Review | Doctor Who 9×03: Under the lake

Review | Doctor Who 9×03: Under the lake

O Doutor se vê diante de mais uma história da boa e velha fórmula de “monstros da semana”. Mas, sendo uma história do Doutor, esta tende a ir um pouco além do óbvio, e nos presentear com uma deliciosa peça de mistério e suspense.

Se você nunca acompanhou um episódio de Dr. Who anteriormente há algo que é preciso deixar claro antes que comecemos a tratar do terceiro episódio da nona temporada: fantasmas não existem. Ou melhor, não existem fantasmas, magia, deuses, maldições ou qualquer força sobrenatural operando. Tudo, absolutamente tudo em Dr. Who possui uma explicação científica. Ainda que não seja a explicação mais fiel possível à acuidade científica, ainda que seja uma weird science, não deixa de ser ciência. E é graças a isso que o Doutor salva subsequentemente o dia. Essa descrição pode nos remeter à comparação da Tardis com a Mistery Machine. Mas não é bem por aí. Na maioria das vezes o clima fantasioso e a tensão imperam em episódios desse tipo em Dr. Who.

Esse também é um excelente episódio para aqueles que nunca viram a série e querem começar a acompanhar. Uma história típica do Doutor, muito bem conduzida, com uma boa direção, excelente produção e efeitos especiais, e que não exige de você qualquer conhecimento prévio da série. É para isso que serve o modelo “monstro da semana” não é mesmo? Saber usar esse modelo de forma competente, contudo, não é para qualquer um.

Under-the-Lake02-Dr,WhoUm deles só pode ser o Ruivo Hering!

Em Under the lake o escritor Toby Whitehouse conta uma daquelas típicas histórias do Doutor na qual, uma vez confrontado com um mistério aparentemente sobrenatural, ele vai apontando insanas explicações científicas, afastando qualquer possibilidade mística aparente, e apresentado respostas que resolvem todos os problemas. Uma das diversões de episódios como esses é ver que explicações os roteiristas inventarão para responder a esses aparentes mistérios sobrenaturais. Esse episódio se destaca ainda por conseguir imprimir um clima crescente de mistério e suspense que nos remete a boas obras que combinaram o gênero suspense e ficção científica. Quem conhece Dr. Who sabe que haverá uma explicação científica para tudo, mas a forma com que a trama se desenrola e os elementos de esclarecimento são apresentados favorecem o desenvolvimento do que se afirma como mais um ótimo episódio da série.

A história se passa em uma estação de mineração submersa em um grande lago inundado na Escócia, num futuro próximo. Como é típico nesses casos a Tardis é atraída para lá, e logo a irrefreável curiosidade do bom Doutor é atraída a investigar o mistério dos fantasmas que assombram a estação, quando a noite artificialmente simulada “cai”, e aterrorizam a sua tripulação, que precisa se refugiar em gaiola de faraday. Há também uma nave alienígena que foi resgatada pela tripulação – que trouxe consigo o primeiro fantasma, que logo arregimenta outros membros da tripulação para acompanhá-lo – com uma estranha e misteriosa inscrição que nem mesmo o sistema de tradução universal da Tardis é capaz de decifrar.

Outros elementos do mistério vão se desvelando aos poucos, e qualquer coisa que se fale além disso sem dúvida comprometerá boa parte da diversão de um episódio como esses, assim sendo, é melhor não falar muito mais. Basta dizer que na medida que as respostas vão sendo dadas o enredo ganha corpo e gravidade, e logo se percebe que a história de fantasmas esconde talvez perigos muito mais ameaçadores.

Capaldi como sempre é o ponto alto do show. Sem dúvida alguma sua competência como ator é visivelmente superior à dos doutores que o antecederam desde que a série retornou em 2005. É preciso de muito carisma para encarar falas de tão profundo sarcasmo como “Certamente apenas estar perto de mim fazem vocês mais espertos por osmose.” e ainda arrancar risos da audiência. O Doutor de Capaldi está cada vez mais deliciosamente arrogante e alienígena, distante das miudezas humanas e impulsionado acima de tudo por uma insaciável sede por respostas que, ante a constatação de que a Tardis quer “fugir” dos fantasmas, o faz “puxar o freio de mão” da nave. Não que ele não se importe com os humanos. Claro que ele se importa, afinal, ele é o Doutor. Mas se fosse apenas isso ele seria apenas mais um herói cliché de folhetim.

Under-the-Lake01-Dr,WhoRunning the show.

Mas o Doutor é mais que isso. Ele simboliza a necessidade quase que infantil e incontrolável da razão de encontrar respostas quando confrontada com perguntas aparentemente insolúveis. E Capaldi incorpora isso melhor do que muitos, como já afirmei. É uma pena para o resto do elenco, principalmente para Jenna Coleman, que ele seja tão bom. Fica evidente a mediocridade dela e de todo o resto do elenco, que a afora um sorrisinho ou outro bem colocado aqui e ali, servem apenas como suporte à cada vez mais cativante performance de Peter Capaldi. Sua interpretação, é preciso que se reafirme, é o elemento que melhor contribui para um excelente ritmo do episódio e um ótimo desenvolvimento que uma história de mistério e suspense exige.

Esse desenvolvimento vai se apresentando num crescendo de tensão que culmina com um interessante cliffhanger para a próxima semana. Sim, é mais um episódio em duas partes e de fato a morte parece que será um tema recorrente em Dr. Who nessa temporada – a bem da verdade, desde que Capaldi assumiu os comandos da Tardis – e por mais que ao vermos a cena final saibamos que o Doutor encontrará uma saída, somos tomados por um profundo temor e acreditamos naquela possibilidade muito por conta das migalhas de pão que já foram sendo deixadas para que seguíssemos, desde o primeiro episódio da temporada.



Posters-TheMagicianApprenticeSérie: Dr. Who
Temporada:
Episódio: 03
Título: Under the lake
Roteiro: Toby Whithouse
Direção: Daniel O’Hara
Elenco: Peter Capaldi, Jenna Coleman, Arsher Ali, Colin McFarlane, Sophie Leigh Stone.
Exibição original: 03 de Outubro de 2015 – BBC One

 

 


 

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

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