Crítica | Três Anúncios Para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri)
Com sete indicações ao Oscar 2018, incluindo a de Melhor Filme, Três Anúncios Para um Crime é capaz de despertar um turbilhão de sensações no espectador em relação aos seus personagens durante todo o longa. A história de Mildred Hayes (Frances MacDormand) começa quando ela decide chamar atenção para a incompetência da polícia local em solucionar o violento crime que matou sua filha adolescente, alugando três outdoors numa estrada pouco utilizada na pacata cidade de Ebbing, no Missouri (EUA).
Ao longo da trama, nada convencional e muito surpreendente, testemunhamos a dor e o ódio de uma mãe inconformada com a perda brutal de sua filha. Mildred é uma mulher de meia idade, divorciada, com um passado de experiências de sofrimento decorrentes da violência doméstica praticada pelo ex-marido. Para ela, a atriz Frances MacDormand se entrega de forma visceral, expressando uma força que chega a ser brutal na busca por justiça, alternada com momentos de sensibilidade e ternura.
Mildred é um “mulherão da porra”, super “badass”, que lembra heroínas como Beatrix Kiddo, de Kill Bill. Ela não leva desaforo para casa, encara ameaças de peito e queixos erguidos, enfrenta praticamente sozinha uma cidade inteira e a si mesma, numa jornada de superação do luto e aceitação da perda, que culmina numa lição sobre empatia e tolerância — dois sentimentos fundamentais e necessários para o tratamento de grandes problemas da nossa sociedade atual.
Ódio gera ódio
A grande sacada do roteiro e da construção do filme está no seu tema central, que não é a solução do violento crime praticado contra a filha de Mildred. O longa aborda com maestria e sutileza as consequências da disseminação do ódio para a vida das pessoas. Se o profeta Gentileza pregava no Rio de Janeiro que gentileza gera gentileza, com este drama constatamos que ódio só gera mais ódio, de forma destrutiva e beligerante.
O contexto social e familiar dos principais personagens, incluindo o delegado Willoughby (Woody Harrelson) e o policial Jason Dixon (Sam Rockwell), ajudam a dar profundidade à narrativa e complexidade ao desenvolvimento dos arcos de cada um deles. Os acontecimentos surpreendem por fugirem do lugar comum. Não há mocinhos e nem vilões numa sociedade contaminada por ódio, preconceitos e desigualdades. Só a tolerância e a empatia podem de fato transformar esse cenário.
Para fazer literalmente justiça a essa obra incrível, capaz de nos fazer refletir muito ao sair do cinema, o desfecho também é o mais adequado e pertinente possível para a história e os seus personagens, os quais são valorizados por excelentes atuações. No entanto, durante quase todo o filme, o espectador é conduzido pela hipnotizante personagem de Frances MacDormand, que nos faz sorrir, chorar, sentir raiva, ter medo, compaixão e coragem — todos os altos e baixos sentimentais de uma vida tão imperfeitamente humana, num reflexo genuíno de nossas existências, sem os filtros que nos são socialmente impostos.
Uma frase: – Mildred Hayes: [enquanto prepara flores nos outdoors, Mildred é surpreendida por um cervo selvagem que atravessou um campo aberto e agora está perto dela] “Hey bebê … Sim, ainda não há prisões. Como é que pode? Porque não há Deus e o mundo inteiro está vazio, e não importa o que fazemos uns aos outros? Espero que não. Como você veio aqui do nada, tão bonito? Você não está tentando me fazer acreditar na reencarnação ou alguma coisa? Porque você é bonita, mas você não é ela … Ela foi morta. Agora ela está morta para sempre.”
Uma cena: A discussão com padre na cozinha de Mildred.
Uma curiosidade: Martin McDonagh escreveu o roteiro tendo em mente Frances McDormand como a atriz do papel principal.
Três Anúncios Para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri)
Direção: Martin McDonagh
Roteiro: Martin McDonagh
Elenco: Frances McDormand, Woody Harrelson, Sam Rockwell, John Hawkes e Peter Dinklage
Gênero: Crime, Drama
Ano: 2017
Duração: 115 minutos
Grande filme, até aqui dos indicados a melhor filme que assisti foi o que mais gostei. Já temos um Oscar garantido para melhor atriz? Sim ou com certeza?
Assisti ontem a este filme. O trailer era uma bagunça e foi reconfortante ver que essa bagunça não se reflete no filme. Apesar de um ótimo filme, não acho que seja suficiente para vencer o Oscar de Melhor Filme. Achei as personagens muito caricaturais e algumas situações muito forçadas.