Entenda como o BBB20 ressuscitou a audiência do reality show mais duradouro da TV brasileira

Entenda como o BBB20 ressuscitou a audiência do reality show mais duradouro da TV brasileira

Desde a primeira edição do Big Brother Brasil (BBB), em 2002, críticos de televisão já especulavam o prazo de validade da fórmula do reality show importada pela Rede Globo. Muitos duvidaram que fosse possível durar muito tempo o sucesso de um programa de tv que consiste em confinar pessoas numa casa sob vigilância de câmeras 24h por dia.

Mesmo que em quase 20 anos a atração tenha passado por mais altos do que baixos na audiência, ela continuava subestimada e houve quem apostasse que a decadência total viria na esteira do boom dos serviços de streaming, com suas inúmeras opções de programação disponível a qualquer hora, incluindo um cardápio diversificado de realitys shows.

A edição de número 19 chegou a ser classificada como a mais fracassada de todos os tempos. Veja só como o jogo virou: o BBB deu uma inesperada volta por cima em 2020 com uma ousada proposta, que teve o nítido intuito de reinventar a atração e adaptá-la ao público mais jovem.

Com a sagacidade de quem testemunhou por muitos anos a interferência do contexto político e social na construção de heróis e vilões em edições passadas, o criador do programa, o Big Boss Boninho, escalou acertadamente um elenco misto de participantes anônimos do público e celebridades – a maioria conhecida apenas na internet.

Repare que a aposta do Boninho era arriscada, porém, muito inteligente. Em meio a um contexto nada favorável, no qual o espectador cada vez mais tende a dividir a atenção da tv com o celular, o BBB foi buscar o sucesso na conjunção do melhor desses dois mundos.

A estratégia, no início, foi criticada por supostamente favorecer, num jogo que vale R$ 1,5 milhão, personalidades que já tinham uma legião de fãs e seguidores antes de entrar na casa mais vigiada do Brasil. Nas primeiras semanas de exibição, já era possível constatar o contrário. As celebridades estavam em clara desvantagem por terem muito mais a perder do que a ganhar com o excesso de exposição.

A consequência disso foi que o “fogo no parquinho” do reality show se estendeu à realidade paralela de influenciadores digitais e youtubers, que estão a cada dia que passa mais e mais envolvidos e interessados no desfecho dos acontecimentos de seus pares dentro da casa. O posicionamento dos famosos na internet move torcidas e direciona votos, tudo isso, de maneira orgânica.

Por isso e depois de uma sequência de eventos que expuseram atitudes machistas, misóginas e práticas de assédio dentro da casa – que não por acaso vieram à tona com mais força por conta deste elenco específico de participantes, o BBB voltou a mobilizar espectadores de todo o país, a dominar o noticiário de celebridades e a pautar calorosos debates nas redes sociais, nos almoços de família e nas rodinhas de amigos.

Quem sai ganhando nessa dinâmica orquestrada por Boninho é, sem dúvidas, a própria Rede Globo, que resgatou a audiência e voltou a faturar alto com merchandising, ao mesmo tempo em que retomou o domínio da narrativa popular no nível de suas novelas de maior sucesso.

Trama articulada

A trama real vivida pelos participantes de tão maniqueísta, em muitos momentos, faz parecer que eles interpretam personagens. Sempre foi assim em alguma medida no BBB. Tudo isso associado à dinâmica da sociedade em cada temporada. Desta vez, o enredo culminou num embate interessante de mulheres x homens, que não à toa reflete a ascensão atual das pautas sociais de gênero.

Minha teoria é de que a escalação dos participantes já intencionava a criação desse tipo de conflito. A explicação está no perfil da audiência do BBB. A maioria é formada por mulheres, da classe C, de 25 a 35 anos. Coincidentemente, esse também é o público que mais segue influenciadores digitais e mais consome produtos apresentados por celebridades da internet.

Ao mexer com umas, o BBB mexeu diretamente com todas as mulheres, até aquelas que não assistiam a atração e decidiram se engajar na causa das participantes. O girl power e a postura feminista das “sisters” tem inspirado e também ensinado muito sobre machismo e violência de gênero. Por outro lado, é triste constatar que a mídia se apropriou de uma pauta social tão importante com fins obviamente comerciais.

Ingenuidade é pensar que um reality tão rentável para a maior emissora de televisão do país se permitiria ser apenas um retrato casualístico das tendências de pensamento moral da sociedade. Na verdade, o BBB busca direcionar mais uma vez os debates para conquistar e mobilizar a audiência, comprovando que o jogo ainda tem fôlego para muitas próximas edições.

Bianca Nascimento

Filha dos anos 80, a Não Traumatizada, Mãe de Plantas, Rainha de Memes, Rainha dos Gifs e dos Primeiros Funks Melody, Quebradora de Correntes da Internet, Senhora dos Sete Chopes, Khaleesi das Leituras Incompletas, a Primeira de Seu Nome.

2 comentários sobre “Entenda como o BBB20 ressuscitou a audiência do reality show mais duradouro da TV brasileira

  1. este programa já deveria ter acabado a muito tempo. A mensagem lá dentro é só fofoca e briga para poder eliminar, não traz mensagem positiva em nada, tem gente que gosta eu respeito seu gosto.

    Em vez de BBB, a emissora deveria investir pesado em series como Segunda Chamada, Sob Pressão, Assédio, etc.

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