Crítica | Game of Thrones – 7×06: Beyond the Wall

Crítica | Game of Thrones – 7×06: Beyond the Wall

No qual, a caçada por um Wight acaba bem pior do que poderíamos imaginar

Do sexto episódio da sétima temporada resta uma amarga sensação de que algo de muito melhor poderia ter sido feito, e que George R.R. Martin de fato está fazendo falta.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos narrados em Beyond the Wall, o sexto e penúltimo episódio da sétima temporada de Game of Thrones.

#GoT (S07E06) – Beyond the Wall

Os penúltimos episódios de Game of Thrones costumam ser o ápice da narrativa desenvolvida ao longo de cada temporada. Uma pena que o diretor Alan Taylor não tenha tido competência suficiente para lidar a altura com o material em mãos.

No geral a história segue em um sentido que me agrada. É bem provável que seja bem próximo daquilo que Martin imaginara. Porém, muitas vezes – talvez até na maioria das vezes -, importa menos como a história termina do que como se chegou até o fim. Esse parece que vem sendo o principal mal que vem afligindo Game of Thrones desde que o afastamento dos livros se deu: a inabilidade de conduzir a história do ponto A ao B de forma inteligente, coerente e envolvente.

O episódio dessa noite, assim, pareceu sintetizar tudo que tem havido de errado na série desde que o material original deixou de ser referência. Havia uma boa ideia. Colocar um grupo formado pelos mais interessantes personagens combativos da série em um confronto decisivo, ainda que não definitivo, contra os grandes inimigos, os White Walkers e o Night King. E de quebra jogar alguns dragões cuspindo fogo no meio da ação.

Chego a imaginar a cena de Martin descrevendo para Weiss e Benioff a cena: “ Olha, pessoal, em determinado momento Jon e Daenerys vão se encontrar mas a relação deles começará um pouco difícil. Até que eles se unirão em combate contra os White Walkers, juntamente com outros personagens importantes como Jorah, Beric e o Cão, e com os dragões soltando fogo para todos os lados. Fogo e Gelo sabe. Bem, mas é claro que nem tudo sai perfeito na luta e um dos dragões de Daenerys acaba sendo morto pelo Night King, apenas para depois retornar como um dragão morto-vivo.”

“Uau! Que foda!”, diriam Weiss e Benioff. Eu também diria. A ideia é fantástica. A diferença, porém, é que Martin provavelmente desenvolveria toda a narrativa para chegar até aquele ponto de forma muito mais coerente e convincente. Mais ainda, ele teria desenvolvido todo o clímax de uma forma que o desfecho que ele queria fosse mais coerente. Em suma, não tomaria as diversas decisões equivocadas que foram claramente tomadas no episódio dessa noite.

Qual a necessidade, por exemplo, de Jon Snow afundar no gelo para depois ser resgatado por Tio Benjen? Ele não poderia simplesmente partir com Daenerys e os outros e ainda assim um dos dragões ser sacrificado? Aliás, por que diabos ele precisava se afastar do grupo para lutar com os mortos-vivos? Se era apenas para se criar a possibilidade de um dos dragões morrer, bem, isso poderia ter acontecido em pleno vôo, na fuga, afinal ficou bem claro que o Night King tem a capacidade de arremessar sua lança de gelo como um míssil.

E por fim, que sentido há em Tio Benjen aparecer apenas para dar um cavalo a Jon e ser em seguida destruído? Não seria mais interessante se ele seguisse com Jon Snow, ainda que não pudesse atravessar a Muralha? Enfim, o desenvolvimento do roteiro não foi dos melhores e duvido muito que teria sido a opção feita por Martin, ainda que o desfecho pudesse ser o mesmo.

A direção ruim de Alan Taylor apenas evidenciou isso ainda mais. Taylor dirigiu ótimos episódios de Game of Thrones. A batalha de Blackwater entre eles. Mas sua passagem pelo cinema na qual fez o medíocre Thor: O Mundo Sombrio e cometeu o fraco O Exterminador do Futuro: Gênesis definitivamente não lhe fez bem algum. Sua direção não empolga, as cenas de luta são mal coreografadas e a edição e desenvolvimento das sequências deixa tudo apenas mais confuso.

A todo momento não se sabe quem dos personagens está lutando com quem. Não conseguimos nos localizar na batalha e ficamos perdidos. Eu mesmo achei que Jon Snow, ou Clegane, havia sido devorado pelos mortos-vivos mais de uma vez. Mas na verdade era apenas mais um “camisa vermelha” morrendo.

Claro que há alguns pontos positivos. Os efeitos visuais, como sempre, são fantásticos. A tensão entre as irmãs Stark crescendo e a revelação de Arya para Sansa de suas habilidades foi muito interessante e pode trazer consequências ainda mais interessantes num futuro próximo.

As interações entre os membros do grupo de RPG caçador de zumbis antes do combate também foram muito divertidas. Os diálogos entre Tormund e Clegane, e entre Clegane, Beric, Thoros e Gendry foram particularmente tocantes. Já a cena entre Jon Snow e Jorah relembrando o velho Jeor Mormont poderia ter sido bem melhor. Um diretor melhor talvez tivesse tido a competência de dar a uma cena dessas a profundidade merecida.

A sensação que fica, assim, é de certa frustração. Game of Thrones estabeleceu para si um padrão de excelência no que tange a desenvolvimento de tramas e personagens. Para mim nunca foi sobre reviravoltas ou crueldade. Esses dois últimos me pareciam mais o resultado direto de uma narrativa bem construída e preocupada mais com a verossimilhança do que em colocar personagens ou situações em evidência. Nessa temporada, particularmente, isso veio progressivamente se perdendo.

É lamentável que justamente em um ponto tão importante da narrativa geral essa degradação tenha se tornado tão evidente ao ponto de comprometer o que poderia ter sido um dos melhores episódios de toda a série. A sensação de que poderia ser muito melhor é mais amarga do que a sensação de que foi ruim, afinal.

Vamos torcer que até o fim da série isso venha a se corrigir. Seria péssimo se, ao fim de Game of Thrones, por conta de um final mal conduzido, olhássemos toda a série a partir daquele ponto e a julgarmos com o mesmo tipo de amargor.


Série: Game of Thrones
Temporada: 7ª
Episódio: 06
Título: Beyond the Wall
Roteiro: David Benioff e D.B. Weiss
Direção: Alan Taylor
Elenco: Kit Harington, Peter Dinklage, Emilia ClarkeLiam CunninghamSophie TurnerAidan GillenMaisie Williams,  Rory McCannKristofer HivjuIain GlenRichard DormerPaul KayeJoe Dempsie Gwendoline Christie.
Graus de KB: 2 – Richard Dormer atuou em Sra. Henderson Apresenta (2005) ao lado de Christopher Guest, que esteve em Questão de Honra (1992) ao lado de Kevin Bacon.

 


 

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

6 comentários sobre “Crítica | Game of Thrones – 7×06: Beyond the Wall

  1. Permita-me discordar: a tensão entre Arya e Sansa foi para mim outro dos pontos negativos do episódio.
    A série veio até aqui construindo o quanto as duas amadureceram, como elas duas são hoje bem diferentes das meninas inocentes do começo da série. Muito se foi comentado sobre Sansa agora saber jogar o “jogo dos tronos”, sobre Arya ser uma badass ultra competente e inteligente.
    E no entanto as duas caem como patas sem ponderar nem por um segundo que Mindinho é, bem, Mindinho.

  2. A gente reclama, a gente encontra furos mil, a gente se impressiona com corvo teletransportando e dragão flash, mas a gente não perde não é mesmo?

    Season Finale é capaz de eu preparar até um jantar especial aqui em casa. Claro, se não vazar o episódio antes mais uma vez.

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