Crítica | Jojo Rabbit

Crítica | Jojo Rabbit

Inspirado no romance escrito por Christine Leunes (Caging Skies), Jojo Rabbit é uma sátira anti-ódio sobre uma criança que tem o mundo virado de cabeça para baixo ao descobrir que a mãe abriga uma garota judia. O filme foi dirigido por Taika Waititi e estrelado por Roman Griffin Davis, Scarlett Johansson e Thomasin McKenzie.

Jojo Rabbit recebeu seis indicações para o Oscar e tem chamado a atenção por sua narrativa inusitada ao falar sobre uma época e uma ideologia retratada como um dos piores períodos da humanidade. Normalmente as histórias sobre o nazismo na Segunda Guerra tem uma perspectiva de quem está buscando sobreviver de alguma maneira: Batalhando, fugindo, sendo parte da resistência ou sobrevivendo. 

Em Jojo Rabbit, Waititi reinventa a forma de contar uma história densa usando os elementos da sátira. Apesar do aspecto cômico que se estabelece em boa parte do filme, a sátira se encaixa perfeitamente para retratar um período com ideias absurdas e que retorna a se comunicar com a nossa sociedade. O objetivo é um só: fazer um manifesto político através da ridicularização. 

O filme nos apresenta um garoto alemão de dez anos que mora com a mãe e tem como sonho servir ao führer e apresenta uma personalidade em conflito. Apesar de abraçar a ideologia nazista e estar empolgado para participar do acampamento de verão para jovens minions, Jojo Betzler por muitas vezes vai se deparar com situações em que é obrigado a refletir se é capaz de fazer aquilo que seus superiores ordenam e recorre ao “amigo imaginário” Adolf.

Eu acho necessário colocar entre aspas porque não enxergo aquela representação idiotizada de Hitler como um amigo imaginário como ouvi de algumas pessoas, acho que aquela representação é a ideologia nazista de acordo com o imaginário do garoto. Não é uma representação paterna, não é uma companhia, é a imaginação de um herói amigável que fazia parte de uma propaganda.

Numa situação de insegurança Jojo recebe o apelido de Coelhinho, uma alusão à covardia característica do animal (quem não tem como se defender, tem que correr) e recorre ao personagem interpretado por Waititi: 

“Não se importe com o que dizem sobre você.
As pessoas faziam graça de mim e veja quem sou hoje”.

O questionamento do público é se devemos rir de algo que evoca um sentimento tão ruim, porque de fato aconteceram coisas horríveis. Talvez alguns não entendam qual a função da sátira e confundam o escárnio e a ironia como algum tipo de humanização. Pelo contrário, a sátira cria um distanciamento que é comum em uma comédia. Waititi não é o tipo de diretor que conta histórias se prendendo ao drama, seus filmes sempre abraçam o lado cômico.

Para cativar a empatia do público, Waititi explorou o que havia de melhor dos atores em linguagem corporal e expressões faciais, assim sendo, o que pudesse gerar algum conflito ideológico não causaria estrago antecipadamente. O juízo seria para entender o contexto e não uma forma de apoio ou simpatia pelo discurso.

Roman Griffin Davis no papel de Jojo veste como uma luva. O garoto tem traços faciais que presumem inocência, dá uma ideia de “pouca bagagem” e com isso o espectador se sente mais confortável em simpatizar com sua situação, mesmo nas falas fanáticas e até mesmo com seu apreço à imagem de um facínora. Da mesma forma é explorado os estereótipos alemães dos adultos.

O carisma de Sam Rockwell (Captain Klenzendorf) servindo como um oficial rebaixado por ser “incompetente e atrapalhado” (o seu tio preconceituoso no Natal que tem bom coração) que acaba trabalhando no acampamento, junto com seu auxiliar Finkel, personagem de Alfie Allen. Sem esquecer de Rebel Wilson que vou me dar o direito de não comentar.

Em contrapartida Rosie (Johansson) e Elsa (McKenzie) são opostas. Rosie tem consciência de como é seu filho e até presume que aquele garoto que ama tanto pode prejudica-la, que é mãe, tanto quanto a sua protegida que vive escondida em casa. É o lado racional, e ainda assim oprimido, de uma parte do povo que sobrevive como uma minoria. Pessoas que vivem no mesmo ambiente, mas que precisam estar em alerta para não serem prejudicadas. Em um regime, quem não se adequar vai ser eliminado.

Sabe o que eu acho?

Waititi explora exatamente a subjetividade de uma criança que não vive a infantilização e sim como colaboradora de um regime de exceção. Acredito ser uma forma de narrar mais provocativa, de fazer nossa sociedade questionar “Como é possível um povo ainda se submeter a essa ideologia?”, pois esse mesmo povo anteriormente recusou o mesmo idealista. 

Jojo Rabbit é um pouco de O Grande Ditador, de Chaplin, que faz a plateia rir das burocracias e regras que os nazistas criavam para si mesmos. Acredito sim que ridicularizar o inimigo é uma forma tão interessante de conscientizar quanto a denúncia. Não deveríamos temer esse tipo de gente e sim mostrar o quanto o comportamento de gente racista deve ser combatido e inferiorizado.


Uma frase: “Fuck off, Hitler!”

Uma cena: A cena em que Jojo é visitado pela Gestappo.

Uma curiosidade: Apesar de ser falado todo em inglês, tudo escrito e impresso em texto no filme está em alemão.


Jojo Rabbit

Direção: Taika Waititi
Roteiro:
Taika Waititi
Elenco: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Taika Waititi, Rebel Wilson, Stephen Merchant, Alfie Allen, Sam Rockwell e Scarlett Johansson
Gênero: Comédia, Drama, Guerra
Ano: 2019
Duração: 108 minutos


Junio Queiroz

Sou bonito, sou gostoso, jogo bola e danço. Psicólogo humanista. As vezes edito algum podcast da casa.

6 comentários sobre “Crítica | Jojo Rabbit

  1. Eu curti muito a mensagem de empatia que o filme passa. Incrível como foi possível fazer isso usando o tema do nazismo como pano de fundo. O carisma, a química e a atuação de Roman Griffin Davis com Scarlett Johansson é uma das coisas mais encantadoras dessa sátira. Muito boa sua crítica! Faz uma análise muito sensível da narrativa.

  2. Eu tenho sentimentos bastante conflitantes aqui, sua crítica está excelente mas eu particularmente ainda fiquei um pouco dividido com o filme.

    Talvez o problema seja particular meu, pois não me divirto ou rio com culpa de piadas envolvendo guerra.

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