Crítica | Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016)

Crítica | Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016)

Em Esquadrão Suicida, a piada é você…

Uma boa ideia tem na simplicidade um dos principais elementos que a faz funcionar. Assim foi com o clássico Os Doze Condenados (1967). Um grupo de assassinos condenados recebia uma oportunidade de redenção em uma missão suicida na Segunda Guerra Mundial.

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Capa do primeiro número de Esquadrão Suicida de John Ostrander.

Foi essa mesma ideia que 20 anos depois inspirou o genial quadrinista John Ostrander a criar o seu Esquadrão Suicida. O nome já havia sido usado por outro grupo nos quadrinhos (esse criado por Robert Kanigher e Ross Andru, liderado por Rick Flag, Jr.), mas que não fez lá muito sucesso. Coube a Ostrander recriar o grupo com a fama e longevidade que persiste até hoje. Nos estranhamente subversivos anos 80, o Esquadrão Suicida marcava um ponto de inflexão na indústria dos quadrinhos no qual, após os heróis ganharem tons de cinza e perderem sua inocência, dava-se um passo a mais e enfim se estabelecia que o vilão poderia vir a ser o grande astro da história.

O que havia de melhor na Força Tarefa X – o nome oficial do Esquadrão Suicida – era justamente aquilo que fez dos 12 condenados um sucesso. Soltar indivíduos contra os quais normalmente se torceria contra em situações nas quais as suas singulares habilidades e morais questionáveis os capacitassem para fazer um serviço sujo que nenhum outro super-herói em são consciência seria capaz de realizar.

O fato de que o grupo era formado pela mais pura expressão da metáfora “bucha de canhão” era outro aspecto que os tornava ainda mais atraentes. Afinal, enquanto seres humanos parece que nós somos programados para torcer pelo underdog.

O filme de David Ayer (diretor e roteirista de filmes muito bons como Corações de Ferro e Marcados para Morrer) já começa errando no roteiro justamente por inserir complexidade em uma ideia que tem na simplicidade seu principal atrativo. Ayer se ocupa de explicar origens, fazer referências e se esforçar – sem sucesso algum – para criar uma empatia emocional com seus personagens.

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O Esquadrão Suicida do filme.

Ayer consegue deixar essa experiência narrativa que poderia ser apenas desnecessária ainda mais constrangedora ao optar por apresentá-la em uma espécie de colagem de videoclipes que de bom só tem mesmo as músicas. Aliás, em matéria de relacionar músicas e boa edição de cenas, todos os trailers de Esquadrão Suicida são muito mais bem sucedidos.

Curiosamente Ayer tenta fazer de um grupo, que tem justamente seu charme no fato de serem bastardos descartáveis, algo que se assemelha a um bando de deslocados incompreendidos (como se dá com os X-Men, por exemplo). Isso não é o Esquadrão Suicida, e evidentemente que essa abordagem não funciona.

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Katana. Uma boa personagem desperdiçada…

O desenvolvimento da premissa inicial também é totalmente comprometido. Se a beleza da ideia original convence pela sua obviedade (alistar supercriminosos para agir a mando do governo em uma força tarefa black ops), aqui se tenta supervalorizar a ameaça para justificar a criação do Esquadrão Suicida. E ao superdimensionar a ameaça, o filme perde completamente seu tom e sua noção de perspectiva.

O que deveria ser um grupo formado principalmente a partir de uma demanda por habilidades específicas para atuar de maneira estrategicamente cirúrgica, é reduzido, – numa evidente malfadada tentativa de equipará-los aos Guardiões da Galáxia – a um grupo de personalidade sem qualquer coesão ou personalidade.

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Guardiões Suicidas? Ou seria Esquadrão da Galáxia?

Mas os problemas de desenvolvimento não param aí. O filme simplesmente não tem um segundo ato, tropeçando  quase que diretamente da indigitada sequência ruim de videoclipes no primeiro ato, para o combate contra o “grande vilão” (para o qual não só o espectador, como todos os personagens na fita, não dão a mínima importância). Para tentar deixar as coisas um pouco mais claras, de uma hora para outra a audiência é surpreendida com o fato de que o filme simplesmente já adentrou em seu clímax.

Se é que se pode chamar isso de clímax. Afinal, poderia até ser um argumento em favor de Esquadrão Suicida cortar diretamente para a ação. Isso se a ação não fosse tão ruim. Talvez tenham sido as diversas interferências que o filme sofreu da produção para ajustá-lo mais ao que os executivos da Warner Bros. entendiam como mais atrativo ao mercado – buscando emular o tom mais “leve” de Deadpool, por exemplo -, mas o fato é que o outrora competente David Ayer erra a mão de maneira catastrófica nas cenas de ação de Esquadrão Suicida.

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Joel Kinnaman, como Rick Flagg. Um ator ruim para um personagem sem graça…

E não são apenas as cenas de ação que são ruins – filmadas em enquadramentos sem inspiração, numa montagem confusa e chata ao mesmo tempo, com uma fotografia escura associada ao um 3D caça-níquel que deixa tudo ainda mais incompreensível e desinteressante -, mas todo o desenvolvimento de Esquadrão Suicida enquanto peça cinematográfica que é desastroso.

Se Batman vs Superman padecia de um problema crônico de incoerência narrativa pelo excesso de cortes na edição, Esquadrão Suicida consegue a façanha de ser ainda pior, já que se resume a uma colagem de cena, povoada aqui e ali por diálogos terríveis, interpretações que variam de medíocres a detestáveis (não me peçam para falar da profanação que é o Coringa de Jared Leto), e personagens que quando não são absolutamente esquecidos e ficam literalmente se movendo a esmo diante da câmera, são absolutamente deslocados (lamentável o que fizeram com Katana) ou  simplesmente chatos, sem brilho, insossos e pessimamente interpretados (sim Joel Kinnaman e Cara Delevingne, eu estou olhando para vocês).

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Viola Davis como a icônica Amanda Waller.

É preciso reconhecer que Will Smith, vivendo o vilão Pistoleiro e Viola Davis, na pele da icônica Amanda Waller, se esforçam para dar o melhor de si com o pouco que lhes é entregue pelo roteiro raso e inconsistente de Ayer. O carisma de Smith e a dignidade de Davis, junto com os bons efeitos especiais e o bem resolvido design de produção e figurinos são o que separam o Esquadrão Suicida de filmes B, e da pior qualidade.

Mas é na Arlequina de Margot Robbie que o Esquadrão Suicida encontra seu maior – e talvez único – atrativo. E essa observação nem de longe deve ser compreendida em um tom sexista. A própria Robbie, em várias entrevistas, pareceu um tanto quanto constrangida com o figurino de sua personagem e preocupada em evitar que a mesma se torna-se alvo de objetificação. Felizmente Ayer tem a decência e lucidez de não usar a câmera para explorar o corpo de Robbie.

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Will Smith e Margot Robbie: boa química que não foi explorada.

Sempre que a Arlequina entra em cena o filme ganha uma certa vivacidade. Em meio a um conjunto sem brilho, ela se destaca com facilidade. Robbie, também com o pouco que lhe é dado, consegue emprestar a sua personagem uma personalidade, se não melhor, pelo menos tão ou mais interessante do que sua encarnação em outras mídias. Se não tivesse a insistente figura do Coringa de Leto a surgir e forçosamente a posicionar como um mero satélite, ela seria sem dúvida a grande estrela de Esquadrão Suicida – coisa que inclusive todo o material promocional do filme insinuou que faria. Ayer também seria mais feliz se apostasse na química entre Smith e Robbie, já provada e aprovada em Golpe Duplo, e que nesse filme é também bastante evidente. Enfim, se o filme se sustentasse mais na sua personagem, talvez fosse muito menos desastroso.

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That’s all folks!

Uma frase: Somos bandidos. É isso que fazemos.

Uma cena: o segundo trailer. o resto é desprezível.

Uma curiosidade: A melhor coisa que o filme faz, de longe, é ter a decência de homenagear John Ostrander, o criador do Esquadrão Suicida. Repare no nome do prédio federal que é onde o objetivo primário da Força Tarefa X se encontra.


Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016)

Direção e Roteiro: David Ayer
Elenco: Will Smith, Jared Leto, Margot RobbieViola Davis, Joel KinnamanJared Leto e Ben Affleck.
Gênero: Ação, Aventura, Comédia, Quadrinhos, Super-heróis
Ano: 2016
Duração: 123 min.
Graus de KB: 2 – Ben Affleck atuou em  A Grande Virada (2010) com Jeffery Kincannon que esteve em Patriots Day (2016) com Kevin Bacon.

 

 



Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

3 comentários sobre “Crítica | Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016)

  1. eu gostei, o filme é bom…pelas criticas achava que seria pior mais acabei me divertindo, Alerquina rouba todas as cenas, gostei da atuação da atriz, a Margot se entregou de cabeça na personagem, e o Pistoleiro Will Smith não fica atras mandou muito bem, as cenas com ele são muito boas também, cada um teu seu momento no filme uns mais que outros mais tiveram mesmo que pouco tempo em cena mais deram seu recado, gostei muito do el diablo ele se garantiu e merecia uma história mais aprofundada não só ele com katana também outra personagem que ficou sem muito espaço e que tinha muito mais pra mostra, mais no resultado final saí satisfeito, é um filme assistível não é tudo isso que as criticas estão falando, é diversão pura podem assistir de boa..

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