Crítica | 007 – Sem Tempo Para Morrer

Crítica | 007 – Sem Tempo Para Morrer

Uma das grandes certezas que tomamos consciência depois de sobreviver à primeira infância é que tudo vai acabar. Alguns não se dão conta que seu tempo já passou, enquanto outros percebem o que está acontecendo, e por mais que tudo isso seja muito comum, ainda assim, pode ser chocante. Finalmente, após 15 anos, chegou a vez do sr. Daniel Craig dar adeus à franquia mais respeitada do cinema.

Dirigida por Cary Fukunaga (Beasts of No Nation) e co-estrelada por Rami Malek, Léa Seydoux e Lashana Lynch, 007 – Sem Tempo para Morrer traz consigo grandes responsabilidades em relação ao futuro das salas de cinema que estão ameaçadas por streamings e, ainda por cima, carrega o peso de ser o vigésimo quinto filme da franquia que encerra a passagem de Daniel Craig como protagonista.

O filme trouxe características que a maioria dos fãs da franquia aprenderam a admirar tanto no personagem quanto nas histórias. Quase tudo está ali: o homem sedutor que deseja, a postura elegante aliado ao comportamento errático (sempre ajustado na porrada e no dedo), sem esquecer dos vilões com alguma deformidade facial. Ao mesmo tempo, podemos nos divertir com cenas de ação mentirosas e espetaculares, dispositivos futuristas e o Aston Martin equipado com ferramentas que inspiraram muitos videogames por aí.

Sendo esse o filme que traria o desfecho, certas decisões me pareceram um pouco exageradas. Algumas coisas foram muito simplórias e fantasiosas, como o que decidiram fazer com a Spectre. Algo digno da última temporada de uma certa série da “Agá Bê Ó”, mas no fim das contas podem ser plenamente ignoradas. Já o que foi decidido sobre o agente Felix, parceiro de James Bond nessa saga, foi bem previsível.

As atuações são boas e houve uma maior participação das mulheres. As personagens novas que surgiram nesse filme começaram interagindo com Bond de uma forma que incitava a sedução, mas acabava que seus papéis reais convergiam em ajudar o velhinho a se livrar de alguma situação embaraçosa. Obviamente estou falando sobre Ana de Armas e a incrível Lashana Lynch.

Sabe o que eu acho?

Numa época em que precisamos encarar a triste realidade do “Me Too”, a grande vantagem de assistir a esse novo “007” é perceber que não foi possível reconstruir totalmente o mito de James Bond, mas é possível alterar a realidade ao redor dele. E me parece que essa é a grande verdade do nosso mundo, a maioria daqueles que já estão estabelecidos se recusam a mudar o seu jeito de pensar, a personalidade é moldada por vivências e o que aprendemos disso.

É possível lutar por uma melhora, mas infelizmente Bond (seus fãs) é um mito estabelecido em cima de princípios que eram valorizados em uma época diferente da nossa, mas ainda assim foi muito bom perceber o quão diferente ele foi em relação aos outros. Um personagem que nos deu a oportunidade de conhecer seu passado, fraquezas e qualidades humanas. Um herói mais humano (e com costelas de ferro, já que sobreviveu a inúmeras explosões).

Foi um final digno para um personagem que foi concebido sob uma nova ótica, que foi muito questionado e aderiu a alguns retrocessos, mas que traz esperança para o futuro.


Uma frase: – “É só um número”

Uma cena: Nomi botando racista pra queimar, literalmente.

Uma curiosidade: Cary Fukunaga é o primeiro diretor americano a dirigir um filme oficial de Bond. Fukunaga também é o primeiro diretor de herança asiática a dirigir um filme de James Bond.


007 – Sem Tempo Para Morrer (No Time to Die)

Direção: Cary Joji Fukunaga
Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade, Cary Joji Fukunaga e Phoebe Waller-Bridge, história de Neal Purvis, Robert Wade e Cary Joji Fukunaga
Elenco: Daniel Craig, Rami Malek, Léa Seydoux, Lashana Lynch, Ben Whishaw, Naomie Harris, Jeffrey Wright, Christoph Waltz e Ralph Fiennes
Gênero: Ação, Aventura, Thriller
Ano: 2021
Duração: 163 minutos

Junio Queiroz

Sou bonito, sou gostoso, jogo bola e danço. Psicólogo humanista. As vezes edito algum podcast da casa.

2 comentários sobre “Crítica | 007 – Sem Tempo Para Morrer

  1. Assisti ontem e gostei bastante. A participação das mulheres ficou muito boa, queria ter visto Ana de Armas mais tempo em tela e Lashana rouba a cena sempre que aparece. É um filme bem emocional e talvez o que mostre o lado mais “humano” de James Bond.

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