Review | The Morning Show

Review | The Morning Show

O jornalismo tradicional, principalmente o televisivo, vive uma crise sem precedentes em tempos de fake news e empoderamento midiático coletivo com as redes sociais. Nos dias atuais, todos os cidadãos são “repórteres” em potencial. A Apple soube entender esse contexto ao apostar alto no tema para o carro-chefe de lançamento do serviço de streaming Apple TV+, que chegou ao Brasil em novembro de 2019.

Inspirada no livro Top of the Morning: Inside the Cutthroat World of Morning TV, de 2013, a série The Morning Show ousa ir mais longe ao inserir na trama outro assunto pertinente e ao mesmo tempo devastador e bastante incômodo para a indústria do entretenimento: o movimento Me Too contra assédio e agressão sexual.

Nomes de peso integram o elenco, como Jennifer Aniston, Reese Witherspoon e Steve Carell. Eles interpretam, respectivamente, Alex Levy, Bradley Jackson e Mitch Kessler. Três jornalistas no olho do furacão da emissora responsável pelo mais bem conceituado programa matinal de notícias dos EUA, intitulado The Morning Show.

A atração televisiva sofre um grande baque com o afastamento do âncora Mitch Kessler, após denúncias de assédio sexual praticado contra diversas mulheres da equipe do noticiário. A parceira de bancada Alex Levy, apesar de arrasada com a saída do colega, enxerga o acontecimento como uma oportunidade de obter o protagonismo almejado após ter sido, por anos, subestimada pelo alto escalão da empresa.

A partir dessa premissa, a série desenvolve personagens com maestria ao expor suas fraquezas e contradições, testando a todo tempo suas crenças e valores. Mesmo com um tom novelesco, a narrativa consegue recriar um ambiente muito realista dos bastidores de um programa tradicional de tv, geralmente pautado por relações hierárquicas tóxicas, permeadas por intrigas, desavenças e excesso de competitividade.

O clima de tensão é bem construído pelas escolhas de enquadramentos, movimentos de câmeras, cortes e trilha sonora. Tais elementos somados às atuações impecáveis de Reese Witherspoon e Steve Carell, bem como às surpreendentes entregas de Jennifer Aniston e Billy Crudup – que interpreta o diretor de jornalismo Cory Ellison – fazem com que a série seja uma das melhores realizações do streaming em 2019.

Por falar nisso, a exemplo do que as TVs tradicionais fazem com seus respectivos serviços de streaming, a Apple TV+ – que nunca foi um canal de televisão – acertou em optar por lançar os episódios semanalmente, na contramão do modelo popularizado pela Netflix que moldou toda a mudança recente de comportamento do espectador ao estimular maratonas de séries cujos episódios são incluídos todos de uma só vez no serviço.

Essa dinâmica, com certeza, contribuiu para a melhor experiência do espectador, já que diversas questões levantadas ao longo da série demandam tempo de reflexão e assimilação. O último episódio, inclusive, conclui em alto nível a história e dá um desfecho impactante, contundente e decisivo para o arco narrativo desenvolvido em 10 marcantes episódios. Ainda que encerrada a trama principal, o destino dos personagens escolhido pelos criadores da série, com certeza, abre a possibilidade de exploração das consequências dos fatos numa possível segunda temporada.



The Morning Show

Criado por: Jay Carson e Kerry Ehrin
Emissora: Apple TV+
Elenco: Jennifer Aniston, Reese Witherspoon, Billy Crudup, Steve Carell, Mark Duplass, Tom Irwin, Gugu Mbatha-Raw, Nestor Carbonell, Karen Pittman, Bel Powley e Victoria Tate
Ano: 2019

Bianca Nascimento

Filha dos anos 80, a Não Traumatizada, Mãe de Plantas, Rainha de Memes, Rainha dos Gifs e dos Primeiros Funks Melody, Quebradora de Correntes da Internet, Senhora dos Sete Chopes, Khaleesi das Leituras Incompletas, a Primeira de Seu Nome.

Um comentário em “Review | The Morning Show

  1. Assisti e achei sensacional. Gostei como todos os personagens são desenvolvidos de maneira multifacetada e como aborda o tema do assédio de forma corajosa, apresentando todos os lados da questão. Foi uma grata surpresa. E dos personagens, o que mais gostei foi o interpretado por Billy Crudup que só queria ver “fogo no parquinho”. kkk

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