Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta para Casa

Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta para Casa

O Homem-Aranha teve uma excelente adaptação para os cinemas nas mãos de Sam Raimi, mesmo com um terceiro filme problemático, para em seguida ter dois filmes irregulares dirigidos por Marc Webb. Nesse meio tempo a Marvel consolidou o MCU e após um acordo com a Sony conseguiu incluir o personagem em seu universo. Agora sob o comando de Jon Watts o herói chega ao seu terceiro filme em “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”, que deveria consolidar de vez a figura de Tom Holland como Peter Parker, mas os planos do produtor Kevin Feige tinham maiores ambições envolvendo futuras produções do MCU.

A ideia era utilizar o conceito de multiverso, que foi utilizado em outra produção envolvendo o Homem-Aranha (a animação “Homem-Aranha no Aranhaverso”) e também na série WandaVision (que também faz parte do MCU). Dessa forma, trouxeram para o universo protagonizado por Tom Holland personagens dos filmes comandados por Raimi e Webb. A premissa é interessante, mas o resultado é bastante irregular.

A trama começa exatamente após os eventos de “Longe de Casa” onde a identidade de Peter Parker sendo o Homem-Aranha foi revelada por J. Jonah Jameson (J. K. Simmons reprisando o papel que interpretou nos filmes de Raimi) e sua vida e das pessoas ao seu redor se transforma num caos. Após MJ e Ned, respectivamente namorada e melhor amigo de Peter, perderem vaga na universidade por sua associação com o Aranha, Parker procura o Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch como coadjuvante de luxo) para realizar alguma magia que faça com que as pessoas esqueçam que ele é amigão da vizinhança. O encanto dá errado, então pessoas de outros universos que sabem sobre a identidade do herói aparecem em sua realidade. Assim surgem os vilões dos longas dirigidos por Raimi e Webb.

Bom, a primeira coisa a se afirmar é que esse conceito de multiverso já tinha sido utilizado de maneira brilhante em Aranhaverso, então nessa versão live-action o roteiro de Chris McKenna e Erik Sommers não soube explorar tão bem o recurso, sobrando então o fan service como forma de dar a “Sem Volta para Casa” um pouco de emoção.

Utilizar a nostalgia como muleta é complicado já que se por um lado utiliza a questão emocional dos fãs, por outro mostra a fragilidade dessa nova versão do Homem-Aranha. Nos filmes anteriores de Jon Watts o cineasta acertou ao escolher Tom Holland, um ator mais novo e mais condizente para interpretar o jovem Peter Parker, mas por “obrigações” do MCU foi necessário incluir personagens do universo da Marvel (Homem de Ferro, Nick Fury). Então “Sem Volta para Casa” seria a oportunidade de consolidar Holland no papel, só que mais uma vez temos um coadjuvante (Doutor Estranho) junto com diversos personagens das versões anteriores do “universo” do Aranha.

O resultado é que os melhores momentos, especialmente os mais emocionantes, de “Sem Volta para Casa” envolvem os filmes anteriores do Aranha, fazendo com que a versão de Jon Watts perca muito da “força” que construiu nos dois primeiros longas.

Além disso, se anteriormente Watts se destacou na parte técnica, nessa terceira parte o lado criativo esteve muito engessado. Um dos motivos é estar “preso” ao MCU, assim foi necessário fazer uma cena de ação envolvendo a lógica visual do filme “Doutor Estranho”, já que o personagem está no elenco, por exemplo. Ou o fato de usar momentos que remetessem às obras de Raimi e Webb. Dessa forma, pouco sobra para se criar um estilo próprio para a versão de Tom Holland. Isso se reflete em cenas de ação genéricas e pouco inventivas.

O excesso de piadas também prejudica a trama, especialmente seu lado emocional. O humor faz parte do MCU e muitos filmes usam esse recurso de maneira interessante, inclusive os próprios filmes do Aranha de Jon Watts. Contudo, em “Sem Volta para Casa” o roteiro exagera nos alívios cômicos em detrimento do tom dramático da narrativa.

Felizmente o elenco é muito bom e a volta de atores como Willem Dafoe e Alfred Molina faz uma grande diferença. O destaque é sem dúvidas Dafoe, que constrói mais uma vez Norman Osborn / Duende Verde de maneira brilhante e ainda mais ameaçadora.

Outro elemento que prejudica o tom da narrativa é a trilha sonora de Michael Giacchino, que em muitos momentos exagera em temas emocionais, quase “implorando” para que o espectador se emocione com o que está vendo em tela. Mas isso serve apenas para deixar a cena piegas e passando do ponto.

Em síntese, “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” é um filme competente, mas que não explora tão bem o recurso do multiverso e transforma a obra em um grande fan service. Se por um lado agrada aos fãs, de outro mostra que a “versão” protagonizada por Tom Holland ainda não está consolidada a ponto de ter vida própria sem “ajuda” de algum coadjuvante de luxo.


Uma frase: – Max Dillon: “Deve haver um Homem-Aranha negro em algum lugar por aí.”

Uma cena: A luta no apartamento de Happy Hogan.

Uma curiosidade: Como no filme original do Homem-Aranha, Willem Dafoe mais uma vez usou próteses dentárias enquanto Norman Osborn e seus dentes verdadeiros eram mostrados para a persona do Duende Verde.


Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (Spider-Man: No Way Home)

Direção: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna e Erik Sommers
Elenco: Tom Holland, Zendaya, Benedict Cumberbatch, Jacob Batalon, Jon Favreau, Jamie Foxx, Willem Dafoe, Alfred Molina, Benedict Wong, Tony Revolori, Marisa Tomei, Andrew Garfield e Tobey Maguire
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Ano: 2021
Duração: 148 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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