Crítica | Os 7 de Chicago

Crítica | Os 7 de Chicago

O roteirista Aaron Sorkin é conhecido por seus diálogos rápidos e inteligentes, onde muitas vezes é até um pouco difícil acompanhar a verborragia. Em “Os 7 de Chicago” ele dirige seu 2º filme e diminui um pouco o ritmo “frenético” da narrativa, mas mantém o didatismo do desenvolvimento da trama.

A produção lançada pela Netflix pode ser definida como uma simples história de tribunal, contudo Sorkin acerta a mão na direção e com atuações expressivas consegue desenvolver uma obra cinematográfica acima de média, que usa os clichês do gênero de maneira competente.

Inspirado em eventos reais, “Os 7 de Chicago” conta a história do julgamento dos 7 (que inicialmente eram 8) réus que foram processados pelo governo dos EUA por ter feito um protesto ocorrido na cidade de Chicago no final dos anos 1970 durante a convenção do partido democrata. Os manifestantes entraram em conflito com a polícia local resultando em uma grande tragédia. Mas será que eles teriam um julgamento justo?

Aaron Sorkin inicia o filme de maneira brilhante, usando seu ritmo ágil para contextualizar o espectador no período histórico, onde os EUA estavam em guerra contra o Vietnã e muitos jovens protestavam contra o conflito. Em seguida ele apresenta os personagens, ou melhor, os réus do julgamento. Nesse ponto um detalhe técnico chama a atenção em “Os 7 de Chicago”: a montagem.

A maneira como Alan Baumgarten monta o filme é brilhante e um dos grandes diferenciais de “Os 7 de Chicago”. No início começa com uma cadência mais acelerada, mas após a abertura vamos direto para o julgamento. A partir dos eventos do tribunal, a trama retorna para determinados pontos para apresentar os detalhes da narrativa.

Um ótimo exemplo de como isso é feito de maneira inteligente é no momento em que a cena alterna entre o depoimento de uma testemunha na audiência, o personagem Abbie Hoffman narrando seu ponto de vista em cima de um palco fazendo um stand-up e o que realmente aconteceu. Dessa forma, fica claro para o espectador como a maneira como algo é contado faz toda a diferença da realidade.

Outro diferencial são as atuações e “Os 7 de Chicago” conta com um elenco incrível. É impressionante até como um ator como Eddie Redmayne, que sempre exagera em suas performances, encontra um equilíbrio perfeito para o personagem. Dando vida à Tom Hayden, líder da SDS (Estudantes por uma sociedade democrática), Redmayne começa de maneira comedida, para no final mostrar a verdadeira “explosão” de Hayden, ponto essencial para se entender a trama. Outro que surpreende é Sacha Baron Cohen, que transforma Abbie em um alívio cômico para a narrativa, mas sem deixar a seriedade de lado.

Inclusive, é interessante ver como Aaron Sorkin consegue manter o equilíbrio entre a urgência e seriedade da narrativa, com pequenos alívios cômicos, sem perder a coesão. O filme explora a trama de maneira didática e interessante, sem apelar para diálogos expositivos. Em alguns momentos a complexidade dos temas é diluída em nome da história, como a simplificação da parte relacionada aos Panteras Negras, por exemplo. Ainda assim, o roteiro consegue se manter relevante e reflexivo acerca da temática geral abordada.

Entretanto, em alguns momentos o filme abusa dos clichês de filmes de tribunal. Um bom exemplo é aquele momento em que um dos personagens tem aquela ideia brilhante que ninguém tinha pensado antes, justamente quando todos acreditavam que tudo estava perdido. Aaron Sorkin está consciente disso, então usa esses recursos de maneira competente na maior parte do tempo. Além disso, como estamos diante de uma adaptação de eventos reais, muitos detalhes são alterados em nome do drama para que funcione melhor dentro da narrativa. Isso infelizmente é comum em obras cinematográficas do gênero e que aqui, por sorte, não compromete a história.

Em seu desfecho “Os 7 de Chicago” apela para o sentimentalismo de maneira um pouco forçada, onde a trilha sonora tem um papel fundamental em transformar o momento em algo um pouco artificial. Ainda assim, é um erro menor dentro do resultado final e a obra de Aaron Sorkin é acima da média, utilizando clichês de maneira assertiva, contando com os diferenciais das atuações brilhantes e da excelente montagem.


Uma frase: – Richard Schultz: “Estamos dando a eles o que querem: um palco e uma plateia.”

Uma cena: A cena de abertura do filme que apresenta o contexto histórico e os personagens.

Uma curiosidade: No filme, Rennie Davis mantém um caderno com todos os nomes dos soldados americanos que morreram no Vietnã durante o julgamento. Na vida real, Rennie Davis também anotou os nomes dos soldados vietnamitas.


Os 7 de Chicago (Os 7 de Chicago)

Direção: Aaron Sorkin
Roteiro: Aaron Sorkin
Elenco: Yahya Abdul-Mateen II, Sacha Baron Cohen, Daniel Flaherty, Joseph Gordon-Levitt, Michael Keaton, Frank Langella, John Carroll Lynch, Eddie Redmayne, Noah Robbins, Mark Rylance, Alex Sharp e Jeremy Strong
Gênero: Drama, História, Thriller
Ano: 2020
Duração: 130 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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