Review | Westworld – S04E03 – Annees Folles

Review | Westworld – S04E03 – Annees Folles

Parece que depois de uma terceira temporada quase que medíocre para seus parâmetros, em “Annees FollesWestworld encontrou mesmo seu caminho de volta para casa.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos encontrados em Annees Folles, o terceiro episódio da quarta temporada de Westworld.

Enquanto seguimos acompanhando Maeve – que me desculpem os fãs, mas uma personagem muito melhor do que a Viúva Negra do MCU jamais foi – com sua missão de deter os planos do Homem de Preto. 

Em outra linha narrativa – e talvez, outra timeline – temos o retorno de Bernard (Jeffrey Wright) e Stubbs (Luke Hemsworth). Mais do que um grato retorno, a volta desses personagens marca definitivamente o retorno da trama a um importante elemento que foi estabelecido na primeira temporada e apenas vagamente explorado na segunda: o plano de Dr. Ford (Anthony Hopkins).

O destaque na narrativa de Maeve e Caleb fica para a escolha estética de situar a narrativa na Chicago dos violentos “Anos Loucos” (Annees Folles) que dá nome ao episódio. Mas, mais importante ainda, merece destaque como Jonathan Nolan e Lisa Joy fazem uso da meta-narrativa e do sentimento de nostalgia no episódio. Nada mais contemporâneo do que a série comentar a si mesma e através dela pontuar a capacidade do ser humano de se entreter com a própria capacidade para o desastre e a alienação. Há um jogo dentro do jogo? Sim, sempre houve. Mas agora o jogo dentro do jogo está inserido totalmente na narrativa do novo, ou seja, sob controle da Delos. É o sistema apropriando aquilo que antes o desafiara (como aliás, sempre se dá, em nosso mundo).

Em outro ponto, Bernard desperta do Sublime com novas habilidades e uma renovada motivação. O personagem de Jeffrey Wright é, ao lado da Maeve de Thandie Newton, um dos mais interessantes da série. Ele é, afinal, o Anfitrião que ama os seres humanos, e que tem entre suas diretrizes primárias a missão estabelecida por Dr. Ford de salvar a humanidade de si mesma. Tal como um herói mítico que retorna de um oráculo, Bernard tem acesso no Sublime ao conhecimento de todas as possibilidades do fim da humanidade e como apenas algumas séries de ações desencadeadas por ele podem significar a salvação dos algozes de seu povo. Com acenos para clássicos como o filme Minority Report, Bernard antecipa e desencadeia eventos. Ao seu lado, seu fiel protetor – também assim construído por Dr. Ford – Stubbs.

Há uma boa chance de que a trama de Bernard e Stubbs – que, na verdade, parece ser a trama principal de Westworld – se passar alguns anos no futuro em relação à Maeve e Caleb. É bem possível, inclusive, que a jovem “revolucionária” (bem ao estilo Sarah Connor) interpretada pela atriz Aurora Perrineau que encontra os dois Anfitriões que querem salvar a humanidade seja, na verdade, Frankie, a filha de Caleb (Aaron Paul) já adulta. Isso, é claro, colocaria a narrativa de Maeve como apenas mais uma peça do quebra-cabeças que culmina na narrativa de Bernard, que deve ter como grande antagonistas finais o Homem de Preto (Ed Harris) e Charlores (Tessa Thompson). Afinal, Bernard diz que pretende ajudar o grupo, que ao que tudo indica venha a ser uma espécie de resistência que deve lutar contra o controle dos Anfitriões sobre os seres humanos, a encontrar a “arma” que eles procuram enterrada em algum lugar do deserto.

E ainda no quesito de possíveis “timelines” diversas, cabe pontuar que não tivemos dessa vez a presença de Evan Rachel Wood no episódio. A sua nova personagem, Christina, é uma roteirista de NPCs para uma empresa de Games que se vê envolvida em uma misteriosa situação na qual um stalker, que já deveria ter morrido há algum tempo, a acusa de ter exposto a vida dele na narrativa de um jogo. A decisão de não mostrar a sua Christina, dessa vez, pode ter diversos significados. O primeiro, mais evidente, é o de dar mais tempo de tela à nova narrativa de Bernard e evitar distrações. Um outro motivo pode ser o de buscar aumentar o estranhamento diante da nova “Dolores” que é apresentada na narrativa de Maeve, e assim potencializar o meta-comentário do jogo dentro do jogo já aqui mencionado. Mas pode haver mais uma possibilidade que diga respeito, justamente, à timeline dessa narrativa. Algo que, como costuma acontecer, só compreenderemos melhor mais adiante na temporada, quando a trama em geral estiver melhor desenvolvida. 

E, é claro, que é esse um dos maiores atrativos de Westworld: a capacidade de nos fazer apreciar o todo apenas ao fim, e assim compreendermos de outra forma cada uma de suas partes, como um grande quebra-cabeças que assume os mais diversos significados a depender do ângulo que seja observado.  Assim como o Labirinto, o grande símbolo da série. Talvez, exatamente, como Dr. Ford queria. E é dessa forma que recebemos de volta com tanta gratidão nessa temporada. Assim, só nos resta esperar, ansiosamente diga-se de passagem, pelos próximos episódios de uma temporada que, pelo menos até o momento, avança sua trama como o Homem de Preto: de forma resoluta, direta e ameaçadora em direção a uma conclusão impactante.



Westworld

Temporada:
Episódio: 03
Título: Années Folles
Roteiro: Kevin Lau e Suzanne Wrubel
Direção: Hanelle M. Culpepper
Elenco: Evan Rachel Wood, Thandiwe Newton, Jeffrey Wright, Tessa Thompson, Aaron Paul, Angela Sarafyan e Ed Harris
Exibição original: 10 de julho de 2022 – HBO

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

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