Review | The Last of Us Part II

Review | The Last of Us Part II

O grande trunfo de The Last of Us Part II, assim como o primeiro game de 2013, é a narrativa. Se no 1º jogo a trama mostrava a construção da relação entre Joel e Ellie, algo como amor entre pai e filha, o tema dessa 2ª parte é uma mistura entre ódio e vingança. A Naughty Dog entrega uma experiência ainda mais emocional que a anterior em uma jornada que evoca sentimentos conflitantes no jogador.

A primeira coisa que chama a atenção ao se começar a jogar The Last of Us Part II é a parte gráfica. A beleza e riqueza dos detalhes impressionam e mostram toda a capacidade de processamento do PlayStation 4. A transição das cutscenes para o jogo em si é bem sutil, aumentando a imersão do jogador dentro do universo do jogo.

O início é lento e responsável por criar a atmosfera dessa nova jornada, mas também de fazer a conexão da trama do jogo anterior com esse novo. Isso é fundamental para o jogador relembrar um pouco da história e da conexão emocional com os personagens.

Em relação a jogabilidade, The Last of Us Part II apresenta uma boa evolução em relação ao game anterior. Uma das novidades é que no combate corpo a corpo agora é possível esquivar, o que funciona bem com humanos, mas não é muito eficiente com os infectados, que agora também se apresentam em novas mutações. Outra atualização é referente ao aprimoramento dos itens do jogador. Agora para aprender a usar novos itens ou realizar novas melhorias é necessário encontrar revistas ou livros.

Contudo, em essência, a maneira de jogar continua a mesma. É preciso explorar as áreas em busca de suprimentos, pois eles são escassos. E isso influencia na forma de avançar no game. A melhor maneira sempre é ir no modo “stealth”, isto é, de maneira furtiva, atacando os inimigos sem que os outros que estão ao redor percebam a sua presença.

The Last of Us Part II continua de forma linear na progressão dentro do cenário, onde algumas restrições do ambiente meio que ditam por onde o jogador deve prosseguir. No entanto, uma novidade é que existe uma parte que simula um esquema de “jogo aberto”, algo bem parecido com o que a Naughty Dog fez em Uncharted: The Lost Legacy. Assim é possível explorar a cidade de Seattle da forma que achar melhor em busca dos objetivos e encontrar coisas interessantes para fazer.

A partir desse ponto para poder continuar a análise do game é necessário revelar algumas coisas, então:

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre alguns elementos do game The Last of Us Part II que contém pequenos spoilers.

Ponto de vista

Em The Last of Us o jogador controlava apenas Joel e Ellie em um pequeno trecho, que se estende um pouco mais em Left Behind, um DLC que virou um pequeno jogo separado onde Ellie é a protagonista. Mas aqui na continuação Ellie assume o protagonismo da história. No início na transição entre as histórias você ainda joga com Joel, mas logo muda para Ellie.

Entretanto, existe uma nova personagem chamada Abby. E sim, ela é jogável e isso também é revelado logo no início do game. Mas descobrir como ela se encaixa na história e qual a relação com Joel e Ellie é o grande trunfo da narrativa. Lembre-se do tema principal da história: ódio e vingança, mas relaxem que tudo se encaixa no universo do game.

Flashbacks

Existe uma diferença de 4 anos entre os acontecimentos do primeiro jogo em relação a essa parte 2. No entanto, The Last of Us Part II explora muito bem esse tempo entre as histórias. Isso é fundamental para consolidar a transição entre os games e principalmente para reviver a conexão emocional com os personagens. Então no meio da jogatina temos flashbacks para mostrar alguns momentos do que aconteceu com Joel e Ellie. Dessa forma compreendemos melhor a transformação pela qual passaram.

Como temos também a novata Abby, é necessário explorar o seu passado e ver como ela se encaixa na narrativa em uma mistura de alternância do ponto de vista com flashback. The Last of Us Part II é praticamente dividido em 2 games: primeiro vemos tudo da perspectiva de Ellie e em seguida começa tudo de novo, dessa vez com Abby.

Isso é sensacional do ponto de vista da narrativa, mas um pouco “frustrante” da perspectiva do jogador, já que é necessário “começar de novo” e “evoluir” novamente. Porém isso é essencial dentro da experiência de The Last of Us Part II. “Reviver” o jogo novamente controlando outro personagem dá para quem está jogando uma nova imersão na narrativa e ajuda a entender as motivações de ambas as personagens.

Trilha sonora

Gustavo Santaolalla está de volta compondo a trilha sonora e ela é essencial para criar o clima emocional exigido pela narrativa. Os temas compostos pelo músico exploram novamente composições com violão que evocam o clima melancólico e agridoce da história, mas aqui ele foi além e explora temas ainda mais densos e tensos.

O game também explora a trilha para compor o momento. Se está tudo tranquilo toca um tema mais calmo ou prevalece o silêncio. Quando você enfrenta inimigos no modo furtivo o som avisa quando alguém está próximo de descobrir a sua localização, isso ajuda a tomar cuidado. Mas quando você é descoberto a trilha te avisa através do sinal sonoro de que a situação complicou para o seu lado.

Diversidade sexual e religião

The Last of Us Part II ousa ainda mais na sua narrativa ao explorar temas controversos, principalmente dentro do universo conservador dos games. O primeiro ponto é a sexualidade de Ellie que revela sua atração por mulheres. A relação dela com Dina é um dos pontos altos do jogo e ajuda a aprofundar ainda mais a personalidade da personagem e suas motivações. Encontrar um amor no mundo normal já é complicado, imagine então a importância de achar alguém especial em um ambiente pós-apocalíptico onde conseguir viver de maneira próxima do normal é um privilégio. E claro, o fato de ser alguém do mesmo sexo em nada muda esse sentimento.

O game também inclui um personagem trans e junto com ele a intolerância religiosa. A história apresenta dois novos grupos de humanos. Temos os “Lobos”, do qual Abby faz parte que segue uma linha mais militar. Mas temos também os Serafitas, que são chamados de “cicatrizes” e seguem uma linha religiosa e radical.

Incluir temas complexos e atuais em um mundo pós-apocalíptico como o de The Last of Us foi um grande acerto da Naughty Dog. Dessa forma a narrativa fica ainda mais interessante e o game sobe de nível em relação a história.

“Frustração”

Um dos “problemas” de The Last of Us Part II é a “frustração”, e é assim entre aspas mesmo. Já foi dito que a imersão da narrativa é o grande trunfo do jogo, mas isso também traz algumas consequências. Quando você está assistindo um filme é normal você discordar de alguma atitude que o personagem toma, mas você entende o que aquilo foi algo que ele decidiu. Mas como fazer quando é você que está controlando esse personagem?

Ódio e vingança são sentimentos intensos e o jogo explora as motivações das personagens e seus respectivos pontos de vista. Como fazer para resolver esse conflito? The Last of Us Part II não é um jogo interativo, então nem sempre você vai concordar com o que algum personagem está fazendo, mas você vai ter que fazer. E essa é uma experiência ainda mais intensa e claro, altamente “frustrante”.

Ou seja, esteja preparado psicologicamente para encarar The Last of Us Part II porque a experiência dessa continuação vai ser ainda mais intensa e emocional que a do jogo anterior.


Classificação:


The Last of Us Part II

Plataformas: PlayStation 4
Produtora: Sony Interactive Entertainment
Desenvolvedora: Naughty Dog
Diretor: Neil Druckmann, Anthony Newman e Kurt Margenau
Roteiro: Neil Druckmann e Halley Gross
Elenco: Ashley Johnson, Laura Bailey, Troy Baker, Shannon Woodward, Victoria Grace, Ian Alexander, Jeffrey Pierce, Derek Phillips, Stephen Chang, Chelsea Tavares, Ashly Burch, Patrick Fugit e Jeffrey Wright
Ano: 2020

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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