Crítica | Suprema (On the Basis of Sex)

Crítica | Suprema (On the Basis of Sex)

A luta por direitos iguais para homens e mulheres somente obteve algumas importantes vitórias no século 20 em razão da coragem e da assertividade de muitas personalidades desbravadoras e inquietas. Uma delas foi a conceituada jurista americana Ruth Bader Ginsburg (Felicity Jones), cuja história real é contada em Suprema.

Nascida no Brooklyn, em Nova Iorque, “Kiki” – como era chamada por familiares e amigos – tinha ascendência judaica. Em 1956, já casada com Martin Ginsburg (Armie Hammer) e com uma filha de poucos meses, Ruth matriculou-se na Faculdade de Direito de Harvard, que havia passado a aceitar estudantes do sexo feminino.

O filme começa justamente nesse ponto da vida de Kiki – uma dedicada aluna de uma classe com quinhentos homens – que compartilhava com mais oito mulheres os constrangimentos e os obstáculos impostos por um ambiente majoritariamente masculino. Naquele tempo, não existia nem banheiro feminino em Harvard.

Todos os principais percalços da carreira de Ruth Ginsburg até a conquista de sua primeira vitória na Suprema Corte dos Estados Unidos estão no longa dirigido pela cineasta Mimi Leder, responsável por uma filmografia diversificada – que inclui sucessos como O Pacificador, Impacto Profundo e A Corrente do Bem. Curiosamente, a cinebiografia da jurista marca o retorno da atuação da bem sucedida diretora nos cinemas, após anos de trabalhos realizados para a televisão.

Inspiradora por si só, essa história é capaz de emocionar e propor reflexões, infelizmente, ainda urgentes e necessárias para a sociedade do século 21. Para isso, os diálogos do roteiro, a fotografia e os enquadramentos de câmera dialogam entre si, com sintonia e ritmo de forma criativa e efetiva para a trama.

A atriz britânica Felicity Jones compôs muito bem o perfil da obstinada professora e advogada defensora do avanço da igualdade de gênero e dos direitos das mulheres. Em sua jornada, a protagonista se agiganta em momentos cruciais e decisivos. A Kiki de Felicity tem a dose equilibrada de empoderamento, dramaticidade e algumas expressões pertinentes de ironia.

Como coadjuvante, Armie Hammer entrega carisma e segurança na construção do marido apaixonado, devotado e parceiro, que ainda nos dias atuais é tido como “fora dos padrões”. Ao lado de Ruth, Martin Ginsburg constituiu família, concluiu seus estudos ao mesmo tempo em que superava um câncer, e tornou-se um bem sucedido advogado tributarista.

Limite da lei

Para conseguir avançar na luta por igualdade de gênero na legislação, Ruth Ginsburg precisou traçar uma estratégia que é apresentada no filme de forma bastante didática e interessante. Em vez de reivindicar, de uma só vez, o fim de todo o tipo de discriminação, a então advogada decidiu atuar em processos específicos visando a abertura de precedentes para derrubada de lei por lei, principalmente, aquelas que também traziam prejuízo para os homens.

As sucessivas vitórias vieram após Kiki romper com diversos paradigmas de seu tempo. Por exemplo, ela foi a primeira mulher a fazer uma sustentação oral numa Corte de Apelações. Tal conduta rendeu à advogada fama e reconhecimento no meio jurídico, diante daqueles que tanto a esnobaram nos primeiros anos de carreira, por ser judia e mulher, a segunda a ocupar uma cadeira na Suprema Corte dos EUA, em 1993.


Uma frase: – “Não é um privilégio, é uma prisão. E essas leis são as grades!”

Uma cena:A sustentação oral de Ruth na Suprema Corte.

Uma curiosidade: A trilha sonora da cena de abertura, com Ruth Bader Ginsburg entrando em sua primeira aula de Direito de Harvard em meio a um mar de homens, é a mais popular canção de luta de Harvard, intitulada “Ten Thousand Men of Harvard” (Dez mil homens de Harvard), cuja letra é a seguinte:

“Dez mil homens de Harvard querem a vitória hoje
Pois eles sabem que o velho Eli
Feira de Harvard tem influência.
Então conquistaremos todos os homens do velho Eli,
E quando o jogo terminar, cantaremos de novo:
Dez mil homens de Harvard se tornaram vitoriosos hoje”.


Suprema (On the Basis of Sex)

Bianca Nascimento

Filha dos anos 80, a Não Traumatizada, Mãe de Plantas, Rainha de Memes, Rainha dos Gifs e dos Primeiros Funks Melody, Quebradora de Correntes da Internet, Senhora dos Sete Chopes, Khaleesi das Leituras Incompletas, a Primeira de Seu Nome.

Um comentário em “Crítica | Suprema (On the Basis of Sex)

  1. Assisti esse final de semana e também gostei bastante.
    Achei bem interessante a relação da protagonista com a filha adolescente.
    O filme segue um pouco a fórmula básica de cinebiografia, mas a força da história e o carisma de Felicity Jones colocam o longa em um patamar acima da média.

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