Review | 12 Minutes

Review | 12 Minutes

O que você faria se pudesse reviver o mesmo dia, guardando o conhecimento de tudo que aconteceu, sendo a única pessoa ciente desta repetição? E se você estivesse preso nesse laço, condenado a viver um mesmo período eternamente, dia após dia, minuto após minuto, de novo e de novo?

Essas perguntas são o centro de um subgênero bastante recorrente na ficção-científica e na fantasia, que embora remonte de meados do século XX (como o conto “Double and Redoubled”, de 1941, escrito por Malcolm Jameson) se popularizou pra valer no imaginário popular na grande obra-prima cinematográfica “Feitiço do Tempo”, de 1993, onde o cínico e arrogante “homem do tempo” Phil Connors (magistralmente interpretado por Bill Murray) fica condenado a reviver o mesmo dia. É um filme tão influente que ajudou a cunhar o termo “dia da marmota” para simbolizar situações repetidas e enfadonhas.

Nos videogames, no entanto, era um conceito até pouco tempo atrás muito pouco explorado. Um dos exemplos mais conhecidos é daquele que talvez seja o mais estranho jogo da franquia Zelda, “Majora’s Mask”, lançado originalmente para o Nintendo 64 no ano 2000. Outro exemplo é o divertido e charmoso jogo de puzzle “The Sexy Brutale”. Mais recente ainda, tivemos o fenomenal Outer Wilds. 2021, no entanto, parece estar explorando o gênero com força; além do já lançado “Returnal”, para PlayStation 5, temos programado para Setembro o game de ação “Deathloop” – e um dos títulos mais aguardados para os fãs de jogos indie, “12 Minutes”.

O que “12 Minutes” faz de mais interessante, contudo, é trazer a ideia para o campo dos point-and-click adventures. E é surpreendente que ninguém, até então, tenha tentado fazer um jogo de “protagonista preso em um laço temporal” sob essa ótica – já que é um casamento praticamente perfeito. A ideia de ficar tentando diferentes maneiras de resolver um puzzle podem ser testadas à exaustão e sem medo das consequências – já que há sempre um novo “loop” para tentar novamente. É um gênero perfeitamente associado à quebra-cabeças, tentativas e erros, e aprendizado – e aproveitar o conhecimento adquirido em um determinado dia para fazer coisas diferentes nas próximas repetições.

Outro ponto positivo do jogo é a maneira como o protagonista reage à sua prisão temporal, sempre tendo um comentário ou insight quando um novo dia recomeça, e sempre tentando maneiras de provar seu ponto para outros personagens ou descobrir como quebrar o loop e se libertar.

A história de “12 Minutes” é simples e se passa toda em um mesmo ambiente – um apertado quitinete onde vive o anônimo protagonista e sua anônima esposa – e o laço, que acontece nos doze minutos que dão nome ao jogo envolvem o personagem chegando em casa do trabalho, preparando-se para um refeição com a companheira e sendo surpreendido por um invasor – o que culmina em um desfecho trágico.

O jogo usa o ambiente confinado e curto espaço de tempo à seu favor, inserindo dezenas de possibilidades de interações de objetos e diálogos, que talvez ficassem muito mais esparsas em um setting mais amplo, ou em um loop mais longo. A cada novo dia você tem uma coisa diferente para experimentar, e muitas delas envolvem fazer algo um pouquinho diferente do que fez no dia anterior – e o game consegue reagir à maioria das suas tentativas.

Infelizmente, o jogo tem também alguns problemas bem sérios. Apesar de trazer uma lista de estrelas de Hollywood para dublar os personagens (James McAvoy, Daisy Ridley e Willam Dafoe), a atuação da dublagem é bem inconstante (embora na maior parte do tempo seja decente). O maior defeito do jogo, contudo, está naquilo que é o cerne de todo bom jogo de adventure – o roteiro.

Como é de se esperar em obras que exploram viagens no tempo, existem os eventuais furos de roteiro; contudo, esse não é nem o principal problema – os personagens têm motivações estranhas, reagem de forma artificial a certas situações e aceitam sem questionar muito certos contextos (parte disso, compreensivelmente, decorre da limitação do espaço de tempo em que o jogo se passa). Os diálogos, em geral, são bem fracos, e, pior de tudo – a grande “reviravolta” do jogo parece forçada demais, com o puro intuito de causar choque ao jogador (e não funciona muito bem). No final das contas, fica a história de “12 Minutes” quase como aquele episódio genérico de um seriado qualquer esquecível de ficção-científica. Além disso, o jogo trata de forma bem questionável situações que envolvem violência contra mulheres, com algumas cenas totalmente desnecessárias.

Como um jogo de adventure, “12 Minutes” é bem fácil, e se você já tem certa “quilometragem” com o gênero (se jogou todos os clássicos da LucasArts já está de bom tamanho) você vai conseguir chegar aos principais finais sem muita dificuldade. Em suma, o jogo é o clássico “estilo sobre substância” – existia muito potencial, desperdiçado com uma escrita preguiçosa e simplista demais. Não deixa de ser um exercício interessante, e eventualmente o jogo tem seus momentos, mas é difícil recomendá-lo para alguém que não um fã hardcore de adventures ou de histórias envolvendo loops temporais.


Classificação:


12 Minutes

Plataformas: Microsoft Windows, Xbox One, Xbox Series X/S (incluído no Xbox Game Pass)
Produtora: Annapurna Interactive
Desenvolvedor: Luís António
Ano: 2021
Gênero: Adventure
Classificação: 18 anos

Dario Lima

Dario Lima, além de ser faixa branca em todas as artes marciais e modalidades de combate conhecidas pelo homem, é também formado em Cinema. Mas sua verdadeira paixão são os joguinhos eletrônicos, desde que ganhou um Atari de presente do pai em uma época longínqua em que Menudo tocava nas rádios, Chevette era carro de playboy e McGyver passava na TV nas manhãs de domingo. Escreve sobre games na POCILGA e de vez em quando perturba os outros em algum episódio do Varacast.

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