Crítica | Game of Thrones – 8×01: Winterfell

Crítica | Game of Thrones – 8×01: Winterfell

A última temporada de Game of Thrones começou de forma, digamos, um tanto quanto morna. Nem mesmo o fogo de Drogon e Rhaegal foi suficiente para esquentar o frio do inverno.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos narrados em Winterfell, o primeiro episódio da oitava temporada de Game of Thrones.

#GoT (S08E01) – Winterfell

Contudo, nada de mais natural. Trata-se de um episódio de abertura de uma última temporada que contará com apenas seis episódios e tem muitas pontas para amarrar em sua extensa lista de narrativas de personagens, antes do grande encerramento. Assim em “Winterfell” – que além do simbólico lar dos Stark e última fortaleza do Norte é o título do episódio – vemos, finalmente, os últimos herdeiros de Lorde Eddard Stark se reencontrarem: Bran, Arya, Sansa e Jon (ou deveríamos já chamá-lo de Aegon?) têm, enfim, a oportunidade de compartilharem suas experiências.

São esses compartilhamentos e as interações, tanto entre personagens principais quanto secundários, que dão o tom e o estofo da narrativa. O destaque, sem dúvida, fica por conta de Arya e de Sam Tarly. Arya, pela sua personagem que, claramente, reúne três coisas que seus outros irmãos têm em separado. Jon possui a bravura e a habilidade de combate para lutar e vencer uma batalha, Bran tem o conhecimento, Sansa o pensamento estratégico (como bem demonstrou ao, em meio a um bando de homens se preparando para a batalha, dizer a coisa mais sábia com relação a uma guerra, ou seja, que o maior destruidor de exércitos é a falta de suprimentos). Mas é Arya, em uma medida ou outra, a única que parece capaz de reunir os três atributos e, frequentemente, tem um plano. A garota pode não ter nome, mas ela certamente tem um plano e, agindo nas sombras, talvez seja uma peça mais importante do que poderiam outros antecipar no jogo dos tronos.

Com relação a Sam Tarly é a interpretação de John Bradley que rouba os corações da noite; e também nos dá provas de que a semente da cizânia pode ser plantada a partir até mesmo dos lábios mais nobres. Ao receber a notícia da própria Mãe dos Dragões de que ela executou seu pai e irmão e retirou os títulos e terras da casa Tarly, praticamente a extinguindo, a dor e desespero mal contido no olhar e expressão de Bradley, encarnando aquele que talvez seja o personagem mais puro da série, constrangem até mesmo Daenerys e seu fiel Jorah Mormont. A revelação leva o último dos Tarly a, com razão, desconfiar da Rainha – a doença da loucura e a caráter implacável são conhecidos e historicamente profundamente temidas marcas da linhagem Targaryen, afinal. E, provavelmente ciente de tudo isso, o Corvo de Três Olhos garante que seja Sam aquele a trazer a revelação mais importante da série à tona. Graças a sua dor e desconfiança, Sam Tarly, ao revelar que Jon Snow é na verdade o legítimo herdeiro do trono de ferro, e não Daenerys, faz questão de reforçar que ele seria um rei melhor. E pela execução da cena, e pelas potencialidades narrativas que isso pode representar, esse é o ponto mais alto e definidor de “Winterfell”.

Como a série basicamente se dividirá em dois núcleos narrativos – de um lado Winterfell e do outro Kingslanding – a importância desses eventos contribuem para que as ações de Cersei e seus vassalos sejam menos interessantes. Com a tensão política colocada em segundo plano pela ameaça iminente no Rei da Noite e suas tropas, Cersei perde um pouco seu espaço de manobra e consequentemente seu brilho. O cada vez menos interessante – não só pela canastrice do ator – Euron Greyjoy apenas reforça esse aspecto. Dos Greyjoy, enfim, o que chama atenção mesmo é uma fala de Yara Greyjoy que pode indicar maus presságios para Winterfell e uma importância futura não antecipada para as Ilhas de Ferro.

O que resta de interessante, ainda, é saber que Cersei definitivamente decidiu declarar Jamie, assim como Tyrion, um traidor, e enviar Bron para executá-los. Por essa eu não esperava. Isso pode interferir muito nas ações de Jamie. Finalmente livre da influência de Cersei, que tipo de homem o Regicida será? Bem, eu apostaria que alguém capaz de sempre nos surpreender, e capaz dos maiores atos de traições. E o seu encontro, Bran, nos últimos segundos do episódio, também faz um importante movimento de retorno ao princípio e talvez o gesto final de redenção que o complicado personagem sequer imagine que tanto anseia.

Embora o episódio recorra a um fan service até um tanto quanto constrangedor (o vôo conjunto entre Daenerys e Jon), isso não chega a comprometer o resultado final. Há, talvez, até uma justificativa narrativa dessa cena como um foreshadowing, um recurso para que, mais adiante, não estranhemos um eventual elo mais forte firmado entre Aegon Targaryen VI e o dragão Rhaegal, simbolicamente nomeado em nome de seu pai biológico, possivelmente explorado em batalha. Também, a sequência final, além de render um ótimo momento cômico envolvendo – o querido do público – Tormund, resgata o terror e o mistério que definem os White Walkers e estão no cerne de Game of Thrones desde o início. Observe as semelhanças entre essa cena final e uma cena similar no primeiro episódio da série. O Inverno chegou. E há muitos mistérios e o que temer acerca dele. O próximo episódio promete resgatar esse medo e nos relembrar porque Game of Thrones se tornou o maior fenômeno da cultura pop, na televisão, até hoje.



Série: Game of Thrones
Temporada:
Episódio: 01
Título: Winterfell
Roteiro: Dave Hill
Direção: David Nutter
Elenco: Peter Dinklage, Nikolaj Coster-Waldau, Lena Headey, Emilia Clarke, Kit Harington, Sophie Turner, Maisie Williams, Liam Cunningham, Carice van Houten, Nathalie Emmanuel, Alfie Allen, John Bradley, Isaac Hempstead Wright, Gwendoline Christie, Conleth Hill, Rory McCann, Jerome Flynn, Kristofer Hivju, Joe Dempsie, Jacob Anderson, Hannah Murray e Iain Glen

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

Um comentário em “Crítica | Game of Thrones – 8×01: Winterfell

  1. É isso, a série tem um caminho claro e nessa divisão dos núcleos, Kingslanding por mais que tenha Cersei tocando o terror como sempre, será basicamente “inútil” porque a galera tá descendo pra varrer Winterfell.

    Eu to num ritmo que quero apenas que termine logo a série

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *