Review | Bosch – 6ª Temporada

Review | Bosch – 6ª Temporada

A mais longeva série da Amazon Prime, e uma das melhores séries policiais da atualidade, retorna para a sua sexta, e penúltima, temporada.

As chamadas “séries procedurais” são famosas nos EUA e, também, não deixam de fazer sucesso no mundo. Tratam-se de séries que, normalmente, exploram a atuação de grupos de investigação ou forças policiais. House, é uma série muito famosa, desse tipo, que aborda um grupo de médicos ao invés de policiais. A mais famosa, do gênero, sem dúvida em CSI, que gerou diversas herdeiras. NCIS, vai na mesma linha, bem como séries policiais e de ação, como Hawaii Five-0.

No geral, são séries que reproduzem um dos aspectos mais desgastados da teledramaturgia estadunidense: a repetição formulaica de estrutura de episódios sempre em torno de um “monstro da semana”, redundando em tramas sem qualquer desenvolvimento de personagens ou narrativas para além de cada episódio, merecendo a alcunha pouco enaltecedora que passou a discriminar séries dessa linha como “enlatados”. A grande vantagem deles é que não exige um engajamento contínuo da audiência, o que facilita um consumo mais difuso.

Porém, certos tipos de audiência – na qual me incluo – percebem o desenvolvimento de personagens e de tramas mais detalhadas como um dos grandes atrativos de seriados de televisão. Outro problema dos enlatados procedurais é a repetição, algo também associado à falta de uma estrutura narrativa mais complexa e a necessidade de entregar uma mercadoria mais palatável à uma audiência ampla.

Embora o procedural não seja um estilo que tenha muito apelo para mim, não o rejeito por completo. O problema é que logo percebo que a trama não se desenvolverá e perco o interesse em assistir à mesma coisa inúmeras vezes. Também gosto muito do gênero policial investigativo que é o mais comum tipo de procedural da TV. Acompanhei, por exemplo, as 5 primeiras temporadas de Hawaii Five-0. Porém, com uma empolgação decrescente até ter abandonado a série.

Recentemente, porém, algumas séries com um aspecto procedural têm se destacado por fugir do modelo enlatado e conseguir equilibrar alguns elementos de desenvolvimento narrativo mais complexos, de tramas e personagens. O segredo parece ser, ao invés de comprimir a investigação de um caso de forma apressada a apenas um episódio, estendê-lo ao longo de diversos episódios de uma temporada utilizando essa narrativa como às vezes pano de fundo, às vezes fio condutor, de outras narrativas que se aprofundam no desenvolvimento dos personagens e de suas histórias. Para pessoas como eu, é uma excelente alternativa. Principalmente quando essa série procedural-narrativa (vou chamá-la assim, na falta de outra classificação) explora o gênero policial. Bosch, série exclusiva da Amazon Prime, se encaixa perfeitamente nesse modelo.

Bosch

Hieronymus “Harry” Bosch (interpretado por Titus Welliver, também produtor da série), é um detetive da divisão de Homicídios de Hollywood do departamento de Polícia de Los Angeles, com treinamento militar das forças especiais sendo um veterano da primeira Guerra do Golfo e Afeganistão. Harry vem de um passado difícil, criado em lares adotivos depois que sua mãe, uma prostituta, fosse ela mesma vítima de um homicídio não solucionado. Isso não o impediu, porém, de desenvolver um gosto sofisticado por jazz e um profundo senso de justiça, sem deixar de observar as estritas regras de um trabalho policial que não se compromete à violar as regras legais para fazer o seu trabalho. 

O rico personagem foi criado pelo autor Michael Connelly – que no início de sua carreira foi repórter policial – e é o protagonista de uma série de 21 livros best-sellers. Connelly já teve algumas de suas obras adaptadas para o cinema, inclusive sua obra de estreia, The Black Echo, que também é a obra de estreia do personagem Bosch. A adaptação ganhou o nome de Dívida de Sangue (Blood Work), e é estrelada e dirigida por ninguém menos que Clint Eastwood, mas não traz o personagem Bosch. Foi preciso mesmo a série de TV da Amazon para que o personagem de Connelly ganhasse sua versão audiovisual.

Bosch foi, desde o princípio, uma gratíssima surpresa para mim. Foi uma das primeiras séries que vi quando assinei, alguns anos atrás, o serviço de streaming da Amazon, então iniciante, e com um catálogo ainda com poucas opções. De uma sentada só, como se diz aqui na soterópolis, assisti às três primeiras temporadas da série policial, cada uma delas com os já padrão 10 episódios das séries produzidas diretamente para plataformas de streaming. Roteiros bem construídos que apostam em viradas de enredo bem calculadas no mistério da temporada, fazendo você querer seguir assistindo um episódio atrás do outro sem perder o interesse, associado boa direção e montagens que reforçam esse ritmo.

Sem abrir mão do modelo procedural, a série aposta em se aprofundar na exposição o mais detalhada possível do cotidiano do trabalho dos agentes da lei da polícia de Los Angeles para imprimir maior verossimilhança à narrativa. O que poderia ser considerado gordura desnecessária em uma série enlatada é justamente aquilo que dá um sabor todo especial à Bosch, principalmente quando esses elementos burocráticos se tornam elementos importantes da narrativa que não está preocupada apenas em revelar quem é o criminoso, mas em garantir que haja provas em seu caso para colocá-lo atrás das grades.

Atualmente Bosch se encontra em sua sexta temporada, já sendo a mais longeva serviço de streaming da Amazon, já tendo sido, inclusive, confirmada para a sua sétima e última temporada. Para quem gosta de boa tramas policiais, com tons de noir, mistério, suspense e ação, Bosch é um deleite, daqueles capaz de se tornar quase um vício. A cada nova temporada de Bosch eu sou praticamente aprisionado pela narrativa, não raro consumindo a temporada inteira em cerca de um final de semana. E cada temporada costuma introduzir um arco narrativo novo, bem amarrado, e sem pontas soltas. Os produtores confiam que a audiência irá voltar não porque algum cliffhanger foi deixado no fim do último episódio da temporada, mas justamente pelo carisma do protagonista e de seu intérprete, e dos ótimos roteiros, enredos e desenvolvimento da trama.

Guardadas as devidas proporções eu coloco Bosch na mesma caixinha que reservo para outras séries próximas que navegam pelo gênero policial/crime como Ray Donovan e The Wire. Sem dúvida Bosch não é tão pretensiosa ou sofisticada quanto estas duas últimas, mas faz tão bem aquilo até se propõe a fazer dentro de um gênero que costuma ser tão mal explorado – e por isso desgastado – que merece seu destaque. Na sexta temporada, a série mantém a qualidade apresentada desde o primeiro episódio o que, considerando o “desgaste natural do tempo”, já não deixa de ser um grande mérito. Aparentemente o produtor e criador da série Eric Overmayer também sabe quando parar, considerando, como já dito, que a próxima temporada, a sétima, será a última. 



Bosch – 6ª Temporada

Criado por: Eric Overmyer
Emissora: Amazon Prime Video (Original)
Com: Titus WelliverJamie HectorAmy Aquino, Lance Reddick, Madison Lintz e Mimi Rogers.
Ano: 2020

 

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

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