Crítica | Baseado em Fatos Raciais

Crítica | Baseado em Fatos Raciais

Maconha, baseado, bagulho, erva. São diversos os nomes e as polêmicas que envolvem o uso da Cannabis e o documentário “Baseados em Fatos Raciais (Grass is Greener)” explora a relação e o histórico da maconha nos EUA – e que não é muito diferente do que acontece ao redor do mundo – traçando paralelos com preconceitos, problemas sociais e os impactos de sua criminalização.

Mais conhecido no cenário do Hip Hop, Fab 5 Freddy faz sua estreia na direção trazendo um olhar diferenciado na história da guerra contra a maconha que, ao longo dos anos, tem tido uma visão parcialmente recheada de preconceitos. Para defender seus pontos e ideias, como qualquer documentário, Fab 5 conta com algumas celebridades e ‘experts’ sobre o assunto (como Damian Marley e Snoop Dogg) para conversar sobre a influência que a erva trouxe ao cenário musical e também na cultura pop.

Os primeiros minutos são dedicados a discutir a influência da cannabis no cenário musical americano, principalmente no Jazz. Seriam os efeitos da planta potencializadores que ajudaram grandes artistas a criar clássicos e verdadeiras obras de arte? O depoimento de alguns artistas traz informações curiosas a respeito dos grandes nomes da época do gênero musical, mas logo que se começa a conversar sobre o histórico da entrada da marijuana no país (uma alcunha que já nasce com um tom pejorativo proposital), o documentário muda um pouco de foco.

Monumento verde

Essa mudança de foco a princípio é um pouco brusca, mas logo que os paralelos entre os efeitos da criminalização do uso da maconha com a ‘devastação’ da comunidade negra (e latina) americana são apresentados é que o documentário ganha um outro contexto mais interessante. A medida que os estados americanos começaram a proibir e criminalizar a erva no país, o efeito no povo negro e pobre foi devastador. E é nesse ponto, quando se conversa sobre as leis impostas entre meados e final do século passado, que “Baseados em Fatos Raciais” faz um link com outro documentário, excelente por sinal, chamado “A 13º Emenda”.

É verdade que existe uma certa glamourização da cannabis (nenhuma erva natural pode lhe prejudicar, já diria D2), até porque o documentário tenta provar seus pontos. De fato é curioso como outros entorpecentes que possuem efeitos colaterais piores (comprovadamente) não possuíam o mesmo tratamento. E o possuíam é outro ponto interessante, porque o documentário mergulha em seu desfecho nos aspectos contraditórios em que a legalização do uso recreativo da maconha apresenta atualmente, afinal, esse ‘novo’ mercado (agora legal) está gerando milhões, mas não para aqueles que tentavam fazer o mesmo uso no início do século passado.

Ziggy Marley

Ao tentar trazer um retrato amplo sobre não apenas sobre a influência da maconha nos Estados Unidos, mas também nos impactos que a guerra contra o seu consumo e a atual ação de, aos poucos, legalizar o seu uso, “Baseado em Fatos Raciais” traz um exercício interessante e apresenta seus pontos de maneira clara, trazendo ainda de quebra um estudo forte sobre os impactos diretos que a população, principalmente negra, vem sofrendo ao longo dos anos e que parece nunca ter fim.


Uma frase: – “O uso ocasional da marijuana não causa nenhum dano físico o psicológico”

Uma cena:  Mulheres reencontram um ente querido que ficou tempo demais preso por posse de apenas um baseado.”

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Baseado em Fatos Raciais (Grass is Greener)

Direção: Fab 5 Freddy
Elenco: B-Real, Steven Hager, Damian Marley e Snoop Dogg
Gênero: Documentário
Ano: 2019
Duração: 97 min.

marciomelo

Baiano, natural de Conceição do Almeida, sou engenheiro de software em horário comercial e escritor nas horas vagas. Sobrevivi à queda de um carro em movimento, tenho o crânio fissurado por conta de uma aposta com skate e torço por um time COLOSSAL.

2 comentários sobre “Crítica | Baseado em Fatos Raciais

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