Crítica | Rede de Ódio (Netflix)

Crítica | Rede de Ódio (Netflix)

A disseminação da desinformação nas redes sociais bem como seus impactos e consequências é o tema central do filme polonês “Rede de Ódio”. Em tempos em que fake news ditam as discussões e embates sociais e políticos, criando polarização e ‘ódio’ para definir os rumos das nações ao redor do mundo, essa produção pode servir como alerta. 

Na trama vamos acompanhar a trajetória de um jovem (Maciej Musiałowski) que após ser expulso da faculdade de Direito por plágio encontra sucesso no mundo sombrio da difamação de pessoas nas redes sociais. Além de fazer sucesso na sua nova “profissão”, ele entra numa espiral viciosa de ressentimento e vingança contra uma família que o ajudava financeiramente a pagar seus estudos.

Dirigido pelo cineasta polonês Jan Komasa – que teve seu filme anterior “Corpus Christi” indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2019 – “Rede de Ódio” não se resume a conversar apenas sobre a disseminação do ódio online. Um dos principais arcos acompanha a “relação” (com muitas aspas) que o protagonista possui, ou acha que possui, com a filha da tal família (Vanessa Aleksander) que o ajuda apesar de, em certa medida, nutrirem um sentimento de pena por ele.

Vermelhos?

Nada disso justifica seus atos que começam com gravações escondidas por celular e escalonam rapidamente para espionagem de alto nível. O segundo ato do filme se volta aos esforços de um grupo, sem muitos escrúpulos, para acabar com a reputação de um candidato progressista à prefeitura de Varsóvia (Maciej Stuhr). Com as habilidades destrutivas e “inventivas” do protagonista, rapidamente uma onda fascista começa a crescer junto com uma polarização que escala rapidamente para atos de bastante violência.

O filme é um pouco longo e justamente o segundo ato parece se prolongar demais. Talvez por tentar seguir tantos arcos envolvendo as disputas políticas e também os interesses pessoais do protagonista com a garota e todos aqueles que ele procura, de certa forma, se vingar. E a medida que ele ganha prestígio nesse perigoso mundo, figuras ainda mais odiosas começam a dar as caras. Com isso mais arcos precisam ser fechados, o que torna o filme um pouco cansativo, mas nada que atrapalhe ou não faça valer o seu tempo.

Digita ai: Cloroquina

Fugindo um pouco do padrão do cinema americano, “Rede de Ódio” encerra sua história de uma forma um pouco diferente do que estamos acostumados a assistir. Sim, existem lições a serem aprendidas, existem mudanças e alguns eventos catalisadores são resolvidos em um clímax bem construído. A grande questão é que é uma daquelas obras que, se analisadas num contexto mais amplo, vão servir como um alerta importante e precioso sobre os tempos atuais. 

Para os que procuram por redenção ou enxergam justificativas onde só há erro e, claro, ódio, talvez fosse necessário a Netflix entregar um subtítulo mais claro como “Corre que o Incel tá puto”.


Uma frase: “Você andou stalkeando meu perfil?”

Uma cenaO encontro sobre “o dia do julgamento final” dentro de um game online.

Uma curiosidade: O filme chegou a estrear nos cinemas poloneses esse ano mas por apenas 12 dias. Devido a pandemia acabou tendo que ir direto para os serviços de streaming.

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Rede de ódio (Sala samobójców. Hejter)

Direção: Jon Komasa
Roteiro: Mateusz Pacewicz
Elenco: Maciej Musiałowski, Danuta Stenk, Jacek Koman, Vanessa Aleksander, Maciej Stuhr e Agata Kulesza
Gênero: Drama, Thriller
Lançamento: 2020
Duração: 135 minutos

marciomelo

Baiano, natural de Conceição do Almeida, sou engenheiro de software em horário comercial e escritor nas horas vagas. Sobrevivi à queda de um carro em movimento, tenho o crânio fissurado por conta de uma aposta com skate e torço por um time COLOSSAL.

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