Review | Doctor Who 9×10: Face the Raven

Review | Doctor Who 9×10: Face the Raven

No episódio que começa a preparação para o season finale da nona temporada de Doctor Who, o Doutor volta a usar trajes mais formais, um importante personagem retorna, e um outro encara seu destino final.

O comentário a seguir possuiu grandes spoilers do episódio.

Os trajes usados pelo Doutor nesse episódio parecem indicar a solenidade que o momento demanda. Púrpura, afinal é a cor da morte da realeza. E o Doutor abandona a aparência mais informal que assumiu ao longo de toda a temporada e retorna aos trajes que marcaram a sua estreia como o 12º Doutor. Uma jaqueta púrpura aveludada de corte clássico e a camisa branca com gola abotoada até o pescoço.

O tema da morte, como o título do episódio sugere, volta a ser a temática principal que, nesse caso, não apenas subjaz no subtexto, mas se sobressai como parte integrante do enredo. Não por acaso temos de volta a mulher que viveu, Ashildr (Maisie Williams) e a ameaça de morte para um velho aliado do Doutor e de Clara que acaba colocando os personagens principais em uma corrida para salvá-lo.

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Companheiros, refugiados e velhos conhecidos

O aliado em questão é Rigsy (Joivan Wade) o jovem grafiteiro que apareceu pela primeira vez em Flatline, episódio da ultima temporada de Doctor Who, no qual o Doutor e Clara enfrentaram seres de uma dimensão paralela que tentavam invadir a nossa, através de pinturas nas paredes. Curiosamente, naquele episódio, Clara assume as funções do Doutor e Rigsy funciona como uma espécie de seu companheiro improvisado.

O episódio dessa semana, por sua vez,  se inicia com Rigsy ligando para a Tardis para recorrer à ajuda de Clara. Uma estranha tatuagem surgiu em seus pescoço, similar a uma espécie de contador que marca uma contagem regressiva.

Logo o Doutor e Clara descobrem que Rigsy teve parte de sua memória do dia anterior apagada, provavelmente como efeito colateral do lugar onde ele esteve: uma trap street, uma rua secreta, camuflada de dos olhos humanos, em plena Londres, onde uma comunidade alienígena se esconde.

Comunidade alienígena esta que é gerenciada pela prefeita Me, ou melhor, Ashildr. Fato esse que não deve ser muito surpreendente, se considerarmos que Ashildr havia avisado ao Doutor que estaria por perto, observando seus atos, e cuidando das pontas soltas que ele deixasse para trás em suas aventuras. Ashildr, ou Me, como ela insiste em ser chamada, assim, torna-se a líder de uma peculiar comunidade formada por inúmeras raças alienígenas que vivem refugiadas na Terra, muitas delas das quais, em um momento ou outro, cruzaram o caminho do Doutor.

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O Medo é a Chave

A comunidade é mantida em paz graças ao poder do medo. Medo que Ashildr impõe aos refugiados utilizando-se da sombra quântica, um instrumento de execução. O mecanismo de controle da sombra quântica são tatuagens no corpo de Ashildr. Quando quer punir algum transgressor com a pena capital, ela o marca com uma tatuagem que registra a quantidade de minutos que resta até a execução.

Exatamente como se deu com Rigsy. E a execução é levada a cabo, quando o marcador chega a zero, na forma de um corvo que deixa uma gaiola exposta para todos na trap street, e invade o corpo do marcado como uma névoa sugando-lhe a vida em uma morte desesperadora e dolorosa. No caso de Rigsy, Ashildr revela, ele será executado por ter assassinado um dos refugiados. E a única forma de Clara e o Doutor evitarem isso é provar que o jovem é inocente.

E é mais ou menos a isso que se resume o episódio. A estreante nos roteiros da série, Sarah Dollard, entrega um episódio que apesar de interessante e com cenas importantes, não deixa muito mais espaço para debates ou interpretações. Trata-se na verdade de um episódio de interseção mesmo; de transição entre o meio e o fim da nona temporada. A partir daí, nas próximas duas semanas, testemunharemos o season finale dessa temporada, com o Doutor um tanto quanto modificado pela perda de alguém muito importante para ele: Clara Oswald.

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Uma amarga despedida

Como já apontavam alguns rumores nesse sentido, não é Rigsy que sucumbe tragicamente nesse episódio, mas sim Clara Oswald. Por sinal, em uma cena de morte que é interpretada com bastante dignidade e grandeza pro Jenna Coleman, em certa medida salvando a nona temporada dela que havia até então sido marcada pela mediocridade, na melhor das hipótese.

O que ocorre é que Clara, de maneira incauta e arrogante, tenta dar uma de Doutor, e assume para si a marca de Rigsy, acabando sendo a vítima da sombra quântica em seu lugar. E isso se dá em uma cena que aposta na franqueza dos personagens para fazerem suas despedidas, com resultados, como já disse, excelentes.

Nada contra a partida de Clara. Como já havia afirmado aqui algumas vezes, Jenna Coleman já havia perdido, a meu entender, muito de sua vivacidade original quando estreou nos idos de Matt Smith, o 11º Doutor. A personagem também perdeu com isso e acabou se desgastando.

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Todavia para mim o maior problema é a forma escolhida para Clara finalmente morrer. Não que não tenha ficado claro para mim o motivo pelo qual trocas de lugar com o marcado para morrer primário da sombra quântica não podem se prolongar além da primeira; evidente, que é preciso impor um limite, tanto em um sentido narrativo quanto dentro da lógica do enredo, sob pena de se esvaziar por completo o sentido do mecanismo de execução.

Sim, pois tudo se revela, ao fim, fazer parte de um mirabolante plano urdido por Ashildr, que estava em conluio com misteriosos associados, apenas para atrair o Doutor à trap street e aprisioná-lo. Ora, usar Rigsy como isca é até compreensível; mas o que me incomoda mesmo é que, uma vez o Doutor dando as caras, Ashindr necessitasse manter a complicada trama conspiratória de mistério apenas para atender a seu intento que não era outro senão prender o Doutor.

Quero crer que haja formas mais fáceis de se aprisionar o Doutor, se não, ao menos, formas que não exijam uma trama tão elaborada e intrincada. Recorrer a uma trama que, no fim das contas, desafia qualquer regra de simplicidade e muito por conta disso levanta questionamentos e expõe incoerências, acaba por comprometer significativamente o episódio.

Doctor-Who-9x10-003Farewell, my friend. And thanks for the fish.

O Corvo

De qualquer forma, vale a maneira astuta com a qual o corvo foi evocado no episódio, tanto como evidente e poético símbolo da morte, num plano geral, quanto como símbolo do conhecimento sobre a morte, se pensarmos na representação de Odin – o primeiro Deus de Ashildr – e de seus corvos Hugin e Munin.

Esperamos apenas que o intrincado estratagema possa ter sua inverossimilhança atenuada na próxima semana, com as revelações acerca daqueles que estão por trás do referido plano e dos atos de Ashildr, o que também, espera-se, venha a explicar a história do disco de confissão e da morte anunciada do Doutor, que iniciou essa temporada. Possa Odin escutar nossas preces.



Posters-TheMagicianApprenticeSérie: Doctor Who
Temporada:
Episódio: 10
Título: Face the Raven
Roteiro: Sarah Dollard
Direção: Justin Molotnikov
Elenco: Peter Capaldi, Jenna Coleman, Joivan Wade e Maisie Williams.
Exibição original: 21 de Novembro de 2015 – BBC One
Graus de Kevin Bacon: 3 Joivan Wade esteve em Callum (2012) com Marc Geoffrey que atuou em O Aventureiro: A Maldição da Caixa de Midas (2013) ao lado de Michael Sheen que esteve em Frost/Nixon (2008) juntamente com Kevin Bacon.

 


Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

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