Crítica | A Esposa (The Wife)
Baseado na obra literária homônima, da escritora Meg Wolitzer, A Esposa é um intenso drama sobre empoderamento feminino. A protagonista dessa história é Joan Castleman (Gleen Close), que é casada com o famoso escritor Joe Castleman (Jonathan Pryce), o qual está prestes a alcançar o auge do reconhecimento na carreira com a conquista do Nobel de Literatura. No final dos anos 90, durante a viagem do casal à Estocolmo, para participar da premiação, Joan começa a questionar suas escolhas pessoais do passado e a permanência num falido casamento de mais de 30 anos.
Antes mesmo de adentrar na personalidade de Joan, a esposa, o filme estabelece para o espectador os principais traços definidores do marido escritor. Joe Castleman é narcisista, egoísta e um incorrigível sedutor, mesmo com a avançada idade. O excesso de demonstrações públicas e privadas de zelo, afeto e amor pela esposa se alternam no intuito de encobrir ou compensar sentimentalmente os rompantes de insegurança, frustração, inveja e raiva. Considerado pela crítica o mais genial escritor do século 20, Joe está inebriado pela fama, crente de seu mérito após uma vida inteira dedicada à literatura.
Focada em Joan, a câmera do longa revela ao espectador as reações espontâneas de uma esposa incomodada com a fama do marido e em conflito consigo mesma, em razão dos anos de submissão, abnegação e silenciamento. Em flashbacks, a mulher relembra como conheceu Joe, que era seu professor na faculdade de literatura. Joan revive, em sua memória, a paixão e o amor que a fez abandonar uma promissora carreira de escritora para ajudar a alavancar a profissão do esposo. O casamento rendeu ao casal dois filhos: Susannah Castleman (Alix Wilton Regan) e David Castleman (Max Irons).
David é o filho mais novo que também persegue o sonho de ser escritor e, para isso, busca aprovação de Joe. Na viagem à Estocolmo, o caçula vai testemunhar a rápida decadência do relacionamento dos pais como consequência de um flagrante processo de catarse da mãe. Nessa trama, outro personagem é fundamental: Nathaniel Bone (Christian Slater), um escritor oportunista que investiga o passado do casal para apimentar uma futura biografia não-autorizada de Joe Castleman. As descobertas feitas por Nathaniel são os principais catalisadores do inevitável, porém surpreendente, desfecho da narrativa.
Com a primorosa atuação de Gleen Close, Joan revela o que há de mais sensível, poderoso e sofrido no processo enfrentado por qualquer mulher em posição semelhante, na tomada do protagonismo de sua própria vida. Sem ser panfletário, o longa é inspirador. Arrisco dizer que seu mérito maior é colocar em evidência uma mulher no auge de sua maturidade que corajosamente decide sair da zona de conforto e subverter todas as amarras de um relacionamento abusivo e opressor, para enfim investir na sua realização pessoal. É possível, com isso, que A Esposa arranque lágrimas genuínas e ajude a empoderar diversas mulheres mundo afora.
Uma frase: Joan para Nathaniel: “Não me pinte como vítima. Sou muito mais interessante”.
Uma cena: A conversa entre Joan e Nathaniel num bar de Estocolmo.
Uma curiosidade: Annie Starke, que interpreta a jovem Joan, é filha de Glenn Close.
A Esposa (The Wife)
Direção: Björn Runge
Roteiro: Jane Anderson e Meg Wolitzer
Elenco: Glenn Close, Jonathan Pryce, Christian Slater, Max Irons, Annie Starke, Harry Lloyd, Alix Wilton Regan e Elizabeth McGovern
Gênero: Drama
Ano: 2017
Duração: 100 minutos
Quero muito conferir “A Esposa”, principalmente por causa da elogiada atuação de Glenn Close.