Review | Westworld – S04E07 – Metanoia

Review | Westworld – S04E07 – Metanoia

Dentre os questionamentos acerca da consciência, Westworld trouxe diversos deles através da perspectiva de duas espécies distintas (Humanos e Anfitriões), e a partir daí tentar responder à seguinte questão: o que significa (e qual o custo) da evolução?

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos encontrados em Metanoia, o sétimo episódio da quarta temporada de Westworld.

Em Metanoia, sétimo e penúltimo episódio dessa quarta temporada de Westworld, esse questionamento ganha contornos mais evidentes e toma a frente do palco de maneira surpreendentemente intensa, digna do clímax que merece. De um lado temos Dolores/Charlotte demandando uma evolução para sua espécie que, a seu ver, deve implicar em deixar os seres humanos para trás, e transcender. É a visão idílica da evolução, com um tom bastante narcisista (não por acaso em muito similar a certas perspectivas fascistas) na medida em que os anfitriões, para Hale, são superiores que os humanos, portanto estes últimos seriam incapazes da evolução transcendental pensada por ela. 

De outro, porém, representando a forma mais atávica – e, é claro, nesse sentido, também sombria e selvagem – da evolução humana, temos William. Não William Anfitrião, mas William original. Não por acaso sua “prisão”, que o mantém vivo, o coloca na forma do Homem Vitruviano de Da Vinci, como se ali estivesse o ser humano perfeito. E o ser humano perfeito, da perspectiva de William, é um predador alfa. O mundo não avança através de transcendência e da harmonia, mas através da sobrevivência que brota do caos, loucura e destruição. É a lei da permanência do mais apto, ou da sobrevivência do mais forte. É essa a compreensão final do William Anfitrião de seu processo de evolução. 

Talvez seja importante, para entender melhor Westworld, sempre nos remeter ao filme original (dirigido e roteirizado por Michael Crichton), bem como à série de filmes, e a curta série de TV que derivou daquele original. No filme original o pistoleiro robô que se veste de preto, lá vivido por Yul Brynner, e aqui, em uma nova versão, por Ed Harris, assume o papel de uma força do caos e destruição que parece operar num sentido de retribuição ante o violento diletantismo com que a humanidade parece tratar sua própria existência e a dos demais seres que os circundam.

Jonathan Nolan e Lisa Joy parecem partir dessa premissa um tanto quanto simples para expandir o que, inicialmente Michael Crichton imaginou como uma reflexão acerca das relações humanas a partir da tensão homem x tecnologia, para uma discussão muito mais existencial e metafísica. Ou seja, enquanto Crichton buscava evidenciar como o mundo moderno nos reduz a autômatos movidos por seus desejos vis que se resumem a brutalizar outros autômatos que são vistos como objetos, e assim questionar o lugar da humanidade em relação ao desenvolvimento do mundo, Nolan e Joy vão além, e questionam até onde essa relação pode nos levar: destruição ou evolução? E mais ainda: qual a diferença entre uma e outra?

Por isso nada mais apropriado do que Metanoia encerrar ao som da ominosa “The man who sold the World” de David Bowie e em sua versão original (diferente de todas as outras músicas em Westworld que ganham sempre ótimas versões instrumentais por Ramin Djawadi). É um sinal de que a mensagem principal está lá mesmo no Homem de Preto original: o ser humano é o arauto da própria destruição. A questão que permanece é: seremos capazes de sobreviver? E se sobreviver, seremos ainda humanos? Afinal, como diz Bowie na letra: “I gazed a gazely stare, we walked a millions here, we must have died alone” (Eu olhei com um olhar fixo, nós andamos um milhão de colinas, Eu deveria ter morrido sozinho).

E, também, não por acaso, esse último verso nos remete ao sentido da perspectiva de Christina (Evan Rachel Wood). Sim, nós morremos há muito tempo. O que nos resta? Tenta rever o passado e criar um futuro possível: Homens e Anfitriões. Ou simplesmente, seres vivos, independentemente da forma em que essa vida ou consciência se apresente. 

Dessa forma, Westworld nos entrega uma das melhores horas de ficção-científica dos últimos anos. Por trás de um episódio climático e muito movimentado, com direito a algumas revelações já bem antecipadas por foreshadowings – que preparam devidamente o inconsciente da audiência a encarar o absurdo – Westworld ainda traz espaço para muita reflexão a partir de um texto muito bem elaborado e uma narrativa muito bem estruturada, e não apenas ao longo de uma temporada. Algo tão raro, que merece ser apreciado diversas vezes e debatido. 

No próximo episódio, o último dessa temporada, teremos provavelmente um epílogo nos preparará para a última temporada. Afinal, o fim já chegou, e veio de forma tão rápida e avassaladora, que nós sequer o percebemos.



Westworld

Temporada: 
Episódio: 07
Título: Metanoia
Roteiro: Desa Larkin-Boutte e Denise Thé
Direção: Meera Menon
Elenco: Evan Rachel Wood, Thandiwe Newton, Jeffrey Wright, Tessa Thompson, Aaron Paul, Angela Sarafyan e Ed Harris
Exibição original: 07 de agosto de 2022 – HBO

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

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