Crítica | Viva: A Vida é uma Festa (Coco)
Prepara o lencinho que Viva: A Vida é uma Festa, a mais nova animação da Disney/Pixar, tem tudo para te emocionar bastante no escurinho do cinema. É um filme divertido, visualmente bastante colorido, que aborda temáticas capazes de sensibilizar pessoas de todas as idades, por meio da velha e certeira receita que consolidou a Pixar no passado com o sucesso de Toy Story. Além disso, é o primeiro longa da parceria dos dois estúdios com um elenco todo latino, que chega aos cinemas num momento bastante oportuno, exatamente quando o mundo testemunha o debate sobre a construção de um muro para evitar a entrada no Estados Unidos de imigrantes ilegais vindos do México.
No longa que estreiou no dia 4 de janeiro no Brasil, o personagem principal é Miguel Rivera (Anthony Gonzalez, no original, e Arthur Salerno, na dublagem brasileira), um menino mexicano de 12 anos que sonha em ser músico, mas sua família – com tradição em fabricar sapatos – o proíbe de participar de qualquer manifestação musical, em razão de um grande trauma do passado. A história se passa durante o feriado do Dia dos Mortos, uma das datas mais importantes para a cultura do país. Por esse motivo, a animação explora muito bem detalhes importantes dos preparativos da festa, os hábitos e as crenças populares. Uma dessas tradições é a performance musical dos mariachis, cantores locais que se apresentam com trajes típicos.
Miguel decide enfrentar a proibição da família para realizar seu sonho e logo parte em uma jornada de aventuras e emoção, acompanhado do seu melhor amigo, o cãozinho Dante, um vira-lata candidato a ser o mais novo querido mascote dos filmes de animação. Antes disso, porém, somos apresentados à relação do menino com sua bisavó Mamá Ines (Ana Ofelia Murgia/Maria do Carmo Soares), que está bastante debilitada pela avançada idade. Conhecemos o grande trauma que envolve sua tataravó Mamá Amelia (Alanna Ubach/Adriana Quadros) e vemos também a paixão de Miguel por seu ídolo, o famoso cantor mariachi e ator Ernesto de la Cruz (Benjamin Bratt/Nando Pradho), que morreu de forma trágica.

E o tema morte é abordado de forma muito criativa e nada convencional, com foco no respeito à ancestralidade, ao elo familiar e às memórias. À primeira vista, confesso, tive uma sensação de desconforto por ver um assunto tão delicado num filme destinado a crianças, no entanto, a narrativa é tão corajosa e surpreendentemente desenvolvida – bem ao estilo Disney/Pixar, que me dei conta do quanto é necessário falar sobre isso em qualquer fase da vida, sem rodeios e fantasias. Afinal, a morte faz parte da vida. Se podemos nos divertir com elementos vivos, por que não também com fatos relacionados à morte? O longa desenterra, literalmente, nossos medos para que possamos viver bem com todos eles.
O personagem mais interessante do “mundo dos mortos” – no conceito da cultura mexicana – é o trapaceiro Héctor (Gael García Bernal/Leandro Luna). Além dele, todos os demais mortos são caracterizados como versões coloridas de esqueletos. Nesse cenário, também conhecemos os simpáticos integrantes mortos da família Rivera, parentes de Miguel, e ainda somos surpreendidos com a participação de Frida Kahlo (Natalia Cordova-Buckley/Karen Ramalho), a famosa pintora mexicana que morreu em 1954. Como eles, Miguel aprende sobre a importância de valorizar a memória e de se reconhecer dentro de um núcleo familiar. O filme é, sobretudo, uma experiência para aproximar gerações, que conversa com crianças, jovens, adultos e idosos, a fim de exaltar o valor das relações parentais.

Receita de sucesso
A louvável direção do filme é de Lee Unkrich, reconhecido por seu trabalho em animações que até hoje levam às lágrimas espectadores do mundo: Toy Story 3 (2010), Procurando Nemo (2003), Monstros S.A. (2001) e Toy Story 2 (1999). Cotado para Oscar de Melhor Animação de 2018, Viva – A Vida é uma Festa promete ser mais um desses inesquecíveis sucessos da Disney/Pixar, contando inclusive com uma linda trilha sonora, cujo carro-chefe é a música “Remember Me“, composta pelo casal Kristen Anderson-Lopez & Robert Lopez — vencedores do Oscar por “Let It Go“, de Frozen: Uma Aventura Congelante (2013).
Uma frase: – Mamá Amelia: “Miguel, dou-te a minha benção, para ir para casa e …”
– Miguel: “… para esquecer a música?”
– Mamá Amélia: “… E nunca esqueça o quanto sua família se importa com você.”Uma cena: Quando Miguel está no cemitério, entre o “mundo dos vivos” e o “mundo dos mortos”, procurando entender o que estava acontecendo.
Uma curiosidade: O título original “Coco” foi substituído no Brasil por “Viva” para evitar que a palavra “Coco” fosse confundida com outra não tão agradável.
Viva: A Vida é uma Festa (Coco)
Direção: Lee Unkrich
Roteiro: Adrian Molina e Matthew Aldrich
Elenco: Anthony Gonzalez, Gael García Bernal, Benjamin Bratt, Alanna Ubach, Renée Victor, Edward James Olmos e Ana Ofelia Murguía (vozes em inglês); Arthur Salerno, Leandro Luna,Nando Pradho, Adriana Quadros, Marilza Batista e Maria do Carmo Soares (vozes em português)
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Ano: 2017
Duração: 109 minutos

Uma frase: – Mamá Amelia: “Miguel, dou-te a minha benção, para ir para casa e …”
Quando eu assisti ao trailer desse filme, pensei imediatamente em outra animação chamada “Festa no Céu”. Estou muito interessada nesta animação, que me parece ser muito bacana, como tudo que a Pixar/Disney faz!