Crítica | Border (Gräns)

Crítica | Border (Gräns)

Sem dúvidas o filme sueco Border é um dos mais originais, diferentes e surpreendente dos últimos anos. O diretor Ali Abbasi faz uma mistura de gêneros bastante distintos como fantasia, romance, drama, mistério e policial, fazendo com que essa peculiar combinação peculiar fique consistente.

A protagonista da história é Tina, uma mulher que trabalha como fiscal da alfândega da fronteira entre a Suécia e a Finlândia. A primeira coisa que chama a atenção nela é a sua aparência física bastante peculiar. Ela tem um dom especial: conseguir “farejar” o sentimento das pessoas, que a transforma na funcionária ideal para fiscalizar os viajantes. Dessa forma ela consegue descobrir quem está fazendo coisa errada e trazendo algo irregular na bagagem. Sua vida se transforma quando ela encontra com Vore, um homem que tem uma aparência física bastante similar a dela.

Border em inglês significa fronteira, então o fato de Tina trabalhar em uma diz muito sobre ela e sobre o filme em si. A obra de Ali Abbasi é também um estudo de personagem, mas diversas leituras podem ser interpretadas através da narrativa. O fato da protagonista ser diferente fisicamente faz com que ela seja vista com ressalvas pela sociedade. Basta que a mulher esteja fazendo algo do seu dia a dia, como ir no mercado, que tem alguém a observando com estranheza. O único local que ela se sente livre é na floresta, junto com a natureza, e não por acaso é o lugar que ela escolheu para morar: uma casa afastada de tudo no meio do mato.

A relação entre Tina e Vore é na verdade uma jornada de autodescoberta da protagonista, que após passar anos se sentindo uma estranha, pode finalmente se sentir como ela mesma. É através desse desenvolvimento que Border mistura fantasia, drama e romance, sem nunca perder o tom, mas sempre deixando claro a “estranheza” da narrativa.

O filme ainda explora outros elementos da vida de Tina, como a relação dela com o pai, com um companheiro e também como a personagem ajuda em uma investigação policial. A cada novo elemento da sua jornada o filme surpreende e inova, construindo uma história diferente e criativa.

O trabalho do elenco é excelente, principalmente da protagonista Eva Melander. Mas antes é importante falar da excepcional maquiagem de Border, que literalmente transforma os atores em outras pessoas. Eva constrói Tina muito bem, apresentando seu lado tímido e que não parece se encaixar no mundo, aos pouco se transformando no que ela realmente é. O diretor Ali Abbasi explora bem o realismo fantástico da narrativa e os atores são peças fundamentais para que isso funcione. A química entre Eva e Eero Milonoff é muito boa e a relação entre eles também é peça importante do roteiro.

Tecnicamente Border também é muito bom, a começar pela trilha sonora que explora bem o clima minimalista e surrealista da narrativa, crescendo em momentos chave da narrativa. O desenho de som também é construído de maneira eficaz, principalmente nos sons emitidos por Tina e Vore, mas também nos pequenos detalhes sonoros importantes para compor determinadas cenas. A montagem mantém um ritmo sem pressa, construindo de forma lenta e competente os elementos narrativos, apresentando os componentes da história de forma interessante e surpreendente.

Em Border o diretor Ali Abbasi mostra que é possível misturar fantasia e drama, sem deixar de ser verossímil, por mais estranha e absurda que a história possa parecer. É sempre bom ver artistas dispostos a apresentar narrativas criativas para o público, principalmente em uma obra onde é possível fazer diversas leituras por debaixo de seus elementos.


Uma frase: – Vore (para Tina): “Não há nenhum defeito em você.”

Uma cena: A cena de sexo entre Vore e Tina.

Uma curiosidade: Enquanto criava o filme Ali Abbasi foi influenciado pelo realismo mágico de vários latino americanos incluindo Gabriel Garcia Marques, Carlos Fuentes e Roberto Bolaño.


Border (Gräns)

Direção: Ali Abbasi
Roteiro:
Ali Abbasi, Isabella Eklöf e John Ajvide Lindqvist
Elenco: Eva Melander, Eero Milonoff, Jorgen Thorsson, Ann Petrén e Sten Ljunggren
Gênero: Drama, Fantasia, Romance
Ano: 2018
Duração: 108 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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