Crítica | Círculo de Fogo: A Revolta (Pacific Rim: Uprising)

Crítica | Círculo de Fogo: A Revolta (Pacific Rim: Uprising)

É bom estar de volta ao universo de Círculo de Fogo, mas é uma pena que seu criador Guillermo del Toro não está mais no comando, ficando apenas como um dos produtores. Em seu lugar na direção temos Steven S. DeKnight estreando no cinema, conhecido por trabalho na televisão em séries como Spartacus e Demolidor. O cineasta teve uma missão complicada em apresentar novas batalhas entre kaijus (monstros) e jaegers (robôs) que ao mesmo tempo mantivesse o estilo do primeiro filme e apresentasse novos elementos.

Círculo de Fogo: A Revolta” se passa 10 anos após os eventos do primeiro filme, onde a batalha contra os kaijus foi vencida. Dessa vez somos apresentados a novos personagens. O principal deles é Jake (John Boyega), filho de Stacker Pentecost, que ganha a vida vendendo peças de jaegers no mercado negro. Ele entra em conflito com Amara Namani (Cailee Spaeny), uma garota que montou seu próprio jaeger, por causa dessas peças. Os dois tem o lado rebelde em comum e ambos ganham uma segunda chance com uma oportunidade de trabalho na PPDC, comando militar responsável pelos jaegers.

O roteiro não precisa mais apresentar a mitologia dos kaijus e jaegers, mas ainda assim é necessário apresentar os novos robôs. Dessa forma, é curiosa uma cena na qual Amara vai citando o nome de cada um deles à medida que vão aparecendo na tela, de forma totalmente expositiva. Felizmente isso não chega a atrapalhar a narrativa. Os personagens são construídos de forma competente, ainda que o filme explore alguns clichês. A história é bem eficiente em justificar as cenas de ação e fazer com que o público se importe com os principais envolvidos. Além disso, apresenta umas boas surpresas na forma como os conflitos são apresentados e resolvidos.

Temos também a volta de alguns personagens do primeiro filme como Mako Mori (Rinko Kikuchi) que é irmã de Jake, e os cientistas Dr. Newt Geiszler (Charlie Day) e Dr. Hermann Gottlieb (Burn Gorman), dessa vez mais sérios. Eles funcionam como uma boa forma de se conectar com o longa anterior. Mas são os novos que se destacam mais. Além dos já citados, temos também Nate Lambert (Scott Eastwood), que faz parte da PPDC como piloto de jaeger e também como instrutor, e Liwen Shao (Jing Tian), uma cientista chinesa dona de uma grande empresa de tecnologia na qual Newt trabalha. A moça é responsável pela criação de jaegers drones que podem ser controlados à distância.

O conflito surge com a aparição de um jaeger “pirata” de origem desconhecida. Isso é apenas o início de um plano para encontrar uma forma de trazer os kaijus de volta à Terra. Mas quem será o responsável por isso?

Uma das primeiras coisas que chama a atenção no filme é que a maioria das cenas que apresentam os jaegers em ação ocorrem durante o dia. O longa anterior de del Toro tinha um clima mais sombrio com os eventos sempre acontecendo à noite. Fica claro que DeKnight quer apresentar um diferencial no seu trabalho, entretanto isso trás problemas e qualidades. A principal complicação são os efeitos visuais, já que a claridade deixa os defeitos mais em vista. Nesse quesito a obra-cinematográfica se sai bem, ainda que a sensação que os jaegers são mais artificiais pareça maior. O lado positivo é que os movimentos das batalhas ficam mais claros e fáceis de acompanhar.

O trabalho da montagem de Dylan Highsmith e Zach Staenberg também é importante nesse quesito, assim como na construção da lógica visual do filme. Os jaegers são controlados por seres humanos dentro das máquinas, então é interessante como a montagem apresenta o movimento dos personagens na parte interior e em seguida mostra a resposta do jaeger do lado de fora. Isso foi feito no primeiro longa e o diretor fez bem em manter esse recurso.

Como as cenas se passam em ambientes claros, o diretor também adotou um bom recurso visual com o design de produção dos jaegers. Cada um deles tem uma cor forte, como vermelho e amarelo, facilitando a identificação e os destacando nas batalhas. Ficou também uma homenagem aos tokusatsus como Changeman. Mas em outros pequenos detalhes esse recurso também é bem utilizado, como na primeira vez que vemos Liwen Shao e ela está de roupa branca, enquanto as pessoas ao seu redor estão de preto, dando destaque a ela.

É curioso notar que assim como o elenco, a escolha dos lugares onde os eventos se passam também apresenta uma ótima diversidade. Iremos passar pela Austrália, China, e claro, no Japão, mais uma vez homenageando a cultura oriental. É muito significativo que o conflito final da história de passe em Tóquio, um lugar perfeito para uma luta entre monstros e robôs gigantes.

Na parte sonora o filme também apresenta qualidades. A trilha sonora ajuda bastante em criar o clima de urgência das batalhas e também na emoção quando algum personagem está em perigo. Os efeitos sonoros são muito bons e é possível sentir cada golpe recebido ou aplicada pelos jaegers, contribuindo para a imersão no filme.

Círculo de Fogo: A Revolta” pode não ser tão bom quanto o filme anterior, mas Steven S. DeKnight conseguiu manter o mesmo clima da mitologia apresentada por del Toro acrescentando novos elementos a ela. O principal destaque do filme é John Boyega que apresenta um carisma incrível e cria mais um personagem legal. Para quem esperava um desastre total devido a ausência do diretor original, o longa é uma agradável surpresa.


Uma frase: – Nate Lamber: “Ele é bem grande.” (se referindo ao tamanho do Kaiju)

Uma cena: A luta final em Tóquio.

Uma curiosidade: Guillermo del Toro desistiu de dirigir “Círculo de Fogo: A Revolta” para fazer “A Forma da Água“, mas ele é um dos produtores do filme.


Círculo de Fogo: A Revolta (Pacific Rim: Uprising)

Direção: Steven S. DeKnight
Roteiro:
Emily Carmichael, Kira Snyder, Steven S. DeKnight e T.S. Nowlin; história de Steven S. DeKnight e T.S. Nowlin
Elenco: John Boyega, Scott Eastwood, Jing Tian, Cailee Spaeny, Rinko Kikuchi, Burn Gorman, Adria Arjona, Zhang Jin e Charlie Day
Gênero: Ação, Aventura, Sci-Fi
Ano: 2018
Duração: 111 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

2 comentários sobre “Crítica | Círculo de Fogo: A Revolta (Pacific Rim: Uprising)

  1. Achei essa continuação muito atrás do filme anterior, ao contrário de você aqueles diálogos expositivos no início já começou me incomodando. Junte-se a isso um roteiro fraco e sequências feitas ‘miojisticamente’.

    Eu daria 2 bacons apenas pela luta final que diverte, mas é um filme quase tedioso de se assistir. Uma pena

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