Crítica | Um Príncipe em Nova York 2

Crítica | Um Príncipe em Nova York 2

Quando um filme bastante querido ganha uma continuação muito tempo depois, sempre fica a expectativa graças ao sentimento de nostalgia. Esse é o caso de “Um Príncipe em Nova York 2”, cuja sequência chega ao streaming da Amazon Prime Video mais de 30 anos após o lançamento do primeiro, em 1988. Apesar de trazer boa parte do elenco original, a continuação dirigida por Craig Brewer peca principalmente naquela que deveria ser a sua principal qualidade: o humor.

Na trama, o príncipe Akeem Joffer (Eddie Murphy) descobre ter um filho bastardo em Nova York e decide voltar à cidade em busca daquele que deverá ser o futuro rei do fictício reino de Zamunda. No entanto, a narrativa soluciona logo essa questão, com a maior parte do filme focando na convivência do recém descoberto Lavelle Junson (Jermaine Fowler) com a família real e seu contato com a terra natal do pai enquanto se prepara para virar príncipe e herdeiro do trono.

No filme original, a trama girava em torno da jornada do jovem Akeem em busca de uma noiva e se misturava com seu choque cultural com a sociedade americana, que, junto com a dinâmica com o servo Semmi (Arsenio Hall), garantia boas risadas. Na sequência, contudo, o diretor Craig Brewer resolve levar a trama para Zamunda, o que acaba por gerar problemas para Um Príncipe em Nova York 2.

O principal deles é que essa inversão do conflito de culturas prejudica muito o humor, já que a inversão da dinâmica com o jovem Lavelle Junson  conhecendo os costumes de Zamunda não chega nem perto da experiência que seu pai teve nos Estados Unidos. No original, o jovem Akeem trocou a vida de luxo pela de trabalhador em Nova York e a trama explorou o contraste desse estilo de viver de maneira brilhante, principalmente na pele do personagem Semmi, que sempre reclamava e arrumava uma forma de trazer conforto novamente para si. Na continuação, ficamos presos a Lavelle que vinha de uma existência difícil e se acostuma facilmente à riqueza da sua nova família, então não apresenta muitos conflitos e dessa forma temos menos potencial de humor.

Na verdade, o grande culpado pelos problemas do filme é o roteiro de Kenya Barris, Barry W. Blaustein e David Sheffield. O desenvolvimento da narrativa é bem ruim e os conflitos se resolvem facilmente, como a citada busca do filho de Akeem Joffer. Além disso, a história cria elementos interessantes, como a relação de Akeem com suas filhas e esposa, mas depois não desenvolve o tema o suficiente, que se perde na trama sem um desfecho convincente.

Apresentando um roteiro ruim, não há espaço para o elenco fazer muita coisa. A começar pelo próprio Eddie Murphy que atua no modo automático, sem apresentar seu carisma tradicional. Para piorar, Um Príncipe em Nova York 2 elimina a dinâmica entre Murphy e Arsenio Hall, que sem espaço vira apenas um coadjuvante de luxo, problema que se repete com outros personagens, a exemplo do rei Jaffe Joffer (James Earl Jones). Quem consegue se destacar um pouco é Wesley Snipes, mas seu personagem General Izzi não tem muito espaço, sendo apresentado como uma mera figura caricata. Além dele, Jermaine Fowler se mostra um Lavelle com carisma, mas o ator não consegue ir muito além do básico.

Já na parte técnica, o filme também apresenta uma irregularidade. Os efeitos especiais são um destaque negativo, ao apresentar uma Zamunda digital e genérica que é muito prejudicada pela artificialidade. Em compensação, os figurinos são bonitos e captam bem o estilo africano, assim como no primeiro filme. Da mesma maneira, a maquiagem continua sendo o grande destaque, já que a apresentação dos personagens interpretadas por Murphy e Hall continua impressionante, mas sem grande evolução mesmo com trinta anos de diferença do original.

Outro ponto positivo é a trilha sonora, apresentando grandes nomes da música negra, como Gladys Knight, Salt-N-Pepa e John Legend, que inclusive fazem participações especiais no filme. Essas aparições são também um dos pontos altos do filme, mas comprovam o fracasso do roteiro, que sem conseguir apresentar cenas interessantes e engraçadas, precisa se apoiar nas músicas para apresentar qualidade.

Em síntese, além do problema na parte do humor, também falta em Um Príncipe em Nova York 2 um pouco do charme do original. Enquanto o filme de John Landis conseguiu capturar muito bem o espírito de sua época através do figurino, músicas e piadas, a obra comandada por Craig Brewer não conseguiu se mostrar atual, e o pior de tudo, não conseguiu ser tão engraçada quanto poderia ser.


Uma frase: – Morris: “Não pagou pensão por 30 anos e voltou? Que trouxa!”

Uma cena: O funeral do rei Jaffe Joffer.

Uma curiosidade: O filme estava previsto para estrear nos cinemas em agosto de 2020, mas por causa da pandemia do COVID-19 a Paramount Pictures decidiu vender os direitos de distribuição mundial para a Amazon Prime Video.


Um Príncipe em Nova York 2 (Coming 2 America)

Direção: Craig Brewer
Roteiro: Kenya Barris, Barry W. Blaustein e David Sheffield, história de Barry W. Blaustein, David Sheffield e Justin Kanew
Elenco: Eddie Murphy, Arsenio Hall, Jermaine Fowler, Leslie Jones, Tracy Morgan, KiKi Layne, Shari Headley, Teyana Taylor, Wesley Snipes, James Earl Jones e Nomzamo Mbatha
Gênero: Comédia
Ano: 2021
Duração: 110 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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