Crítica | Colossal

Crítica | Colossal

Colossal” é uma mistura de “filme de monstro”, comédia e um drama que aborda relacionamentos abusivos e alcoolismo. Bastante diferente, exótico, divertido e muito criativo. O diretor Nacho Vigalondo apresenta uma história inteligente, cheia de metáforas e simbolismos.

Gloria, interpretada por Anne Hathaway, descobre que o ataque de um monstro gigante ocorrido em Seul tem a ver com os problemas que ela está enfrentando. Seu namorado a coloca para fora de casa, após a moça passar 1 ano desempregada e com problemas com bebida. Sem ter para onde ir, ela retorna para sua cidade natal onde encontra um antigo colega do colégio. A mulher vai encarar seu passado em busca de um futuro, mas os reflexos dos seus problemas podem ser sentidos do outro lado do mundo.

O roteiro, escrito também por Vigalondo, mergulha bem entre os gêneros, acertando no tom, equilibrando bem entre drama e comédia. A história é construída aos poucos, a ponto de que o “absurdo” da trama faça sentido dentro da narrativa. Vigalondo utiliza simbolismos de formas bem interessantes. Por exemplo, quando a protagonista descobre que ela mesma é o monstro após uma noite de bebedeira, da qual ela acorda sem lembrar o que aconteceu no dia seguinte. A personagem se comportar exatamente como uma pessoa que bebe e, neste ponto, primeira coisa que Gloria pensa é: “será que eu matei alguém?”, representação de algo que um motorista que dirigiu após ter bebido também poderia pensar. Ou seja, o diretor mostra de maneira muito boa uma reflexão sobre as consequências de determinadas ações influenciadas pelo álcool, onde pessoas inocentes, não envolvidas na situação, podem se machucar.

A principal simbologia está por trás do monstro. A protagonista lida com seus próprios “demônios” pessoais fugindo deles, principalmente através do uso da bebida, mas terá que lidar com eles uma vez que isso se manifesta literalmente na forma de um monstro. O diretor deixa a sutileza de lado ao apresentar o problema para Gloria de forma direta, criando uma analogia visual excelente. Mas essa não será a única forma que ela terá que encarar sua situação. Oscar (Jason Sudeikis), o colega de infância, é dono de um bar e oferece um emprego no estabelecimento para ela. Dessa forma ela resolve um problema, a falta de trabalho, mas fica ainda mais distante de vencer a batalha contra o álcool. E pior, após ter conseguido escapar da dependência do ex-namorado, ela cria uma relação parecida com Oscar.

Anne Hathaway está ótima como protagonista. A atriz consegue mostrar Gloria inicialmente como uma mulher perdida na vida, mas que aos poucos tem que ir lidando com sua situação. Uma pessoa aparentemente frágil que vai ganhando força. Os tiques da personagem, como a mania de mexer no cabelo, são a deixa para ela descobrir que é o monstro. Hathaway faz isso de forma natural e quando o espectador, e a própria personagem, descobrem que a criatura faz a mesma coisa é hilário. A atriz tem muito carisma e está muito bem no papel. O arco dramático de Oscar também é interessante e Sudeikis surpreende, já que o ator é mais conhecido por seus papéis cômicos. O homem começa como alguém prestativo sempre disposto a ajudar, mas lentamente vai revelando suas reais intenções.

O filme também é muito bom tecnicamente. Os efeitos visuais são muito bem realizados e as cenas de destruição que o monstro causa em Seul tem uma qualidade muito boa. Vale destacar também a montagem de Ben Baudhuin e Luke Doolan, como na cena de Gloria no parquinho – local onde ela “vira” o monstro – enquanto ouvimos simultaneamente os sons equivalentes à destruição da cidade de Seul. A trilha sonora de Bear McCreary também ajuda bastante a criar o clima de tensão e perigo dessa cena.

Nacho Vigalondo fez de “Colossal” um filme diferente e divertido, além de uma ótima surpresa. Uma das leituras que pode ser feita em relação à história é que temos uma mulher em busca da resolução de seus problemas, em busca de independência e principalmente, fugir de relacionamento abusivos com homens. Muitas mulheres enfrentam situações parecidas no mundo real, mas talvez nenhuma delas tenha que aprender literalmente a controlar o “monstro” que tem dentro de si mesmas. E isso transforma a jornada de Gloria em algo ainda mais interessante e reflexivo, sem deixar de ser também um ótimo entretenimento.


Uma frase: – Oscar: “Não se lembra de nada?” (perguntando para Gloria)

Uma cena: Gloria no parquinho fazendo movimentos com os braços para ter certeza de que ela é mesmo o monstro.

Uma curiosidade: O filme foi processado em Maio de 2015 acusado de ter muitas similaridades com Godzilla (2014).

 


Colossal

Direção: Nacho Vigalondo
Roteiro: Nacho Vigalondo

Elenco: Anne Hathaway, Jason Sudeikis, Dan Stevens, Austin Stowell e Tim Blake Nelson
Gênero: Ação, Comédia, Sci-Fi
Ano: 2016
Duração: 110 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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