Crítica | O Círculo (The Circle)

Crítica | O Círculo (The Circle)

Qual o limite da privacidade na Internet? Até onde vai o limite do alcance da tecnologia em saber tudo sobre as nossas vidas enquanto entrega em troca algum tipo de serviço? A corporação O Círculo, do título do filme, é uma mistura da Apple com o Facebook e o Google que, assim como as empresas citadas, oferece serviços bastante úteis aos seus usuários, mas em troca eles perdem a privacidade já que suas vidas estão totalmente atreladas ao programa da corporação.

No filme, o diretor James Ponsoldt toca nessas questões, que são temas interessantes, atuais e importantes, mas não sabe bem o que fazer com elas. Ainda mais se pensarmos que recentemente Edward Snowden fez a denúncia de que o governo dos EUA estava espionando seus cidadãos em segredo, como foi visto no filme “Snowden: Herói ou Traidor“.

O roteiro de James Ponsoldt e Dave Eggers – autor do livro no qual a história se baseia – não tem nenhuma sutileza e os personagens mudam de comportamento e atitudes de uma hora para a outra sem muita justificativa. A protagonista, vivida por Emma Watson, não tem brilho ou carisma que faça com que o espectador se identifique com o seu drama. E olhe que isso não seria muito difícil.

A moça começa a trabalhar no Círculo e parece inicialmente estar tendo dificuldade em se adaptar ao “estilo de vida” dos funcionários da empresa. Na companhia as pessoas literalmente vivem toda a sua vida dentro do local de trabalho e tem que compartilhar tudo que faz com todos através da rede social da corporação. De repente a jovem já está totalmente adaptada e até vira a garota propaganda. Se em um momento ela é tímida, na cena seguinte ela já está à vontade em falar em público. Ou seja, o desenvolvimento da narrativa é feito às pressas, de forma superficial e abrupta.

O filme não parece estar interessado em desenvolver uma história com um mínimo de coerência. Quer apenas apresentar os fatos, personagens e seguir adiante para conseguir mostrar todos os temas que quer abordar sem, no entanto, um mínimo de desenvolvimento. Dessa forma não é apresentado espaço para que o espectador reflita sobre os assuntos apresentados. E muito menos para criar uma empatia com a protagonista. Afinal de contas, em um momento Mae (Watson) quer ficar sozinha, distante do mundo, para logo em seguida estar feliz compartilhando sua vida 24 horas através da Internet. A jovem parece se dar conta que está sendo explorada pelo Círculo, mas ao mesmo tempo quer aproveitar isso para subir na empresa, apresentando novas idéias. A coerência que falta ao roteiro também falta no comportamento da protagonista.

Outro problema é na forma como o uso da tecnologia na área da comunicação é mostrado no filme. A troca de mensagens e interações nas redes sociais, por exemplo, é apresentada na tela quase como uma poluição visual. Quando Mae está fazendo uma “live” da sua vida, aparecem diversas mensagens que a personagem recebeu. Obviamente que é impossível para o espectador conseguir ler tantas mensagens, assim como a protagonista. Se a intenção era mostrar esse “caos” da interações virtuais, esse recurso falha totalmente e mais irrita do que ilustra alguma coisa.

No final “O Círculo” parece mais interessado em mostrar algum tipo de lição de moral do que mostrar o impacto real do avanço da tecnologia na sociedade e da consequente falta de privacidade. Muita coisa que é mostrada no filme é feita pelos já citados Google, Facebook e Apple. Só que a forma que é retratada na história é muito superficial e as consequências são apresentadas de forma idiota e pouco sutil. Uma pena, já que são temas que nas mãos de desenvolvedores mais competentes seria algo melhor explorado, com um conteúdo mais interessante e relevante.


Uma frase: – Eamon Bailey: “Mae, você acha que se comporta melhor ou pior quando está sendo observada?”

Uma cena: A apresentação ao vivo do cantor Beck tocando a música “Dreams” em um evento do Círculo para os funcionários dentro das instalações da empresa.

Uma curiosidade: Bill Paxton faleceu antes do lançamento do filme em fevereiro de 2017 e foi o seu último trabalho. Glenne Headley, que interpreta sua mulher, também faleceu esse ano no dia 8 de Junho, após o lançamento do longa nos EUA em Abril de 2017.


O Círculo (The Circle)

Direção: James Ponsoldt
Roteiro: James Ponsoldt e Dave Eggers
Elenco: Emma Watson, Tom Hanks, John Boyega, Patton Oswalt, Karen Gillan, Nate Corddry, Mamoudou Athie, Ellar Coltrane, Eve Gordon, Smith Cho, Amir Talai, Poorna Jagannathan, Judy Reyes, Bill Paxton e Glenne Headly
Gênero: Drama, Sci-Fi, Thriller
Ano: 2017
Duração: 110 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

Um comentário em “Crítica | O Círculo (The Circle)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *