Crítica | WiFi Ralph: Quebrando a Internet

Crítica | WiFi Ralph: Quebrando a Internet

Esse texto teve a colaboração via WiFi de Bianca Nascimento

Após o grande sucesso de Detona Ralph, era de se esperar que a Disney fizesse uma sequência da animação. A surpresa é que o estúdio conseguiu superar o original com WiFi Ralph: Quebrando a Internet. O desafio de expandir o universo do personagem foi superado com maestria. Se a primeira animação se passava dentro do mundo dos games de arcades (fliperamas), nesta sequência os Ralph e Vanellope se aventuram na Internet.

Com essa premissa, WiFi Ralph conduz seus personagens e o público numa interessante, divertida e didática “viagem” pelo universo da web. A motivação é consertar o fliperama da Corrida Doce, jogo do qual Vanellope – melhor amiga de Ralph é personagem. Para isso, os dois precisam de um novo volante para o arcade. O único existente está disponível no eBay, famoso site de leilões virtuais. Assim que a loja de Litwak se conecta, pela primeira vez, à rede mundial de computadores, Ralph e Vanellope adentram, escondidos, no WiFi e dessa forma chegam à Internet.

Obviamente, os personagens encontram obstáculos na missão. Ralph e Vanellope divertem o público com a inocência e o desconhecimento de símbolos e referências tão comuns da Internet. Eles precisam arrumar uma forma de ganhar dinheiro suficiente para comprar o volante, o que garante boa parte da aventura da animação. São usados conceitos de games – tema principal do primeiro filme. Desta vez, os personagens vão em busca de itens raros, para vender, de um jogo chamado Corrida do Caos. Eles também adentram no mundo dos memes, uma das mais atuais febres da Internet, quando tentam fazer vídeos virais para ganhar dinheiro com curtidas.

A aventura principal dos protagonistas, com todos esses percalços e descobertas, acaba se tornando uma jornada de autoconhecimento e amadurecimento. Os novos personagens assumem importantes papéis, que também fazem referências a elementos da Internet. Os destaques ficam por conta de Yesss (Taraji P. Henson), um algoritmo que ajuda os protagonistas a criar um “hype” em cima de seus vídeos, e J.P. Spamley (Bill Hader), que como o próprio nome diz, é uma espécie de spam que tenta fazer com que a pessoa clique em seu anúncio – ou usando um termo “técnico”, um clickbait. Já Shank (Gal Gadot) rouba a cena. Ela é protagonista do jogo Corrida do Caos e conquista a simpatia de Vanellope.

Apesar da expansão do universo, a sequência de Detona Ralph continua com o foco no desenvolvimento da amizade entre Vanellope e Ralph. Inclusive, é interessante notar como a animação toca sutilmente em um assunto delicado e pertinente: os danos causados por relacionamentos abusivos. Apesar de serem personagens de games, os protagonistas são tão humanizados e exaltados por virtudes e defeitos que facilmente criam identificação com o público, seja ele adulto ou infantil. Não tem como não se emocionar e se importar com o destino deles, torcendo para que, no final, apesar dos erros cometidos, tudo acabe bem.

Internet conceito

Sem dúvidas, o que mais chama a atenção na animação é a forma como o design de produção concretizou o mundo virtual da Internet ao criar cenários verossímeis e coerentes para estabelecimento e adequação dos personagens do primeiro filme. A criatividade impressiona e é divertido ver alguns conceitos da rede mundial de computadores ganhar vida física. Tudo é apresentado de forma simples, didática e divertida, a exemplo dos anúncios de janelas pop-up – que surgem nos navegadores de Internet – são retratados como anunciantes que surgem inconvenientemente e gritam para o visitante, tentando chamar a sua atenção. Não faltam ainda referências a grandes sites, como o já citado eBay, mas também Google – representado como um grande edifício dentro da cidade que é a Internet -, Twitter, entre outros.

Também surpreende a evolução do visual dos personagens. É impressionante a veracidade das expressões faciais e como elas conseguem transparecer emoções reais. O elenco de vozes colabora para a coesão do trabalho artístico da animação. As atuações de John C. Reilly e Sarah Silverman são mais uma vez excelentes, adicionando ainda mais química à relação entre Ralph e Vanellope.

A trilha sonora de Henry Jackman também merece destaque por criar tons interessantes que misturam elementos de música eletrônica, para dar um toque de modernidade à Internet, com música clássica, comuns em trilhas, principalmente de animações da Disney. O músico também é inteligente em usar temas que surgem na tela, como no momento em que aparecem personagens de Star Wars, para deixar o espectador ainda mais imersivo no universo.

O ponto alto do longa é, com certeza, a cena do encontro de Vanellope com as princesas da Disney – afinal de contas, ela também é uma, de certa forma. A reunião das personagens rende piadas excelentes que satirizam o próprio conteúdo da tradicional fórmula de filmes de contos de fadas produzidos há décadas pelo estúdio. O recurso de humor referenciado somado à boa execução de elementos narrativos e técnicos consolidam WiFi Ralph:Quebrando a Internet como uma das animações mais inteligentes e criativas da Disney na atualidade.

A expansão do universo para a Internet foi um caminho natural e muito bem sucedido neste segundo filme de Ralph. Os diretores Rich Moore e Phil Johnston fizeram uma sequência que é, em alguns momentos, melhor que o original. E isso não é uma tarefa fácil de ser realizada. Portanto, a tendência natural é que a história de Ralph e seus amigos se torne uma franquia que permitirá à Disney ousar e se reinventar ainda mais nos próximos anos.


Uma frase: – Vanellope: “Ralph! Qual o seu problema?”

Uma cena: O encontro de Vanellope com as princesas da Disney.

Uma curiosidade: Os créditos finais levam em torno de 17 minutos. No entanto, existe uma cena escondida após que vale muito a pena esperar para ver.


WiFi Ralph: Quebrando a Internet (Ralph Breaks the Internet)

Direção: Rich Moore e Phil Johnston
Roteiro:
Phil Johnston e Pamela Ribon, história de Rich Moore, Phil Johnston, Jim Reardon, Pamela Ribon e Josie Trinidad
Elenco: John C. Reilly, Sarah Silverman, Gal Gadot, Taraji P. Henson, Jack McBrayer, Jane Lynch, Alan Tudyk, Alfred Molina, Bill Hader e Ed O’Neill (vozes em inglês); Tiago Abravanel, Mari Moon, Giovanna Lancellotti e Rafael Cortez (vozes em português)
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Ano: 2018
Duração: 112 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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