Crítica | A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell

Crítica | A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell

Após o final de A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell fica uma sensação de déjà-vu, ou seja, como se você já tivesse assistido algo parecido. Isso não é uma comparação com o anime no qual ele é adaptado, mas sim a diversos filmes de ficção científica feitos na história do cinema. Não existe problema em se referenciar a outros trabalhos do gênero, desde que seja bem feito e traga inovações. Algo parecido com o que foi feito, por exemplo, com “Matrix”. Fica difícil não ficar com a impressão de ter visto algo genérico, ou melhor, sem alma.

Em futuro próximo, Major (Scarlett Johansson) é a primeira do seu tipo: uma humana salva de um acidente que é “cyber transformada” em uma soldada perfeita e dedicada a combater os criminosos mais perigosos do mundo. Seu cérebro é salvo e transferido para um novo corpo. Daí vem a expressão “ghost in the shell” do título: ghost, ou “fantasma”, seria a alma da personagem que é transferida para um novo shell (casca) – um corpo artificial.

Lendo essa sinopse é fácil identificar a similaridade com “Robocop”. Ambos os personagens são armas construídas por uma corporação com o objetivo de combater o crime. Os personagens também são atormentados pelas memórias do seu passado, que foram apagadas para que não atrapalhassem sua nova função. Esse é só o início da sensação de já ter visto isso antes.

O visual do futuro mostrado lembra bastante “Blade Runner”, com diversas propagandas holográficas espalhadas pela cidade – que parece uma mistura entre algo oriental e ocidental. Nesse quesito, pelo menos, “A Vigilante do Amanhã” apresenta bons efeitos. Apesar da inspiração no filme do diretor Ridley Scott, mostra uma boa evolução ao retratar ambientes diurnos, que não são comuns em filmes futuristas de ficção científicas, e avanços tecnológicos menos exagerados, como não mostrar carros voadores, por exemplo. Já a trilha sonora segue um estilo muito similar ao criado pela dupla Daft Punk em “Tron: O Legado” e chega a ser irritante por ser tão parecida.

O roteiro de Jamie Moss, William Wheeler e Ehren Kruger tem dificuldade em apresentar os conceitos do filme de forma visual. Então investe em muitos diálogos expositivos, que muitas vezes explicam algo que acabou de ser mostrado em cena, ou pior, quando mostra Major narrando os seus sentimentos a algo que está acontecendo.

Dessa forma fica até complicado reclamar da atuação do elenco. Johansson é uma atriz muito carismática e talentosa, mas ela cria uma forma artificial de interpretar a protagonista, pensando em deixá-la mais “robótica”, que não funciona. Major é retratada de forma sem graça, e mais uma vez utilizando esse termo: sem alma. Falta também uma química entre ela e Pilou Asbæk, que interpreta Batou, sendo que ele faz dupla com ela em muitas cenas como parceiros no combate ao crime. Já Juliette Binoche trabalha no piloto automático e sua Dr. Ouélet, a responsável pela criação da Major, fica no clichê da cientista sem más intenções.

Agora é curioso ver Takeshi Kitano, ator japonês que vive o chefe Daisuke Aramaki, interpretando em sua língua natural com todos os outros personagens entendendo perfeitamente o que ele fala e respondendo em inglês, sem que nenhuma explicação seja dada para isso ser feito assim. Talvez uma aproximação com a cultura oriental, origem da história do filme, que parece totalmente forçada. Ou quem sabe amenizar o fato da protagonista ser interpretada por uma atriz americana, algo que gerou bastante polêmica antes do lançamento do filme.

Esse detalhe da etnia da personagem é tratada de forma absurda dentro da narrativa. Em determinado momento é revelado o passado de Major e descobrimos que ela era japonesa, inclusive chamada Motoko – nome da personagem original do anime. Ou seja, quando seu corpo foi reconstruído a Dr. Ouélet achou melhor transformá-la em Scarlett Johansson.

Tudo isso faz com que A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell seja uma adaptação sem alma. Durante todo o filme fica a dúvida entre a tradução do termo ghost, se seria “fantasma” ou simplesmente alma. Essa confusão de conceito é o principal exemplo de como essa produção estava perdida em se definir. Algo como se pegassem a alma de um filme de ficção científica e a colocassem em um novo copo, isto é, uma nova apresentação, sem saber ao certo o que estavam fazendo, resultando em algo vazio e superficial.


Uma frase: – Major: “Pode me projetar melhor na próxima vez”

Uma cena: A invasão de bandidos a um jantar tradicional japonês.

Uma curiosidade: O título do filme é baseado no termo “Ghost in the machine”, usado pela primeira vez por Arthur Koestler, em 1967. O trabalho vai de encontro ao dualismo mente-corpo descrito por René Descartes.

 


A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (Ghost in the Shell)

Direção: Rupert Sanders
Roteiro: Jamie Moss, William Wheeler e Ehren Kruger
Elenco: Scarlett Johansson, Michael Pitt, Pilou Asbæk, Chin Han, Juliette Binoche e Beat’ Takeshi Kitano
Gênero: Ação, Crime, Drama
Ano: 2017
Duração: 106 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

2 comentários sobre “Crítica | A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell

  1. Parece que esse lance de “filme sem alma” tá se tornando um consenso nas reviews do filme. Estava ligeiramente curioso, mas seu texto me deixou a certeza que talvez seja melhor esperar aparecer no barco pirata para ver em casa talvez

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