Crítica | AlphaGo

Crítica | AlphaGo

Homem vs Máquina, em sua essência o documentário que chegou ao catálogo da Netflix, AlphaGo, por mais que traga essa velha sensação de “embate”, tenta ir um pouco além e explorar não só os pilares dos estudos em inteligência artificial como também tentar encontrar um pouco de humanidade em meio a um assunto tão perigoso como este. E se tem uma área que é um belo campo a ser explorado é a área de jogos. E quando se coloca a frente um poderoso algoritmo contra um jogo com mais de 3000 anos de existência, o resultado pode ser surpreendente.

Com mais possibilidades de configuração de tabuleiro do que a quantidade de átomos no universo, Go – o jogo Chinês ancestral –  foi considerado por muito tempo um dos grandes desafios para a Inteligência Artificial. Em março de 2016, uma equipe da Google chamada DeepMind desafiou o lendário campeão sul-coreano Lee Sedol em uma melhor de 5 partidas algo que pode ser considerado que pode ser considerado o Kasparov vs Máquina do nosso século.

Quando entrevistado antes do desafio que levou 7 dias, Lee Sedol estava muito confiante e seu pior prognóstico era que poderia vencer por 4 x 1. Do outro lado do embate estava um código desenvolvido por uma equipe de “mentes brilhantes” e que utilizava as mais modernas técnicas de aprendizagem em redes neurais e que poderia chegar a calcular probabilidades e cenários em uma profundidade tão grande que seria muito difícil de ser explicada ao espectador caso não tivéssemos em AlphaGo um esmero tão grande em sua parte técnica. Os efeitos visuais ajudam a compreender os tais algoritmos e a forma com que eles realizam os cálculos.

O jogo de tabuleiro Go é daqueles casos em que unem a simplicidade de ser jogado com a complexidade de se tornar um bom jogador. As possibilidades são praticamente infinitas e é algo que só se consegue chegar a maestria com anos e anos de dedicação. Por mais que seja algo calculável e possível de se gerar estudos probabilísticos e matemáticos em torno deste jogo, Go é um sucesso há mais de 3000 anos por ter um lado humano e que exige dos mais habilidosos bastante criatividade, que é algo não muito ligado às “máquinas” ou programas de computador.

Documentários existem para trazer alguma verdade, mas ainda são obras cinematográficas e, portanto, a verdade que trazem pode ser subjetivas ou até mesmo manipulados para entregar um ponto de vista mais adequado com quem o produziu. Pensar que a equipe da Google está por trás disso tudo e ver qual “verdade” tentam passar,a de que não devemos nos assustar e que estamos longe ainda da inteligência artificial se tornar um perigo para a humanidade, é ser, no mínimo, ingênuo. E é importante estar sempre atento porque muitas vezes a má fé é travestida como bondade, ou ingenuidade.

Equipe da DeepMind

O que realmente assusta é ver a quantidade de pessoas que estão torcendo pelas máquinas. Será que a literatura e os filmes já não nos advertiram o suficiente? O avanço é inevitável, mas o que preocupa é ver que as mesmas empresas que estão investindo nestes estudos (IBM, Microsoft, Google, etc) são as mesma que dizem estar começando (SÓ AGORA!) a criar regulagens éticas em cima desses estudos. Será que colocar as raposas para tomar conta do galinheiro é a melhor saída? Claro, se forem usadas para o intuito correto, pode-se ganhar muito com a inteligência artificial, mas acreditar nisso é quase utópico.

AlphaGo claramente é uma ótima obra, feita com muita qualidade e que consegue até mesmo, em determinado momento, nos tirar lágrimas e deixar uma ponta de esperança de que, por mais que os estudos em ‘machine learning’ e inteligência artificial sejam interessantes e estejam cada vez mais perigosamente avançados, existe talvez um fio de esperança nisso tudo.


Classificação: 4 Kevin Bacons

Uma cena: A jogada 37.

Uma curiosidade: A equipe DeepMind a partir dos estudos com o AlphaGo conseguiu realizar pesquisas de projetos médicos, melhorar a performance do Google Translate e, dentre outras melhorias, conseguiu ajudar a todos que usam o Google Photos a encontrar em meio a sua biblioteca a foto de seu cachorro mesmo se ele estiver no meio da neve.

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Alpha Go

AlphaGoDireção: Greg Kohs
Elenco: Lee Sedol, Demis Hassabis, David Silver, Fan Hui, Frank Lantz, Cade Metz, Martin Rees, Aja Huang, Maddy Leach, Nam Chi Hyung, Nick Bostrom, Julian Schrittwieser, George van den Driessche, Laurent Sifre, Yoo Changhyuk, Hyeyeon Cho Joseph Choi.
Gênero: Documentário
Ano: 2017
Duração: 90 minutos

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marciomelo

Baiano, natural de Conceição do Almeida, sou engenheiro de software em horário comercial e escritor nas horas vagas. Sobrevivi à queda de um carro em movimento, tenho o crânio fissurado por conta de uma aposta com skate e torço por um time COLOSSAL.

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