Crítica | Poderia Me Perdoar?

Crítica | Poderia Me Perdoar?

Ser escritor profissional não é nada fácil. Basta observar que aqui no Brasil, por exemplo, dificilmente pessoas ganham a vida apenas escrevendo livros, tendo que realizar outras atividades para se sustentar financeiramente. Nos EUA a situação não é muito diferente, ainda mais para as mulheres. Olhando por esse lado é compreensível a história da escritora Lee Israel, protagonista do filme “Poderia Me Perdoar?“.

Aos 50 anos de idade a escritora leva uma vida difícil e não consegue se sustentar apenas como escritora, apesar de ter tido livros na lista dos mais vendidos dos EUA. Ela escreve biografias de celebridades não tão conhecidas do grande público. Após perder um emprego ruim que ajudava a pagar as contas, a mulher encontra uma nova forma de ganhar a vida: forjar cartas falsas escritas por grandes escritores e vendê-las.

A história se passa no início dos anos 1990, ainda não existia Internet, e existia um grande mercado de colecionadores de itens desse tipo. Tudo começa quando Lee encontra uma carta real enquanto pesquisava para uma nova biografia e resolve vendê-la. Ao descobrir esse “mercado” a escritora investe nele e começa a fazer dinheiro com seu “produto”.

Ela conta também com o apoio e ajuda de Jack Hock, um escritor que também tem dificuldades para viver graças à sua profissão. Israel é uma mulher que tem dificuldade em confiar nas pessoas e a única “pessoa” em sua vida é um gato, então essa amizade é importante para ela. Além de encontrar uma maneira de viver da sua própria escrita, ela também encontra o prazer de viver através do relacionamento sincero de amizade.

A relação entre Lee e Jack, interpretados por Melissa McCarthy e Richard E. Grant respectivamente, é o melhor de “Poderia Me Perdoar?”. Os atores estão incríveis e entregam atuações formidáveis, com uma química impressionante entre si. Eles conseguem passar o sentimento de amizade que surge e mostram muito o lado humano dos personagens, assim fica fácil entender o porquê, diante das dificuldades da vida, eles viram nessa atividade “inocente” ilegal uma forma de ter uma vida digna através da profissão que escolheram.

O filme de Marielle Heller faz um trabalho muito bom de estudo de personagem e através de sua visão feminina consegue apresentar brilhantemente o drama da protagonista, captando as dificuldades das mulheres em um mundo machista como o da literatura, além de mostrar a importância de contar uma história desse tipo, inspirada em fatos reais.

Poderia Me Perdoar?” é uma cinebiografia correta, que ganha um brilho ainda maior graças às fantásticas atuações dos protagonistas e por não investir no melodrama, mas sim no lado humano dos personagens. Afinal de contas, no mundo real as pessoas têm defeitos e tomam decisões erradas, achando que estão fazendo algo certo. Nem por isso devem ser julgadas como mau-caráter ou transformadas em “vilões”. Além disso, mostra a importância de contar histórias de mulheres comuns, principalmente do ponto de vista feminino.


Uma frase: – Marjorie: “A minha sugestão é que ache outro jeito de ganhar a vida” (falando para Lee Israel)

Uma cena: Lee Israel fazendo a sua 1ª carta falsa.

Uma curiosidade: Essa é a primeira vez que a atriz Melissa McCarthy interpreta um papel inspirado em uma pessoa real.


Poderia Me Perdoar? (Can You Ever Forgive Me?)

Direção: Marielle Heller
Roteiro:
Nicole Holofcener e Jeff Whitty
Elenco: Melissa McCarthy, Dolly Wells, Jane Curtin e Richard E. Grant
Gênero: Biografia, Comédia, Crime
Ano: 2018
Duração: 107 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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