Crítica | Assassinato no Expresso do Oriente

Crítica | Assassinato no Expresso do Oriente

Após adaptar Shakespeare mais de uma vez, o diretor Kenneth Branagh agora adapta para o cinema uma obra de Agatha Christie – popular escritora inglesa – em “Assassinato no Expresso do Oriente“. Ele também protagoniza o longa interpretando o famoso detetive Hercule Poirot e reúne um elenco de grandes atores para estrelar a história.

Christie estabeleceu seu próprio estilo narrativo ao criar uma trama policial onde o detetive investiga um crime para encontrar quem o cometeu. Ao longo dos anos diversos de seus livros foram adaptados para o cinema e a televisão. Atualmente, o estilo criado por ela já passou por diversas mudanças e influenciou as mais diversas produções artísticas. Dessa forma, a narrativa de “Assassinato no Expresso do Oriente” não apresenta nenhuma novidade, mas Branagh tinha consciência disso e em sua adaptação para o cinema não fez nenhuma alteração drástica na história, mantendo-se fiel ao material literário. Mesmo sem o frescor de algo novo o filme tem bastante qualidade.

O grande trunfo é o já citado elenco cheio de estrelas. É tanta gente talentosa que fica até difícil citar os destaques. Os atores de qualidade fazem com que os personagens tenham ótimas caracterizações. Em um livro é possível utilizar diversas páginas apresentando os personagens, mas em um filme de duas horas é preciso ser mais econômico. Então através do visual usando o figurino e o físico dos atores é possível dinamizar essa introdução. A cena na qual Poirot caminha dentro do trem ao entrar nele pela primeira vez é muito eficiente nisso, pois durante o percurso vamos conhecendo os outros passageiros do Expresso do Oriente.

Na história, Poirot, após solucionar um caso, é chamado para resolver uma outra questão, então ele embarca no trem. Durante a viagem um dos passageiros é assassinado e um desmoronamento de neve faz com que o veículo tenha que parar. Então o detetive começa a sua investigação para tentar descobrir quem cometeu o crime. Os suspeitos são todos os passageiros que estavam no mesmo vagão que a vítima. Hercule coloca toda a sua metodologia de investigação em prática para resolver o mistério.

Esse processo investigativo é a principal diversão do filme. Poirot vai entrevistando os suspeitos e analisando as pistas. Cada um deles parece ter algo a esconder. E isso funciona mesmo para aqueles que já conhecem a trama, enquanto quem não conhece também terá o prazer de se surpreender, principalmente com a conclusão.

O interessante é como o processo é construído pelo longa através da parte técnica. O principal elemento é a fotografia de Haris Zambarloukos que utiliza muito bem a ambientação dentro do trem para criar um clima claustrofóbico. A câmera em alguns momentos é posicionada como se estivesse no teto ou então do lado de fora do veículo para que o espectador tenha uma visão melhor do ambiente, já que o espaço físico não é muito amplo. Já a trilha sonora de Patrick Doyle ajuda a criar o clima de mistério e tensão a cada novo elemento apresentado na resolução do mistério. Enquanto a montagem de Mick Audsley mantém o ritmo ágil alternando entre o interrogatório e a busca de novas pistas.

A direção de arte também apresenta muita qualidade na construção dos detalhes dentro do Expresso do Oriente como a mobília por exemplo. Os efeitos visuais também são muito eficientes, principalmente nas cenas externas, por conseguirem criar a fotografia externa de forma verossímil sem que pareçam falsas como algumas outras superproduções de Hollywood. Esse tipo de detalhe é muito importante para a imersão do espectador na história.

Entretanto, nada disso iria funcionar se o protagonista não fosse bem interpretado, então é preciso elogiar bastante Kenneth Branagh por conseguir desempenhar a função tão bem enquanto também dirigiu o filme. As nuances de Poirot e de sua metodologia investigativa são muito bem exploradas. Mas será que seu processo vai ser capaz de resolver o caso? Por não ter tido outro filme do personagem antes com ele como ator, o início da história é muito eficaz em mostrar um pouco como o processo de investigação de Hercule quando ele resolve um caso.

O roteiro de Michael Green trabalha com eficiência os personagens e mostra que a história não é simplesmente sobre quem é o assassino. A narrativa toca em outros temas interessantes apresentados no pano de fundo como o papel da mulher, racismo e o estereótipo de alguns tipos de pessoas de acordo com sua fisionomia ou país de origem. Cada um deles é mais do que fica aparente na primeira vista e impressão.

Kenneth Branagh utiliza bem a obra de Agatha Christie em “Assassinato no Expresso do Oriente“. O longa tem muita qualidade prendendo o espectador do início ao fim enquanto explora o mistério do assassinato dentro de um trem e surpreende com outros elementos, principalmente na conclusão, para mostrar que a trama não é apenas sobre uma simples resolução de um crime.


Uma frase: – Hercule Poirot: “Meu nome é Hercule Poirot, e devo ser o melhor detetive do mundo.”

Uma cena: A entrada de Hercule Poirot no Expresso do Oriente.

Uma curiosidade: Kenneth Branagh é o 15º ator a encarnar o papel do detetive Hercule Poirot nas telas. Outros que já viveram o mesmo personagem foram Austin Trevor (1931-1934), Francis L. Sullivan (1937), Heini Göbel (1955), Martin Gabel (1962), Tony Randall (1965), Horst Bollmann (1973), Albert Finney (1974), Peter Ustinov (1978 -1988), Vidas Petkevicius (1981), David Suchet (1989-2013), Anatoliy Ravikovich (1990), Alfred Molina (2001), Konstantin Raykin (2002) e Mansai Nomura (2015).


Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express)

Direção: Kenneth Branagh
Roteiro:
Michael Green
Elenco: Kenneth Branagh, Penélope Cruz, Willem Dafoe, Judi Dench, Johnny Depp, Josh Gad, Derek Jacobi, Leslie Odom Jr., Michelle Pfeiffer e Daisy Ridley
Gênero: Crime, Drama, Mistério
Ano: 2017
Duração: 121 minutos


Revisão: BK.

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

Um comentário em “Crítica | Assassinato no Expresso do Oriente

  1. Ainda não assisti a esse filme, mas gosto muito da literatura de Agatha Christie e se a adaptação mantiver o mesmo ritmo ágil da narrativa da escritora, já é um ponto positivo. Além disso, com um elenco desses, o filme se torna imperdível!

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