Crítica | Farewell Amor

Crítica | Farewell Amor

Lançado em alguns festivais (como o de Sundance) no ano passado e disponível no catálogo do MUBI, “Farewell Amor” marca uma bela estreia da cineasta tanzaniana/americana Ekwa Misangi. Sem se preocupar em explorar os problemas políticos, o filme traz uma história que conversa sobre a experiência de imigrantes de uma forma mais intimista e focada na vida dos personagens, trazendo um olhar interessante e que foge um pouco do comum em produções que conversam sobre esse mesmo tema.

A primeira cena do filme nos apresenta uma família que se reúne num aeroporto após 17 anos de separação. Walter, um angolano que viveu nos Estados Unidos durante todo esse tempo, vai recepcionar a sua mulher e também a sua filha já adolescente. Uma vez reunidos num minúsculo apartamento, eles precisam vencer algumas diferenças e problemas para serem uma família de verdade.

É bastante comum encontrar uma abordagem mais política ou ‘violenta’ em obras como esta, mas Ekwa Misangi, que dirigiu e escreveu também o roteiro, “pula essa parte” e resolve colocar suas lentes próximas dos dramas dessa família que viveu separada por quase duas décadas antes de, finalmente, estarem morando juntas. Walter trabalha como motorista de aplicativo em Nova York e, com isso, conseguiu depois de um longo tempo trazer finalmente sua esposa e sua filha para viver junto com ele. A grande treta aqui é que, além de qualquer pessoa mudar ao longo de tantos anos, Walter se envolveu com outra mulher, algo que torna tudo ainda mais difícil e doloroso.

Pai e Filha

Além do excelente trabalho com o elenco, dando espaço para cada um dos três protagonistas — Walter, sua esposa e sua filha adolescente — brilharem e resolvem seus próprios arcos de maneira bem satisfatória, Misangi acerta muito em incluir a trilha sonora como parte importante de toda a história. É justamente na música que, principalmente, pai e filha irão se entender e, mais que isso, a escolha dos personagens serem angolanos contribui e muito para deixar o filme mais próximo dos espectadores brasileiros, uma vez que Angola é muito Brasil, tanto afetiva quanto musicalmente.

A atitude de Walter, nada digna de um homem de família, deixa na história um resquício de mea-culpa ou ‘desonestidade’ por parte de seu personagem. Ainda assim, esse enfoque emocional e os dramas apresentados em “Farewell Amor” conseguem criar uma história cativante. Tanto os atores, quanto a cineasta acertam no tom e na proposta que o filme apresenta, trazendo uma história que é embalada por um suingue gostoso demais de se assistir.


Uma frase: “Quando a gente se conheceu, a gente não sabia se íamos estar vivos para ver o dia seguinte

Uma cena: “A última dança de Walter com sua amante.

Uma curiosidade: “Durante o filme, algumas músicas e até conversas estão em português, que é a língua oficial de Angola.


Farewell Amor

Direção: Ekwa Msangi
Roteiro: Ekwa Msangi
Elenco: Ntare Guma Mbaho Mwine, Zainab Jah, Jayme Lawson,  Joie Lee, Nana Mensah e Marcus Scribner
Ano: 2020
Duração: 118 minutos

marciomelo

Baiano, natural de Conceição do Almeida, sou engenheiro de software em horário comercial e escritor nas horas vagas. Sobrevivi à queda de um carro em movimento, tenho o crânio fissurado por conta de uma aposta com skate e torço por um time COLOSSAL.

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