filme daqueles que a audiência americana adora: Um homem branco vivendo à moda antiga, como se nada no mundo realmente tivesse mudado, mas com alguns valores ainda para ensinar a essa geração que pensa saber de tudo.
A Mula é um “filme de estrada”. É daquele que te diverte mesmo sabendo que a tragédia vai acontecer em algum momento e, como um bom filme do gênero, tem uma boa história acompanhada de boas músicas (afinal, uma boa viagem precisa de boa trilha sonora).
A história de A Mula é baseada na vida de um homem que foi apanhado com 104 kg de cocaína no fundo do seu automóvel. O autor do crime tinha por volta de oitenta e poucos anos e aceitou o serviço inicialmente para saldar dívidas. É como unir o útil ao agradável, já que o que ele mais gostava (além de plantar flores) era dirigir para ganhar a vida.
O personagem principal é aquele tipo de pessoa que é adorado por todos, aquela celebridade do bairro, a alma da festa. Mas dentro de casa é o pai ausente, o marido falho, que só se preocupou em ser provedor e não em ser companheiro.
É interessante ver esse filme analisando o contexto que vivemos e não costumamos refletir: O que levaria seu avô a transportar drogas?
Não é uma situação simples quando paramos para pensar que um homem que viveu sob uma ética de trabalho para sustentar a família, onde o trabalho estava acima de tudo desde que nada faltasse em sua casa, se submetesse a ter um dinheiro fácil. A questão aqui é muito fácil de enxergar: O homem trabalhou a vida inteira e no fim dela não tinha dinheiro para se manter só.
Entretanto, o filme não foca nessa discussão abertamente (para sua sorte, já que meu discurso já estava aborrecido) e traz uma história com toques de românticos, além de um cinismo que qualquer neto conhece. Clint Eastwood consegue gerar um humor em cima dos absurdos ditos por alguém que já viver o bastante para tentar labutar com os filtros que são necessários nos dias de hoje.
É o tipo de situação em que alguns tentam defender o caráter do outro dizendo: Ele é legal, mas vacila. Por fim, não chega a ser ofensivo.
Sabe o que eu acho?
Um filme de um velho homem branco e veterano de guerra trabalhando para o cartel mexicano é algo que merece ser assistido, mas não é algo que vá fazer falta se você é do tipo que se compromete a assistir filmes neo realistas como Cafarnaum e Roma. Ele não tem lição de moral, a preocupação é entreter. Porém, também não é algo dispensável e para mim é uma obra surpreendente.
Uma frase: “Pelo menos agora sabemos por onde você anda!”
Uma cena: Festa na piscina
Curiosidades: O filme foi inspirado na história de Leo Sharp, um veterano da 2ª Guerra Mundial com seus 80 anos que se tornou o mais velho e prolífico “mula de droga” para o Cartel Sinaloa.
A Mula (The Mule)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Nick Schenk
Elenco: Clint Eastwood, Bradley Cooper, Laurence Fishburne, Michael Peña, Dianne Wiest e Andy García
Gênero: Crime, Drama, Thriller
Ano: 2018
Duração: 116 minutos
Clint Eastwood é Clint Eastwood. Sinônimo de qualidade no cinema. Não conferi “A Mula” ainda, mas não quero perder a oportunidade.
Fui muito surpreendido ao assistir. Imaginava um faroeste típico do Eastwood e acabei vendo algo muito mais profundo, mais sério e significativo. Uma pequena redenção familiar ao final, uma frase poderosa: “Consegui muito dinheiro, mas não consegui comprar o tempo que perdi!” (ou algo assim). Reflexivo com certeza!