Crítica | O Segredo de Davi

Crítica | O Segredo de Davi

O Segredo de Davi, filme de Diego Freitas, é mais uma obra-cinematográfica brasileira que mostra o quanto o nosso cinema é diversificado em gêneros, se juntando a O Animal Coridal e As Boas Maneiras em uma nova safra de longas de terror. A trama gira em torno do protagonista Davi (Nicolas Prattes), um jovem que gosta de filmar as pessoas, mas que guarda um mistério em torno do seu passado que o atormenta até os dias atuais.

Davi é um serial killer, mas ainda não sabe disso. O filme é um estudo de personagem, onde o mistério por trás de sua infância e do seu passado são os motivos que levam o protagonista a matar pessoas. Essa abordagem psicológica é bem explorada pelo roteiro escrito pelo diretor Diego Freitas. Digamos que essa seja a forma de Davi lidar com esse trauma e tentar de alguma forma resolver essas questões.

Durante o filme, vemos alguns flashbacks de sua infância e aos poucos o roteiro dá as respostas necessárias para entendermos o segredo de Davi do título. Mas, o mais interessante é que o diretor Diego Freitas constrói a jornada do personagem. Todos os elementos visuais dizem alguma coisa sobre ele e o longa os explora acertadamente.

O jovem inicialmente parece uma pessoa frágil, de fala baixa e sutil, sempre usando roupas de tons claros, principalmente o branco, simbolizando sua inocência. No entanto, isso é apenas a superfície. Quando um colega de sala de aula – ele é estudante de cinema – o aborda para questionar seu jeito meio “gay”, a raiva de Davi transparece. Essa dualidade do protagonista é abordada durante toda a história e a maneira como o diretor a explora visualmente é fascinante. Um bom exemplo é o uso de closes no rosto do ator Nicolas Prattes, cuja metade é preenchida pela cor vermelha, simbolizando o perigo, enquanto a outra é clara, deixando bem marcante a sua ambiguidade.

A direção de arte também explora com qualidade a personalidade de Davi, fazendo contraste com as roupas usadas pelo personagem. Se, no início, o protagonista usa roupas claras, quando chega em casa tudo é escuro, com luzes vermelhas mostrando seu lado mais “sombrio”. Quando a personalidade dele muda, isso se inverte.

A trilha sonora é eficaz em produzir o clima de tensão e mistério em torno do protagonista, explorando momentos de silêncio, depois quebrando-os no momento certo para reproduzir a mudança de comportamento repentina do personagem.

Nicolas Prattes também está muito bem e seguro no papel de protagonista da trama, o que se deve em grande parte ao seu carisma. O ator constrói o personagem de maneira verossímil, explorando as duas faces de Davi e apresentando de forma eficaz a transformação dele durante a narrativa. Os momentos mais interessantes ocorrem quando ele divide a cena com André Hendges, que interpreta Jônatas, uma das pessoas que Davi gosta de observar sem que ela saiba. O homem o aborda e a partir daí surge uma amizade entre eles. Através dela, Davi mostra o seu lado “frágil”, como se pudesse finalmente ser ele mesmo, inclusive explorando sua própria sexualidade, mas ao mesmo tempo é quando ele fica mais vulnerável.

O filme de Diego Freitas explora satisfatoriamente essa jornada de Davi em busca da autodescoberta e de como ele lida com o próprio passado através dos assassinatos. O fato do personagem ser estudante de cinema e gostar de filmar as pessoas sem que elas saibam contribui para um clima de metalinguagem da narrativa. Enquanto isso o espectador “viaja” junto com o protagonista para tentar entendê-lo e descobrir o seu segredo.


Uma frase: – Davi: “Essa é a dona Maria. Há um ano que me mudei pra cá e ela não faz outra coisa a não ser ficar olhando para aquela janela. Algo me diz para tentar contato.”

Uma cena: A visita de Davi a vizinha dona Maria que ele observava pela janela do seu apartamento.

Uma curiosidade: O ator Nicolas Prattes, escolhido para viver um serial killer no filme, nunca havia trabalhado com cinema e foi escolhido a dedo pela produção após sua participação na novela Rock Story.


O Segredo de Davi

Direção: Diego Freitas
Roteiro:
Diego Freitas
Elenco: Nicolas Prattes, Neusa Maria Faro, André Hendges, Eucir de Souza, João Côrtes, Guilia Ouro e Bianca Müller
Gênero: Crime, Horror, Mistério
Ano: 2018
Duração: 112 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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