Crítica | Uma Quase Dupla

Crítica | Uma Quase Dupla

Filme sobre duplas de policiais diferentes e que não se entendem inicialmente é praticamente um gênero do cinema americano. Um dos melhores exemplos é Máquina Mortífera, estrelado por Mel Gibson e Danny Glover, que equilibra muito bem policial com comédia. Esse gênero nunca foi explorado no cinema brasileiro e também não é comum que um dos integrantes da dupla protagonista seja mulher. Enxergando por esse lado, Uma Quase Dupla é uma idéia muito interessante ao colocar Cauã Reymond e Tatá Werneck para estrelar uma paródia desse estilo de filme.

O diretor Marcus Baldini, de Bruna Surfistinha e Os Homens São de Marte … e É Pra Lá que Eu Vou, fez uma ótima escolha dos seus protagonistas. Cauã Reymond é o típico galã de novela, mas foi selecionado para um papel cômico e de um personagem mais “frágil”. Já Tatá Werneck é conhecida por seu trabalho na comédia, mas interpreta uma policial durona que é convocada para ir a uma cidade do interior ajudar a solucionar um caso.

O roteiro tem uma boa premissa e adiciona outros elementos clássicos de filmes policiais, como um caso de um serial killer. A diferença entre os mundos dos protagonistas também é bem explorada inicialmente e o choque entre eles é natural. O cenário, a cidade de Joinlândia, é apresentada como o clichê de um município do interior, isto é, um lugar pacato onde todos se conhecem e nenhum crime acontece. Um assassinato mexe com a rotina do lugar e aparentemente ninguém que mora lá tem o perfil de assassino.

A trilha sonora ajuda a criar o clima de filme policial, mas também tem uma escolha peculiar de canções para lembrar o espectador que na verdade ele está assistindo uma comédia. A melhor referência é a música Shimbalaiê de Maria Gadú, sempre citada por um dos protagonistas, mas também temos espaço para uma ótima versão em português de Take my breath away feita por As Marcianas, dupla sertaneja feminina dos anos 80.

Uma Quase Dupla, foto

Reymond é o grande destaque do filme e ele surpreende na construção do seu personagem. Claudio poderia facilmente cair no caricato, mas o ator equilibra bem sua atuação para que ele pareça verossímil, por mais absurdo que seja.

O elenco secundário também está bem, garantindo boas risadas, com destaques para Daniel Furlan – que sempre rouba a cena quando aparece -, e as participações de Louise Cardoso e Ary França.

No entanto, o grande problema do filme se chama Tatá Werneck. Ela é uma ótima comediante, mas em Uma Quase Dupla exagera demais nos seus trejeitos. A atriz não consegue transformar a policial Keyla em um personagem, parece mais uma alter-ego da própria Werneck. Ela utiliza todos os seus recursos cômicos, conhecidos de outros personagens e também de apresentadora, e isso atrapalha bastante. A protagonista se transforma em uma figura forçada, que não funciona nem no humor e muito menos como uma policial durona capaz de resolver o caso.

Infelizmente a boa premissa de Uma Quase Dupla não se sustenta durante a projeção. Mesmo com um roteiro correto, utilizando bem os clichês de filmes de duplas policiais, e um elenco engraçado, o exagero de Tatá Werneck estraga o resultado final. Sua atuação caricata compromete a personagem e o longa, estragando boa parte das piadas. Uma pena.


Uma frase: – Dado: “Tocar violão não é trabalho não, hippie. Vai capinar um terreno.”

Uma cena: Quando o policial Claudio entra em na viatura e convoca no rádio todas as unidades a seguirem para a cena de um crime.

Uma curiosidade: O roteiro do filme contou com a colaboração dos atores Tatá Werneck e Daniel Furlan.


Uma Quase Dupla, cartazUma Quase Dupla

Direção: Marcus Baldini
Roteiro:
Leandro Muniz
Elenco: Cauã Reymond, Tatá Werneck, Louise Cardoso, Daniel Furlan, Ary França, Alejandro Claveaux, Gabriel Godoy e Caito Mainier
Gênero: Comédia
Ano: 2018
Duração: 90 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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