Review | Control

Review | Control

Em certo momento de Control, você se depara com A Geladeira. Parece uma geladeira comum, daquelas antigas, modelo anos 60. Alguns desenhos infantis estão pregados na porta da dela e é impossível remover ou tirar os desenhos. A Geladeira e seus desenhos sobreviveram, intactos, ao colapso do Grande Hotel de Nova Iorque.

É imprescindível que A Geladeira seja constantemente observada por um supervisor consciente. O comportamento dela é absolutamente imprevisível e errático se ela não for acalmada por contato ocular permanente.

No momento em que a protagonista Jesse Faden encontra a sala onde A Geladeira está isolada, ela percebe um choro nervoso vindo do interior do aposento. Pelo intercomunicador, ela descobre que o lamento pertence ao Agente Philip. O agente Philip foi esquecido na sala da geladeira durante o lockdown na casa antiga, e ninguém foi rendê-lo ao final de seu turno de observação d’A Geladeira. Agente Philip está lá há horas sem sequer poder piscar.

Este é só um pequeno exemplo de um mundo riquíssimo de detalhes misteriosos e divertidos que é Control. Produzido pela finlandesa Remedy Entertainment (de Max Payne 1 e 2, Alan Wake e Quantum Break), o game mantém a tradição da desenvolvedora em fazer jogos de tiro em terceira pessoa com um “twist”, um algo a mais além da simples troca de tiros, na jogabilidade.

Certas empresas se tornam tão específicas com um gênero de jogo que dominam absurdamente esse gênero e raramente são superadas. Foi o que aconteceu com a iD Software e os jogos de tiro em primeira pessoa da década de 90; bem como com a LucasArts e a Sierra e seus adventures point and click. E, por muito tempo, a BioWare era praticamente sinônimo de RPG eletrônico ocidental.

Nesse sentido, Control é o ápice do que a Remedy já fez até hoje. Do ponto de vista da jogabilidade, é um jogo muito gostoso de jogar. A protagonista (vamos detalhar essa parte mais a frente) possui algumas habilidades sobre-humanas e todas elas são muito úteis e muito bem integradas ao gameplay do jogo. Como todo jogo da Remedy, não faltam tiroteios, mas o uso dos poderes – arremessar objetos, criar escudos com detritos, controlar mentes – é intrínseco e imprescindível à ação.

A história envolve uma jovem, a supracitada Jesse Faden, que está procurando o irmão desaparecido há anos. Tudo que Jesse se lembra é que houve um incidente muito bizarro em sua cidade natal, Ordinary, e que Dylan foi levado por agentes de alguma organização desconhecida.

Pois eis que após anos de procura (e com uma certa ajudinha) Jesse chega a um misterioso, porém aparentemente ordinário, prédio burocrático no meio de Nova Iorque. À primeira vista, um prédio governamental burocrático comum, mas bastam alguns minutos dentro do edifício para Jesse perceber que a realidade é muito mais estranha do que imagina.

Embora essa trama principal de Control por si só não tenha nada de muito inovador, o que faz de um jogo absolutamente especial é todo o mundo que é construído em volta dela. Tudo que envolve a tal organização, sua função e objetivos, e o papel de Jesse em tudo isso é absolutamente fascinante e muito divertido de acompanhar.

Descobrir as coisas em Control me trouxe um sentimento muito gostoso, que me remeteu principalmente aos seriados de mistério que eu tanto gosto – Lost, WestWorld e em especial a uma série pouco conhecida (e que eu adoro) do canal Sci-Fi, chamada “The Lost Room”. Talvez muito dessa “vibe” tenha vindo da experiência com o jogo anterior da desenvolvedora, Quantum Break (que tinha, literalmente, trechos de um seriado intercalados com o jogo).

O jogo também tem inspiração nas creepypastas e SCPs, tão populares na internet. Existe todo um mundo de mistério e “paranaturalidade” em torno do universo de Control que é muito criativo e fascinante de descobrir. O jogo transborda de informações opcionais sobre esse mundo – muitas delas escondidas em centenas de documentos, áudios e vídeos encontrados pelo caminho. Apesar dessas informações não serem obrigatórias para compreender a trama central do jogo, eu fiz questão de ler, ouvir e assisti-las integralmente – e adorei cada uma delas.

Além disso, existem missões secundárias que muitas vezes acabam sendo mais divertidas que as missões obrigatórias do game. Além disso, Control é um jogo tecnicamente incrível. Além da excelente trilha sonora, temos um primoroso trabalho de direção de arte, que consegue transformar um potencialmente entediante prédio de escritórios em algo incrível, único e cheio de vida (sim, o jogo inteiro se passa dentro do prédio – e não tem um momento monótono sequer).

A experiência de jogar Control é sensacional. Além da jogabilidade incrivelmente competente (muito superior a maioria dos jogos do gênero) e um trabalho artístico primoroso, Control é, acima de tudo, um mergulho num fascinante mundo de mistério, surpresas e momentos grandiosos (um, em especial, envolve um singelo… cinzeiro). É muito possivelmente o melhor jogo da Remedy até a data, e me instiga muito saber o que eles têm no forno para o futuro.


Classificação:


Control

Plataformas: Microsoft Windows, PlayStation 4, Xbox One, Luna, Nintendo Switch, PlayStation 5 e Xbox Series X/S
Produtora: 505 Games
Desenvolvedora: Remedy Entertainment
Diretor: Mikael Kasurinen
Ano: 2019

Dario Lima

Dario Lima, além de ser faixa branca em todas as artes marciais e modalidades de combate conhecidas pelo homem, é também formado em Cinema. Mas sua verdadeira paixão são os joguinhos eletrônicos, desde que ganhou um Atari de presente do pai em uma época longínqua em que Menudo tocava nas rádios, Chevette era carro de playboy e McGyver passava na TV nas manhãs de domingo. Escreve sobre games na POCILGA e de vez em quando perturba os outros em algum episódio do Varacast.

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