Review | Inside

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Por que você joga videogames? Certamente você terá suas razões. Porque diverte. Porque as histórias te atraem. Por esporte. O fato é que jogos eletrônicos, por serem uma mídia ativa (ao contrário de mídias passivas como cinema, literatura ou música), podem atrair diferentes pessoas por diferentes razões – e as vezes as razões totalmente opostas.

Olha, tô vendo Elvis lá embaixo!
Olha, tô vendo Elvis lá embaixo!

Eu jogo por todos os motivos aí acima e um pouco mais. Mas tem um grande amigo meu, por exemplo, que se só interessa por um jogo se o tema e ambientação atraírem ele. Esse amigo não consegue se encantar por um jogo puramente pela sua mecânica – tem que ter história, narrativa acima de tudo. The Witness, por exemplo, jamais seria interessante para ele.

Inside, do mesmo pessoal que criou o hit indie Limbo, é um jogo que não traz nenhuma mecânica inovadora. Também não tem uma história muito sofisticada. Na verdade, é até bastante aberta à interpretação. A narrativa é extremamente sutil. Certamente é um jogo para qual esse meu amigo torceria o nariz.

Pink Floyd The Wall
Pink Floyd The Wall

Porém, tem um aspecto em que ele absolutamente triunfa: sonoramente, e principalmente visualmente falando, é uma obra-prima. Posso afirmar que sem sombra de dúvidas que Inside é um dos jogos visualmente mais fascinantes que já joguei. Na vida. Não só tecnicamente falando (e tem muito méritos neste aspecto, como a forma que trabalha iluminação e partículas), mas artisticamente falando.

O game possui uma direção de fotografia que não deixa nada à dever à grandes mestres do cinema. Da mesma forma que Limbo, é um jogo bastante escuro, mas deliberadamente, para ajudar a criar o clima opressor, melancólico. O cinza é a cor abundante, que contrasta somente com a camisa vermelha do protagonista. Luz e sombras são usadas com perfeição para construir momentos e evocar sentimentos. E a física, perfeita, atribui um realismo e uma fluidez impressionantes à movimentação das pessoas e objetos. O som também não fica atrás. Há pouca música, mas os efeitos sonoros e som ambiente complementam com perfeição os visuais e reforçam mais ainda o clima de desolação que o jogo evoca.

Inside já começa com o jovem protagonista descendo por uma ribanceira apressadamente. Não há cutscenes, não há textos, somente essa animação da descida e você já está no jogo. Logo você percebe estar fugindo de algo ou alguém, mas não fica nunca bem claro o que é “isso” que te persegue. Essa sutileza narrativa permeia todo o jogo e até a última cena muito do que acontece fica totalmente aberto à interpretação. Ainda assim, o jogo consegue evocar algumas emoções, especialmente pelo clima que o visual arrebatador ajuda a criar.

Mestre na arte do slackline
Mestre na arte do slackline

Após descer a ribanceira, você continua correndo para a direita. É um jogo de plataformas, mas não é dividido em fases. Você continua simplesmente avançando, sempre no mesmo sentido, fugindo do que quer que seja, tentando chegar seja lá onde for. Você passa por florestas, uma plantação de milho, uma represa, uma criação de porcos, prédios abandonados… pega chuva, amanhece – e tudo isso de forma contínua e muito fluída. Não há quaisquer indicativos na tela, como barras de energia ou coisa do tipo. Você só tem uma vida, e cair em uma armadilha é morte imediata – e de volta ao checkpoint.

A jogabilidade também é bastante simples – você só usa dois botões além do direcional, um para pulo e outro para puxar/empurrar objetos. O jogo é permeado de puzzles que precisam ser resolvidos para prosseguir, mas são todos muito simples – só uns dois me demandaram um pouco mais de atenção, mas não precisei mais do que três minutos para resolvê-los. Essa, aliás, é a minha principal crítica ao jogo – não há desafio, é extremamente fácil. Entendo que puzzles muito frustrantes poderiam tirar o jogador da imersão, mas um pouco mais de dificuldade seria muito bem-vindo. Em alguns momentos, Inside acaba sendo quase um “walking simulator” de tão fácil, em que você só continua andando para ver como a história vai acabar. O jogo anterior da Playdead, Limbo (do qual Inside é praticamente uma sequência espiritual, já que são muito parecidos) tinha puzzles muito mais trabalhados e desafiadores.

No final das contas, Inside é uma experiência bastante única. Apesar de pecar um pouco como jogo, faltando desafio, e apesar de deixar o jogador com mais perguntas do que respostas em relação a história, é uma aventura de encher os olhos e sabe estabelecer uma atmosfera como poucos jogos já conseguiram. Recomendo. Mas não é pra todo mundo.


***Classificação***


Inside

Plataformas: Xbox One, PC.
Gênero: Plataforma, puzzle
Desenvolvedor: Playdead
Lançamento: 29 de junho de 2016 (Xbox One), 6 de julho de 2016 (PC)
Modo de jogo: 1 jogador (single player).

Dario Lima

Dario Lima, além de ser faixa branca em todas as artes marciais e modalidades de combate conhecidas pelo homem, é também formado em Cinema. Mas sua verdadeira paixão são os joguinhos eletrônicos, desde que ganhou um Atari de presente do pai em uma época longínqua em que Menudo tocava nas rádios, Chevette era carro de playboy e McGyver passava na TV nas manhãs de domingo. Escreve sobre games na POCILGA e de vez em quando perturba os outros em algum episódio do Varacast.

3 comentários sobre “Review | Inside

  1. Talvez eles tenham recebido o feedback de que Limbo “era muito difícil” e resolveram facilitar, afinal, vivemos na época que ninguém quer tanta dificuldade mais hehehe mas sou da sua escola, acho que alguns puzzles mais desafiadores sempre são bem vindos em jogos como este.

    Excelente análise. Vou esperar uma promoção e mandar descer

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