Crítica | Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos

Crítica | Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos

Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos explora um tema interessante ao apresentar a história de um homem deficiente visual que tem a oportunidade de escolher voltar a enxergar, mas não tem certeza de que é isso que ele quer em sua vida. Vitório (Edson Celulari) é cego de nascença, então já está acostumado em viver dessa forma e acha que não tem mais idade para aprender uma nova realidade. Inicialmente isso pode parecer um choque para quem está assistindo o filme e sabe da importância da visão em sua própria vida, mas o diretor Paulo Nascimento apresenta bem sua história e seu protagonista, então depois de um tempo entendemos o motivo da relutância do personagem.

Porém, com o desenrolar da narrativa, o roteiro – escrito pelo próprio Nascimento – não consegue desenvolver bem os seus personagens. Vitório trabalha em uma pizzaria simples no bairro do Bixiga em São Paulo, e é casado com Clarice (Soledad Villamil, de O Segredo dos Teus Olhos), uma mulher de origem rica cuja o pai nunca se conformou com o fato da filha ter se casado com um homem cego e humilde. Parte dela o pedido para que o marido considere realizar a operação experimental para voltar a enxergar, mas ela, assim com o público inicialmente, não entende o motivo dele não estar interessado.

Contudo, a história não consegue apresentar de maneira satisfatória a relação dos dois, ou o motivo deles estarem juntos apesar de terem realidades diferentes. A personagem da filha poderia ajudar a entender melhor o núcleo familiar, no entanto a presença dela somente serve para criar clichês de problemas entre eles, sem acrescentar muito ao desenvolvimento dos personagens.

Na pizzaria Vitório trabalha com Cleomar (Leonardo Machado), um garçom que na verdade é uma mistura de melhor amigo e ajudante do protagonista. Esse é o único “núcleo familiar” que funciona na narrativa, já que a relação dos dois tem momentos interessantes, e Cleomar parece ser o único a entender o motivo de seu chefe não querer voltar a enxergar.

Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos, foto

A trama demora em ser desenvolvida, porém apresenta de forma abrupta a motivação que leva Vitório a resolver encarar a cirurgia: um assalto onde os bandidos exploram o fato do homem ser deficiente visual. Para piorar, assim que volta a enxergar, o filme se perde totalmente em mostrar com a visão incomoda o protagonista. Isso é potencializado pela atuação irregular de Edson Celulari que exagera nos maneirismos do personagem. Cada vez que ele abre os olhos e tentar ver algo, faz umas caras muito caricatas, isso sem falar da utilização de um som para realçar a sensação de desconforto, mas que serve apenas para irritar o espectador.

Apesar da sutileza inicial na sua narrativa e um ritmo lento, isso não resulta em um aprofundamento dos personagens. Dessa forma fica difícil para o público criar uma empatia com o protagonista, ainda mais com uma atuação totalmente sem carisma de Edson Celulari. Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos tem uma boa premissa e é bem intencionado, pena que não consegue alcançar de maneira satisfatória os seus objetivos.


Uma frase: – Vitório: “A minha bengala me leva para onde eu quiser.”

Uma cena: Após a cirurgia, o momento que Vitório abre os olhos e encontra sua esposa Clarice.

Uma curiosidade: Para executar suas falas no filme, a atriz Soledad Villamil teve que aprender português, fazendo ensaios durante três meses, além de aulas via Skype de um professor de idiomas e especialista em fonoaudiologia.


Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos, cartazTeu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos

Direção: Paulo Nascimento
Roteiro:
Paulo Nascimento
Elenco: Edson Celulari, Giovana Echeverria, José Vitor Castiel, Soledad Villamil, Leonardo Machado, Thalles Cabral, Roberto Birindelli e Héctor Bidonde
Gênero: Drama
Ano: 2018
Duração: 96 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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