Crítica | X – A Marca da Morte

Crítica | X – A Marca da Morte

Parece só mais um filme trash de terror mas, X – A marca da morte (X) surpreende ao trazer o melhor do estilo slasher. Para quem curte o subgênero, Ti West (A casa do demônio e Hotel da morte) faz uma homenagem crítica aos filmes de terror dos anos 1970 e traz à tona uma importante reflexão sobre etarismo no cinema. 

Na trama, um grupo de pessoas viaja até uma fazenda para gravar um filme pornográfico produzido e roteirizado por Wayne (Martin Hernderson). Wayne também é namorado de Maxine (Mia Goth), uma das atrizes do filme. Recebidos pelo sinistro casal de idosos dono da propriedade, o grupo é hospedado em uma cabana e não revela as reais intenções de gravar cenas quentes na fazenda. Quando descobertos, o grupo tem que lutar por suas vidas durante uma noite sangrenta na fazenda.

Desconfortavelmente lento em sua narrativa, o longa investe no terror psicológico e fascina na bela fotografia, na qual é inegável a homenagem a filmes que marcaram o subgênero slasher como O massacre da serra elétrica e Pânico no lago. O que, em princípio, pareceria um serial killer perseguindo e matando jovens transões se transforma em uma reflexão necessária sobre a super exposição de corpos femininos em filmes de terror e sobre o conservadorismo religioso, trazendo como pano de fundo as produções pornográficas.

Destaque para Mia Goth (Ninfomaníaca Vol 2) cujo personagem dá nome ao filme (X) por ser apresentada ao público como o Fator X, alguém com talento único. A aspirante a atriz Maxine embarca no gênero pornográfico almejando galgar novos e importantes papéis na indústria cinematográfica. West não poderia ter sido mais explícito ao criticar a estrutura patriarcal para que uma mulher ascendesse na carreira. Enigmática e com poucos diálogos, Maxine impõe sua personalidade ao longo da trama e se contrapõe sobremaneira à Pearl, a assustadora e ressentida senhorinha da fazenda. 

O elenco é outro ponto forte do filme. Brittany Snow interpreta uma espécie de Marylin Monroe dos filmes pornôs e faz par com Scott Mescudi (Jackson Hole), completando assim o estereótipo batido da sexualização e vulgarização de homens negros e mulheres loiras, em especial em produções pornográficas. Também contracenam Jenna Ortega (Lorraine), que atua como assistente de cena, e Owen Campbell, que interpreta o diretor e namorado de Lorraine. Uma vez mais as participações femininas destacam-se na personagem Lorraine, que expõe a olho nu o machismo estrutural e a busca da personagem por autonomia não apenas em ações, mas em senso crítico.

O filme expõe uma importante discussão ao deixar o espectador algo inquieto e incomodado com as cenas em que Pearl – a senhorinha da fazenda – se insinua para alguns personagens. O debate sobre etarismo (discriminação contra pessoas com base em estereotipos associados à idade) surge não apenas nestas cenas, como também na falta de credibilidade do grupo para com o casal de idosos, o que deixa os personagens totalmente vulneráveis na trama. 

Tão importante na trama como Maxine, Pearl se vê obrigada a encarar a jovem e ambiciosa atriz como um contraponto a si mesma. Subentende-se que, um dia, Pearl também sentiu-se preciosa, como seu próprio nome diz, mas as circunstâncias da vida – em especial por ser mulher – a impediram de realizar seus sonhos. A fotografia de Eliot Rockett brinca com um jogo de luz, sombras e cores inebriantes para dar à Pearl a dimensão de todo o seu ressentimento reprimido. Destaque também para a trilha sonora ou a ausência dela, onde Ti West constrói a enervante narrativa do filme.

Prequel

X – A marca da morte (X) nem sequer estreou e já tem uma prequel garantida. Intitulado Pearl, o longa pretende contar a história da invejosa idosa durante sua juventude e se passará em  1918. Com características para uma trilogia, X – A marca da morte rende homenagens aos filmes de terror, ao mesmo tempo em que discute machismo e etarismo. Pearl ainda não tem data para estrear no Brasil e X – A marca da morte estreia no próximo dia 11 de agosto.


Uma frase: – “O que o senhor acha que tem aqui (na câmera)?”
– “Eu digo que tem uma porra de um filme de terror”

Uma cena: Maxine nadando no lago com crocodilo.

Uma curiosidade: Maxine e Pearl são interpretadas por Mia Goth.


X – A Marca da Morte (X)

Direção: Ti West
Roteiro: Ti West
Elenco: Mia Goth, Jenna Ortega, Martin Henderson, Brittany Snow, Owen Campbell, Stephen Ure e Scott Mescudi
Gênero: Terror, Suspense
Ano: 2022
Duração: 106 minutos

Elaine Fonseca

Jornalista, servidora pública e nerd.

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