Review | Westworld – S04E06 – Fidelity

Review | Westworld – S04E06 – Fidelity

O teste de Fidelidade, algo análogo a um Turing Test, mas para avaliar o nível de consciência de um Anfitrião no sentido de controlar o seu desenvolvimento, sempre foi um dos pontos mais característicos de Westworld. Em Fidelity, sexto episódio dessa quarta temporada, esse teste ganha uma nova perspectiva e a questão da fidelidade no sentido mais literal do termo é também explorada. 

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos encontrados em Fidelity, o sexto episódio da quarta temporada de Westworld.

De um lado temos Caleb (Aaron Paul) retornando. Caleb é um tipo bem peculiar de personagem. Ele não é exatamente um protagonista, mas foi construído de forma a que quase todos os principais personagens dessa temporada orbitem em torno de sua existência. Hale o explora como uma cobaia buscando compreender o que deu errado em seu grand design; C (ou Frankie, sabemos agora) tem nele sua principal motivação e exemplo para lutar e se insurgir ao controle de Hale; e Maeve tem nele um amigo perdido, a quem se pode salvar ou vingar. 

Em suma: o personagem é muito mais um mecanismo narrativo, do que um personagem em si. Os autores não parecem preocupados em se aprofundar em Caleb para algo mais além disso. Ainda assim, aqui, Aaron Paul faz um bom trabalho com o que lhe é entregue e é bem-sucedido em seu principal papel: o de servir de contraponto que narrativa usa para expor as contradições e fragilidades de Hale (ou Charlores), nossa principal antagonista. 

É no embate emocional entre Caleb e Charlotte Hale que as marcas da personagem que a levaram a ser aquilo que hoje ela é se evidenciam com mais expressividade; e é nessa evidência que fica claro o tamanho de sua frustração por ter perdido a sua família humana. Frustração que, diante de nossos olhos, se transforma em ódio e desprezo quando ela se dá conta que Caleb, mesmo após ter pedido Frankie, nunca de fato a perdeu. Não importa se Frankie irá ou não ouvir a mensagem dele, ele afirma. Ele apenas precisava dizer. E essa súbita compreensão de Charlores parece ser aquilo que definirá o próximo passo dela. 

É interessante notar como o jogo armado por Hale, para Caleb, tem grandes paralelos com o sadismo ao qual os Anfitriões eram submetidos em Westworld. O que passa despercebido por Charlotte, aparentemente, num primeiro momento é como o amor de Caleb por sua filha o define e o faz transcender enquanto indivíduo, ao de todas as suas “instâncias” estejam sempre dispostas a se sacrificar, desde que pelo menos um deles tenha sucesso em sua jornada. É difícil definir as sensações provocadas ao percebermos como uma versão prévia de Caleb consumiu parte de si, ou até de sua própria vida, para que alguma seguinte tenha alguma chance de encontrar Frankie. Ele não precisa encontrá-la. Ele adornar precisa ter certeza de que alguém chegue ao fim da jornada para ser capaz de protegê-la. 

O resultado é tão impactante para Charlores, que ela decide destruir todas as demais cópias de Caleb, e criar mais uma; essa, dessa vez, muito provavelmente com um propósito bem distinto o qual apenas saberemos nos próximos episódios.

Em outro lugar, a fidelidade de C (ou Frankie) é colocada à prova em vários níveis. De sua relação com  Bernard, passando por sua  relação com Jay, até a sua própria relação com o fantasma de seu pai, Caleb, ao ponto de ser aquilo mesmo que mais a define. Aqui o episódio pretende produzir uma tensão entre os membros do grupo da resistência através da dúvida de quem entre eles seria um infiltrado de Hale. Infelizmente, não há muito envolvimento nosso, enquanto espectadores, com aquele grupo de personagens, o que contribui para um certo sentido de artificialidade em relação ao dilema criado. Ainda assim, à medida que o episódio se aprofunda na confirmação da identidade de C como Frankie, a filha de Caleb, tanto suas ações quanto as de Caleb ganham mais sentido e propósito. 

No fim, o imbróglio, ainda que perca em autenticidade, cumpre bem a função de mecanismo narrativo que serve para forjar a aliança entre C e Maeve. A já há muito esperada união entre essas duas mulheres ligadas tanto por Caleb quanto por profundos reflexos das relações entre pai e filho. Não por acaso, a relação entre Frankie e seu pai se reflete na relação de Maeve com sua filha Anfitriã que a motivou e definiu sua personalidade desde o princípio. 

Assim, embora o episódio “Fidelidade” não produza uma reflexão digna do sci-fi que costumeiramente marca Westworld, serve muito bem como um passo para levar a narrativa da temporada à sua conclusão. Com a união entre Maeve e Frankie sacramentada, parece que o plano de Bernard caminha em direção a sua conclusão. Por outro lado, Hale parece mais determinada do que nunca a eliminar de uma vez por todas a resistência. O resultado, ainda é difícil de definir. Mas o certo é que há ainda outros elementos dessa história que precisam se posicionar, a saber, notadamente, o Homem de Preto e Christina. Mas isso só devemos saber mesmo no sétimo e penúltimo episódio da temporada.



Westworld

Temporada:
Episódio: 06
Título: Fidelity
Roteiro: Jordan Goldberg e Alli Rock
Direção: Andrew Seklir
Elenco: Evan Rachel Wood, Thandiwe Newton, Jeffrey Wright, Tessa Thompson, Aaron Paul, Angela Sarafyan e Ed Harris
Exibição original: 31 de julho de 2022 – HBO

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

Um comentário em “Review | Westworld – S04E06 – Fidelity

  1. Eu achei interessante também a referência a Alice através do espelho (e também no País das Maravilhas) com a questão do espelho (vaidade), descer pelo buraco e se forçar um pouco a amizade podemos dizer que aquele anfitrião branco seria o coelho.

    E a questão mãe e filha (ou pais e filhos) mais uma vez surge forte na série. Tivemos Maeve com sua filha e a própria Charlotte com a filha na temporada passada, além é claro de Dolores e seu pai (e também tivemos o Homem de Preto e sua filha). Isso sempre foi um dos principais motores motivacionais dos personagens na série.

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