Crítica | O Shaolin do Sertão

Crítica | O Shaolin do Sertão

O Shaolin do Sertão é uma evolução natural de “Cine Holliúdy“, filme anterior do diretor Halder Gomes. Se antes o tema principal era o amor ao cinema, aqui ele é mais específico ao falar sobre a paixão pelos filmes de artes marciais.

E como seria um filme de kung fu feito no nordeste? Halder Gomes e o ator Edmilson Filho repetem a parceria e mostram como isso seria, criando uma bela homenagem ao gênero e também uma paródia bastante engraçada.

Logo no início essa homenagem já nos é apresentada: a fotografia emula a exibição de um filme em VHS com uma qualidade de imagem piorada, efeito usado ao longo do filme durante os sonhos do personagem principal Aluísio Li (Edmilson Filho).

Aluísio é um jovem do interior do Ceará fanático pela cultura chinesa do kung fu, ao ponto de se vestir como um shaolin em pleno sertão nordestino, de modo que ninguém da cidade o leva a sério, principalmente a sua própria mãe (Fafy Siqueira). Para completar, ele é apaixonado por Anésia Shirley (Bruna Hamú), a filha do seu patrão (Dedé Santana), e que namora com Armandinho (Marcos Veras).

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A oportunidade para Aluísio provar o seu valor surge quando ele descobre que Tony Tora Pleura (Fábio Goulart), um famoso lutador, irá à cidade desafiar quem quer que seja corajoso o bastante para enfrentá-lo. Contando com o apoio financeiro do prefeito da cidade (Frank Menezes), ele sai em busca de um treinador. Acaba encontrando o “Chinês” (Falcão), um golpista que se aproveita da situação. Mas conseguirá ele se tornar um shaolin mesmo assim?

A história se passa nos anos 80, época áurea do formato VHS, e um período bastante apropriado para um filme de kung fu. Só que o fato de se passar no interior do Ceará dá um charme inusitado e bem interessante ao filme; um bom exemplo são as cenas do treinamento de Aluísio Li, transcorridas na árida paisagem do nordeste. Inclusive, apesar de manter a essência cearense, aqui o diretor faz uma história um pouco mais abrangente capaz de representar bem as peculiaridades não só do estado, mas de toda a região.

O estado do Ceará é um local importante para o humor brasileiro, onde nomes como Renato Aragão, Tom Cavalcante, Tiririca e Falcão têm sua origem. Mas, apesar de ter certo espaço em programas humorísticos na televisão, no cinema essas influências ainda são pouco exploradas. Por isso, é muito bom que a dupla Gomes e Filho esteja experimentando esse tipo de humor com influência popular, mas sem seguir os padrões das comédias nacionais produzidas pela Globo Filmes.

O cinema brasileiro é bastante diversificado, mas infelizmente nem todos os filmes ganham o espaço que merecem. Por mais que seja essencialmente uma comédia, o diferencial de “O Shaolin do Sertão” é explorar o gênero sob uma nova perspectiva, já que, por mais que exista essa diversidade, filmes de luta, ainda mais de kung fu, não fazem parte da cultura dos filmes brasileiros.

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Tudo isso não quer dizer, é claro, que a película não tenha seus defeitos. Por mais que o “enfuleiramento” (roteiro) de Halder Gomes, L.G. Baião e Edmilson Filho explore bem a questão cultural e faça ótimas referências aos filmes de kung fu (tanto na história quanto na parte visual), ele ainda sofre um pouco com algumas pontas soltas na narrativa e também por estender demais determinadas cenas, como a luta final de Aluísio Li. Mas graças ao incrível talento e carisma do protagonista, esses “problemas” acabam ficando em segundo plano. Além disso, o filme consegue manter um bom ritmo na maior parte do tempo, além de entregar ótimas piadas e garantir risos durante toda a sua duração.

Agora é só aguardar a estreia de “Cine Holliúdy 2” para fechar a trilogia…


Uma frase: – Piolho: “Aluísio, ele quer te matar. Morre antes pra não dar gosto a ele”.

Uma cena: O treinamento de Aluísio Li.

Uma curiosidade: O filme estreou em 7 municípios do Ceará uma semana antes do resto do país e levou 45 mil pessoas aos cinemas, ficando em primeiro lugar no estado.

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shaolin-sertaoO Shaolin do Sertão

Direção: Halder Gomes
Roteiro: Halder Gomes, L.G. Baião, Edmilson Filho
Elenco: Edmilson Filho, Fábio Goulart, Bruna Hamú, Dedé Santana, Marcos Veras, Fafy Siqueira, Falcão e Frank Menezes
Gênero: Comédia
Ano: 2016
Duração: 100 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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